Oiticica, TxaTxu e Zalis inauguram “Dichotomie”: festa brasileira na Suíça
O processo começou ainda em 2019, em Genebra, passou pela aldeia no sul da Bahia (de abril de 2021 a agosto de 2022) e foi concluído na cidade suíça





Teve festa brasileira na Suíça, nessa terça (27/05), com a inauguração da exposição “Dichotomie”, de Christina Oiticica, TxaTxu Pataxó e Sergio Zalis, na Fundação Paulo Coelho e Christina Oiticica, em Genebra, com mais de 300 pessoas.
O artista indígena TxaTxu Pataxó, 26 anos, da Aldeia Porto do Boi, perto de Caraíva, em Porto Seguro, fez sua estreia internacional e foi, digamos, o “astro” da inauguração — ele assina alguns trabalhos com Oiticica, além das fotografias de Zalis, e curadoria do baiano Marcelo Mendonça. . “É uma arte que nossos ancestrais deixaram para futuras gerações, uma arte milenar. Comecei a pintar aos 8 anos aqui na reserva Porto do Boi, inspirado pelo meu tio Chauan, que me ensinou as técnicas do grafismo. Hoje levo essa arte Pataxó para o mundo”, disse TxaTxu.
O encontro entre Oiticica e TxaTxu só aconteceu no dia da abertura — até então haviam se comunicado apenas por chamadas de vídeo.
“Eu já tinha feito um trabalho com os Katukinas, na Amazônia, em 2004, com as mulheres interferindo nos meus quadros, que enterrei na aldeia. Fiquei com vontade de fazer novamente algo ligado ao Brasil. Fiz uma pesquisa e comecei a pintar círculos, que são símbolos femininos e pinturas tribais carregadas de significados de rituais. Depois integrei animais brasileiros, como a cobra, que adoro, e outros elementos da fauna. Quando pensei em expandir essa proposta, conversei com o Marcelo e ele me apresentou o TxaTxu. Enviei as telas para ele, que fez a interferência e enterrou as obras na sua aldeia, sob uma gameleira, por um ano. Quando ele desenterrou e me enviou de volta, fiquei maravilhada ao ver as raízes da árvore marcando as telas. O trabalho estava cheio de vida. O primeiro nome que dei à exposição foi ‘Raízes’, porque é isso que ficou: as raízes da terra, da cultura e da arte”, diz Christina, uma referência em LandArt (ou arte da terra, movimento artístico das décadas 1960 e 1970) e já enterrou obras também no Japão, na Índia, no Rio e chegou a ter mais de cem trabalhos sob a terra no Caminho de Santiago de Compostela.
O processo começou ainda em 2019, em Genebra, passou pela aldeia no sul da Bahia (de abril de 2021 a agosto de 2022) e foi concluído na cidade suíça. Tudo foi registrado no curta “Raízes”, de Leonardo Barreto, mostrado nos festivais de Trancoso, em 2023, Give Peace A Screen, na Itália, e Cine 73, na Bahia, em 2024. Zalis completa a mostra com imagens da floresta, feitas na Scheveningse Bosjes (Haia, Países Baixos) e no Jardim Botânico do Rio.
“Em ‘Dichotomie’, Zalis representa a floresta como corpo físico, enquanto Oiticica e TxaTxu mostram seus habitantes simbólicos, animais e grafismos corporais que ecoam saberes ancestrais. Tudo está interligado. As obras formam um ecossistema de sentidos, onde imagem, gesto e espírito coexistem em comunhão”, explica o curador.