Meio ambiente, por Mario Moscatelli
"Mudamos nosso comportamento predatório com o ambiente, ou seremos varridos pelas alterações climáticas!"
Vivo um momento excepcional no sistema lagunar onde vejo finalmente ações estruturantes acontecerem — ações que eram obrigações e legados que nunca vinham se materializando de fato por uma série de motivos, mesmo com os recentes eventos esportivos internacionais.
Simplesmente, as forças do “lado sombrio” vinham se sobrepondo a todo e qualquer esforço de recuperação do maior passivo econômico e ambiental da cidade do Rio. Contudo, como não há mal que dure para sempre, com o novo marco do saneamento veio também “the last chance”, como diria Donna Summer, para a recuperação do sistema lagunar.
Finalmente, desde 1992, teríamos de fato investimentos e produtos, frutos da recuperação. Nesste contexto, nos últimos três anos, são diversos hectares de manguezais recuperados e ampliados, centenas de toneladas de resíduos removidos, dragagens em andamento, ampliação da rede de esgoto, enfim a montanha estava se movendo.
No entanto, paralelamente ao êxtase de ver o paciente se recuperando com a expectativa de resgatar a fatura ambiental mais do que vencida, vem uma profunda angústia. A cada vistoria, apesar das inúmeras ecobarreiras existentes, tanto do governo do estado como do municipal, nos principais rios que chegam às lagoas, é inaceitável e inacreditável o que ainda continua chegando de forma recorrente e principalmente durante as chuvas. Além do lixo doméstico predominante, sofás e mais sofás vão se acumulando nas ilhas de lama da lagoa da Tijuca, que, em breve, também serão dragadas.
A cada chuva, novos sofás chegam, somando-se aos já existentes, criando uma atmosfera, uma imagem distópica real de uma cultura ambientalmente “ecocida” onde, só para lembrar, o ser humano está incluído. Em resumo, é muitíssimo claro que qualquer potencial uso econômico sustentável do sistema lagunar — por meio do ecoturismo (vocação nata da região), pesca, esporte, lazer, transporte — passará obrigatoriamente por uma mudança dessa cultura míope e que já tanto degradou o patrimônio maior de nossa cidade.
Fica o alerta para todos: mudamos nosso comportamento predatório com o ambiente, ou seremos varridos pelas alterações climáticas! Isso é uma constatação numa cidade que naturalmente é geomorfologicamente vulnerável a inundações e escorregamentos, fato que a histórica ocupação humana predatória só fez aumentar exponencialmente. Mudamos ou padeceremos! Onde poderíamos ter oportunidades econômicas, apenas teremos custos cada vez mais altos num ambiente profundamente impactado. A escolha é nossa! E isso é o que mais me gera angústia, pois o produto tempo não está mais disponível. A mudança é para AGORA!