O samba das pedrinhas portuguesas: entre o charme e o tombo
As pedrinhas portuguesas têm um lado poético, sabemos, mas os cariocas mantêm com elas uma relação de amor e ódio


Os prédios e as casas respondem pela manutenção das calçadas desde o decreto municipal de 2010 — o que inclui as de pedras portuguesas —, mas muitos parecem desconhecer essa lei. A prefeitura deveria multar com mais frequência os, digamos, infratores. Se os donos não fizerem os reparos em 30 dias, as multas variam de R$ 23,80 a R$ 595,75, conforme a gravidade do dano.
As pedrinhas portuguesas têm um lado poético, sabemos, mas os cariocas mantêm com elas uma relação de amor e ódio. Amor, pela beleza; ódio, pelo risco que oferecem quando começam a sambar nas calçadas. Nem sempre com registro, como em 2019, por exemplo, dois pianistas se acidentaram: Nelson Freire (1944–2021), que fraturou o ombro, e Miguel Proença (1939–2025), que quebrou o braço. Mas são inúmeros casos.
Calceteiro — o artista das pedrinhas — não parece ser uma profissão, como dizer?, dos sonhos. Há os formais (as últimas turmas formadas pela prefeitura foram em 2022, com 57 diplomados, e em 2023, com 44), e os informais, como Antônio Lira (na imagem), porteiro há anos na Gávea, que cuida da calçada como se fosse sua casa. Como ele, são poucos.
A Secretaria de Conservação informa que seis coordenadorias e 25 gerências fiscalizam os 166 bairros do Rio. Nas obras de concessionárias (Águas do Rio, telefonia, eletricidade e gás), são elas as responsáveis pelos reparos. Entre julho de 2023 e agosto de 2025, o 1746 — canal de atendimento da prefeitura — recebeu mais de 31 mil chamados só sobre problemas nas calçadas da cidade, com predominância (por ordem de quantidade) na Tijuca, Copacabana, Centro, Campo Grande e Madureira.