PV Dias na Casa Museu Eva Klabin: uma releitura do passado do Rio
Os trabalhos de PV Dias e Johann Jacob Steinmann propõem um diálogo entre o Rio do século XIX e no século XXI
















A fachada da Casa Museu Eva Klabin, na Lagoa, dava sinais da mostra “Rio de Janeiro: XIX-XXI”, de PV Dias e Johann Jacob Steinmann, inaugurada nesse fim de semana, que propõe um diálogo entre representações do Rio do século XIX e novas leituras da cidade no século XXI, questionando a forma como a população negra foi retratada na iconografia da época.
A mostra foi ideia da Casa Museu Ema Klabin, em São Paulo, no ano passado, e chegou ao Rio no aniversário de Eva Klabin (1903-1991), colecionadora que morou na casa por mais de 40 anos.
“Busquei trazer à tona revoluções e histórias apagadas pelas pinturas pacifistas de um Brasil escravocrata. Quando intervenho sobre essas imagens, refaço a narrativa dos negros retratados passivamente, resgatando sua luta e resistência. Pelo meu traço, desejo direcionar o pensamento do espectador às revoltas, aos quilombos e às revoluções tão presentes no passado brasileiro”, comenta PV Dias.
Para explicar a ideia em imagem, no quadro “Botar Fogo”, por exemplo, uma espécie de símbolo da mostra, feita sobre a obra de Jacob Steinmann, que retrata o atual bairro de Botafogo no século XIX, incluindo um carioca de bermuda colorida na lateral com uma das mãos na boca no ato de cochichar. Segundo a filósofa indiana Gayatri Spivak, no livro “Pode o subalterno falar?” (1988), cochichar era uma estratégia de sobrevivência de pessoas escravizadas, que encontravam formas de se comunicar e resistir ao sistema opressor. A ideia permeia as intervenções de Dias.
A curadoria é de Ana Paula Rocha, Janaína Damaceno e Paulo de Freitas Costa.