Marie Bèndelac: os danos silenciosos de manter colaboradores tóxicos
Um empresário me contou que contratou uma profissional que parecia altamente qualificada, mas o clima na equipe ficou pesado

Recentemente, ouvi o desabafo de um empresário muito experiente que tinha participado do meu workshop de Comunicação Não Violenta alguns anos atrás.
Antes da pandemia, ele contratou uma profissional que parecia altamente qualificada. Mas, com o tempo, a verdade apareceu: era uma colaboradora tóxica, manipuladora, excelente em autopromoção e péssima em relações humanas.
O clima na equipe ficou pesado. Todo mundo começou a reclamar e a não querer mais trabalhar com aquela colaboradora. A cultura da empresa começou a se corroer.
Nos primeiros anos, ele não percebeu. Depois, ele mesmo começou a sofrer e adoecer, mas não conseguia agir.
“Eu achava que ela era insubstituível”, me contou.
Foi só com o apoio firme de sua nova Diretora de RH que ele conseguiu demiti-la. Porém, antes disso, ele teve que admitir que não sabia como demiti-la. Foi quando a Diretora de RH disse para ele:
“Eu vou te ajudar”.
Essa atitude firme e corajosa da RH foi fundamental, mas o fato do empresário se vulnerabilizar e reconhecer que não sabia como lidar com essa situação, também foi crucial.
Com mais de 25 anos de experiência no mundo corporativo, eu pude observar que mesmo com sinais claros, muitos líderes não tomam atitude. Muitas vezes por medo, por culpa, ou por falta de apoio.
É a solidão de quem carrega toda a responsabilidade de uma decisão difícil nas costas. O que fazer então?
A resposta não está só na demissão. Está na prevenção e na cultura humanizada.
Depois da demissão da colaboradora tóxica, a empresa, longe de desmoronar, floresceu. E aquele empresário, recuperou a saúde que vinha se perdendo pouco a pouco.
Esse caso é mais comum do que parece e os danos são profundos. Segundo a Harvard Business School, um único colaborador tóxico pode custar mais de US$ 12 mil por ano à empresa sem contar os prejuízos intangíveis: queda de engajamento, adoecimento emocional, afastamentos, evasão de talentos e perda de confiança na liderança e na empresa.
A Comunicação Não Violenta (CNV) se torna uma aliada estratégica para líderes e RHs que desejam lidar com comportamentos difíceis sem cair no confronto, nem na omissão.
Ela ajuda a construir ambientes de escuta empática, segurança psicológica e limites saudáveis, essenciais para evitar que o tóxico se instale e prospere.
Porque antes do caos e do adoecimento, sempre houve silêncio ou falta de escuta.
Líderes que aprendem a se ouvir, pedir e receber ajuda com humildade criam ambientes mais saudáveis. Reconhecer sua parte de vulnerabilidade, aceitar apoio e ouvir seus colaboradores, é fundamental.
Ao longo dos últimos quinze anos, observei que a maioria dos líderes acha interessante oferecer uma palestra ou um treinamento de CNV para seus colaboradores, mas não participa, não se envolve.
Como construir um ambiente mais humanizado e mais saudável sem o exemplo e o engajamento da alta liderança ?
Para cuidar das equipes, é preciso capacitar os líderes. Cuidar da cultura é tão estratégico quanto cuidar dos resultados. Não há cultura de bem-estar sustentável quando a alta liderança não lidera pelo exemplo e não se envolve. Tudo começa pelo topo.
Boa semana!
