Sessões de terapia com o ChatGPT. Que tal? Psi comenta
"O mundo atual não progrediu no sentido do diálogo verdadeiro, mas para o falso diálogo, muito comum na política"

Usuários vêm publicando, nas redes sociais, sessões de terapia com o ChatGPT, ou seja, Inteligência Artificial como divã. A saúde mental está ao alcance de um toque, ou o mundo está cada vez mais cheio de loucos? Rsrsrsrs! O Brasil está em 4º lugar no ranking dos países que mais usam o ChatGPT (pra tudo), atrás apenas dos EUA, Índia e Indonésia, segundo pesquisa da Semrush, divulgada este ano. Vemos também um crescente aumento de vídeos com influenciadores conversando com os chats, como se fosse real. Que tal?
Procurado, o psicanalista Arnaldo Chuster comenta: “Como disse Shakespeare em ‘A Tempestade’: somos feitos da mesma matéria que os sonhos; o resto é sono. O que leva a conversar com uma máquina é a falta de sonhos, que, para Freud, são nossos desejos, nascidos de nossa existência, seja ela arcaica, infantil ou adulta. Os desejos são o primeiro estágio que une os seres humanos, desde os seus primórdios. Portanto, quem procura o não humano para atender a seus desejos está se desumanizando, perdendo o principal, que é a necessidade de receber de outros humanos as virtualidades para realizar e desenvolver sua própria humanidade”.
E segue: “A existência humana se dá através e por causa dos vínculos humanos. A matéria dos sonhos está sempre presente, são espaços de vida que constituem as narrativas e tramas que formam o tecido social. Quem nega isso, por razões psicopatologicas diversas, ataca a vida e ataca o tecido social, tornando-se vulnerável a uma série de problemas como psicose, crime, ataque social, desprezo pelo significado das coisas e consequentemente desprezo pela vida. Quem acha que pode ter satisfação emocional com uma máquina, ainda assim, é um desejo oculto por encontrar satisfação na alucinação, e vai precisar de cada vez mais alucinações para manter esse falso resultado, caindo nas mentiras ou nas drogas sintéticas. O mundo atual não progrediu no sentido do diálogo verdadeiro, mas para o falso diálogo, muito comum na política, onde uma pessoa busca na outra alguma fraqueza para atacar e desumanizar essa pessoa”.