“Querem destruir o Leblon”: moradores fazem protesto contra micro aptos
Protesto com cartazes nos prédios com “Leblon pede socorro” e “Querem destruir o Leblon”, como fez o porteiro do número 85 nesta quarta



Os moradores da Rua Almirante Guilhem, no Leblon, estão fazendo um protesto e colocando cartazes nos prédios, com “Leblon pede socorro” e “Querem destruir o Leblon”, como fez o porteiro do número 85 nesta quarta (03/09).
A rua é uma das mais — como dizer? — desejadas do bairro, próxima do Colégio Santo Agostinho, da estação de metrô, do Rio Design Leblon e a poucos passos da praia e da Lagoa. A revolta se deve à especulação imobiliária. O prédio de número 115, atualmente de quatro andares, terá oito e vai virar o “Guilhem Mozak”, com vendas na planta, com apartamentos de 32 a 77 metros quadrados, opções de estúdios, apartamentos de 1 quarto e double suítes (o novo nome para quitinetes), além de loja, subsolo e um terraço coletivo, salão de festas, academia e piscina, com entrega prevista para 2028. “O projeto é um investimento com retorno garantido, inserido no novo e valorizado ponto de ‘Short Stay’ (estada rápida – repara que é tudo em inglês) do Rio, para morar ou alugar”, diz o site de uma imobiliária, com apartamentos a partir de R$ 1,7 milhão.
A revolta dos moradores é total para uma rua considerada tranquila, com vários ali desde que nasceram. “Um absurdo, são 115 mini apartamentos numa área residencial… O movimento vai ser absurso”, diz a empresária e moradora Beatriz Lundgren.
“Sou corretor de imóveis há mais de 12 anos e morador do Leblon desde criança. Justamente por conhecer de perto a história e a essência desse bairro único, sou totalmente contra a ‘selva de pedra’ que vem sendo construída em suas ruas. À primeira vista, pode parecer que os novos prédios de alto luxo trarão valorização, mas, na prática, o efeito é o contrário. O Leblon sempre foi um bairro familiar, pacato, de convivência próxima. Era comum encontrar conhecidos na padaria, nas esquinas, em restaurantes tradicionais que faziam parte da vida de todos. Essa essência está se perdendo”, diz Rafael G.N.
E continua: “Hoje vemos cada vez mais construções de apartamentos pequenos, de 40 ou 50 metros, que atraem um fluxo intenso de novos moradores, mais trânsito, mais movimentação, mais carros. Isso descaracteriza completamente a vida do bairro. Como corretor, digo que prédios antigos, com arquitetura de época, apartamentos amplos, estrutura sólida e história, continuam sendo muito mais valorizados do que esses empreendimentos modernos que já nascem sem alma. Em pouco tempo, parecem prédios velhos — basta olhar alguns exemplos na Bartolomeu Mitre e na Juquiá. O mercado imobiliário daqui não precisa de mais prédios padronizados e sem vida: precisa de respeito”.
Além do 115 — chamado “Dom Pedrito”, que deu origem à Rua Dom Pedrito (agora Almirante Guilhem) —, o prédio 234 também será o “Paradís Mozak Leblon”, com duas torres: uma mantendo a fachada art déco do ainda existente, com quatro andares e 14 apartamentos, e a outra, no mesmo terreno, com nove andares e 18 apartamentos, com metragens de 62 a 147 metros quadrados. O valor inicial é de R$ 2,5 milhões.
O que seria isso? Um padrão para a Zona Sul carioca? Você leu aqui sobre Ipanema?
A Mozak enviou uma nota à coluna: “A construtora reforça o seu compromisso com o Leblon, onde atua há anos com projetos que preservam a história e a identidade do bairro, especialmente por meio da revitalizações de imóveis, como o Cinema Leblon, o colégio São Patrício e a Rua Juquiá, que foram amplamente revitalizados, contribuindo para influenciar positivamente a região e deixando um legado para a cidade”.


