Odete Roitman: psiquiatra comenta a atração pelas vilãs
Todo mundo se esquece dos mocinhos; dos vilões, jamais!

As vilãs são amadas na ficção ou na vida real, pela natureza complexa e até pela identificação do público com as suas ações, mesmo quando desprezíveis. É um lado “sombrio” da natureza humana, um desejo reprimido ou simplesmente a fascinação pelo “mal” — todo mundo se esquece dos mocinhos; dos vilões, jamais. Você pensou em Odete Roitman, claro, a “vilã das vilãs”, interpretada por Débora Bloch, venerada e aprovadíssima, no remake de “Vale Tudo”.
“O gosto do público em geral revela um pouco das mudanças da sociedade em 2025. Se o tom da personagem em 1988 (Beatriz Segall) escandalizava e criava aversão, hoje, com um texto menos corrosivo e uma interpretação que transita de uma forma mais dúbia, provoca identificação e torcida. Com a linguagem das redes sociais, uma sociedade cansada de ser ‘politicamente correta’, a personagem adquire o status em algumas falas que traduzem o que as pessoas, no seu íntimo, acreditam”, diz a psiquiatra Maria Francisca Mauro.
“Na década de 80, ocorria um certo choque das pessoas e havia uma ruptura da norma, com uma personagem má e representando a vilã. Na atual versão, a vilã faz o papel de dizer a verdade, de não se omitir diante da realidade. Quando demonstra inquietação por seus filhos, no compromisso dos seus deveres, isto é apoiado pelo senso comum. Talvez, o carinho pela vilã, e não pelos ‘mocinhos’, representa que as pessoas já não estão tão tolerantes para o que parece ser — preferem algo mais genuíno, nem que isso contrarie o acordo social atual vigente. E o apoio pelos diversos memes podem ser um indicativo destes tempos atuais”.