Roberta Damasceno: “Um sócio, uma organização e um marido”
Não sei viver sem criar novidades e, quando quero alguma coisa, vou ao encontro dela
Sem modismos, confortável, elegante e, como conceito, a atemporalidade. Eis a essência do que me proponho a fazer desde que comecei e abri a multimarca Dona Coisa, em 2005, e a minha marca Nº Dez, em 2015. Muito mais do que uma moda passageira, aposto num estilo de vida que proporciona bem-estar — um prazer que não tem nada de efêmero.
Comemorar essa trajetória tem gosto de desafio diante de tantas reviravoltas sociais e, como sou uma carioca inquieta, sinto vontade de continuar neste ritmo. Quando a Dona Coisa abriu, há 20 anos, tinha só um corredor onde eu vendia flores, chocolates refinados e as marcas paulistas que admirava. Nunca quis estar em shopping e já morava no Jardim Botânico. Um amigo que tinha uma floricultura neste espaço me ofereceu o ponto — uma casinha como tantas outras do bairro. Cheguei de São Paulo e, depois de trabalhar por 12 anos no mercado financeiro, como operadora de open, fui bem recebida no mercado da moda carioca. A casinha, hoje, é uma reunião de três casas, e é muito interessante a gente ser uma loja de destino e não de passagem.
Para comemorar dez anos da Dona Coisa, senti desejo de criar uma marca própria. Assim nasceu a Nº Dez, um desdobramento inevitável do que acredito que seja a roupa perfeita para quem mora na cidade, gosta de viajar e tem uma vida dinâmica.
Não sei viver sem criar novidades e, quando quero alguma coisa, vou ao encontro dela. Não consigo resistir — sempre fui assim. Por isso gosto de reunir pessoas em eventos que faço na loja. Sinto uma alegria profunda, porque a Dona Coisa e a Nº Dez são responsáveis pela construção da mulher que sou hoje. Mexeu muito com a minha autoestima e com a consciência do consumo sustentável. Busco na vida o que me dá muito prazer, e o reconhecimento profissional dentro do foco que me direciono é uma força positiva. A sensação de ter sempre um projeto que se expande, como a abertura da Nº Dez, em 23 de abril passado, em São Paulo, me mantém cheia de combustível.
Na época da inauguração da Dona Coisa, teve uma matéria afirmando que o espaço tinha tudo para dar errado: estar no Rio, ter um conceito elitista e endereço escondido. No entanto, a repercussão positiva foi imediata. As pessoas tiveram curiosidade de conhecer o lugar e, para minha sorte, em pouquíssimo tempo tive a oportunidade de alugar uma parte da casa vizinha. Depois pude alugar a parte da frente da casa e, depois, consegui alugar a terceira casa. Isso tudo foi acontecendo de forma espontânea.
A Dona Coisa já estava no meu imaginário e eu sabia como ela aconteceria. A minha ideia sempre foi ter uma loja com coisas que eu amasse — e o nome veio daí. Mas, na época, há duas décadas, era muito difícil fazer uma multimarca aqui com nomes importantes, e eu consegui. Hoje me orgulho de ter um mix diversificado de talentos de várias partes do Brasil.
A Nº Dez tem uma serenidade de formas e texturas que refletem meu gosto pessoal. A roupa fica serena no corpo. Dirijo a criação das coleções e, como me envolvo desde a compra do tecido até a peça pronta, percebo melhor a linguagem que existe na roupa. O luxo é sutil e direcionado para quem sabe perceber a diferença entre ter uma roupa, um acessório ou um objeto em que o que conta é a excelência da qualidade. Como empresária, curadora e diretora criativa, busco o que é belo, diferente e atual.
Em 2016, meu encontro com Paco Rodrigues desencadeou uma reviravolta existencial na minha vida. Ele vinha da moda e, quando a gente se conheceu, surgiu a ideia de expandir a Nº Dez. Montamos uma fábrica e eu, que agia de forma intuitiva, ganhei um sócio, uma organização profissional e um marido. Temos uma paixão em comum: pedalar. Em alguns finais de semana, pegamos a estrada com as bikes e vamos para o campo. A minha é “invocada” — quem sabe, um dia, eu consiga acompanhar o ritmo do Paco.
Roberta Damasceno é empresária, há 20 anos mantém uma loja de rua (na Lopes Quintas) e há 10, uma marca própria. Recentemente inaugurou também em São Paulo.
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