Milton Nascimento em arte, cenografia e decoração no camarote Portela
Todos os artistas selecionados têm alguma história relacionada ao homenageado da escola

Milton Nascimento, enredo da Portela (“Cantar será buscar o caminho que vai dar no Sol”), vai ser mostrado em todo o camarote da escola — na arte, cenografia e decoração, com direção criativa de Júlia Paula, arquitetura e cenografia de Bárbara Boy e Izabela Crescembine. “Será totalmente imersivo, com som da gravação do coral infantil Canarinhos de Petrópolis logo à entrada, passando por uma grande homenagem com o ‘Milagre dos Peixes’ (álbum censurado do Milton), azulejaria e muitos outros detalhes, além de um camarote plotado (coberto com adesivos)”, diz Júlia.

O artista plástico carioca Yhuri Cruz criou a obra “Milagre dos Peixes”, feita com impressão em tecido com a letra da música, intervenção digital em lona acrílica e arte gráfica parecendo uma boca de tubarão, que vem no disco. “O camarote é azul, mas, quando chega na parede do artista, vira preto e branco — um ato para tratar do que foi essa obra do Milton na ditadura e como é que a gente expressa isso. Foi audacioso. Precisamos desse silêncio, dessa parede, dessa pausa de cores”, diz Júlia.

A artista gráfica Ana Clara, tatuadora descendente de portugueses, levou a azulejaria com a história da escola para o banheiro do camarote.
Filho e neto de carnavalescos, o artista plástico Elpídio Barreto Lisboa, o Maradona, que reaproveita entulhos para fazer arte, criou o trem, símbolo mineiro, tanto nas ferrovias quanto na gíria. “Todos os artistas selecionados têm alguma ligação com a Portela ou com o enredo. Maradona tinha um irmão com quem deixou de falar; esse irmão morreu. Ele gostava muito do Milton. No enterro, Maradona saiu correndo para comprar uma caneta permanente porque queria escrever no caixão ‘qualquer dia, amigo, eu volto a te encontrar’, trecho de ‘Canção da América’, de Milton. Anos depois, ele encontrou sua sobrinha e descobriram que tinham a mesma tatuagem, a capa do álbum do Milton Nascimento, que é o trem. E aí o Maradona desenvolveu um trem com peças de motor de carro e computador, com mais de 2 metros de comprimento, em cima de um trilho”, conta Júlia.


O artista mineiro Márcio Cintra levou suas pinturas de cenas do Congado, festa folclórica típica de Minas; já a artista carioca Bea Machado levou elementos da arquitetura suburbana, como os caquinhos e pastilhas, fazendo moldura para as grandes personalidades da Portela e Milton. “Ela já fez nove pinturas exclusivas para a Portela; a escola abriu pra gente dar esse spoiler no camarote, no segundo andar. Ela pintou o rosto do Milton que vai para a avenida e também estampa o espaço”, finaliza Júlia.