Marie Bèndelac fala sobre como a generalização estimula a violência
"Seja de forma positiva ou negativa, a generalização coloca todas as pessoas em uma mesma caixinha e gera preconceito"

Como a generalização estimula a violência na sociedade e nas relações
Quantas vezes, como francesa, já ouvi frases como:
“Os franceses são arrogantes”
“Os franceses são muito pães-duros”
Mas também já ouvi:
“As francesas são muito elegantes“
“A comida francesa é muito boa”
De forma positiva ou negativa, a generalização tem um lado extremamente perigoso: coloca todas as pessoas em uma mesma caixinha, gerando um preconceito que pode levar a atos de violência extrema e fatal contra povos e etnias, como foi o caso contra os judeus, por exemplo, na 2ª Guerra Mundial.
Apesar de ser um fenômeno comum na comunicação humana, a generalização pode dividir, afastar, gerar constrangimento, ressentimento e até ódio. Tratar indivíduos ou grupos como se fossem homogeneamente idênticos pode ser profundamente prejudicial.
A partir da perspectiva da Comunicação Não Violenta (CNV), desenvolvida por Marshall Rosenberg, é possível entender de que maneira a generalização não só desconstrói como também tende a ativar um ciclo de violência nas relações interpessoais.
Generalizar envolve a simplificação de complexidades. Por exemplo, referir-se a um grupo de pessoas como “eles” ou “os outros” tende a criar barreiras que impedem a empatia. Essa categorização ignora as histórias individuais, as vivências e as necessidades específicas de cada pessoa. Quando dizemos “todos os jovens são desinteressados”, por exemplo, podemos estar ignorando a realidade de muitos que possuem imensa paixão por causas sociais e ambientais.
A desumanização é um dos efeitos mais nefastos da generalização. Ao ver o outro apenas como um representante de um grupo, perdemos a capacidade de reconhecer sua humanidade. Isso pode levar a julgamentos severos e a ações hostis.
Em contextos de conflito, essa percepção do “outro” como um inimigo facilita a justificativa de comportamentos agressivos, pois muitos acreditam que estão lutando contra uma abstração, e não contra um ser humano.
Além disso, a generalização frequentemente alimenta preconceitos e estereótipos. Preconceitos são construções sociais que afirmam características negativas sobre determinados grupos. Quando essas ideologias são perpetuadas, a comunicação se torna um espaço de ataque em vez de diálogo, em que as necessidades e sentimentos das pessoas estão relegados a segundo plano.
Marshall Rosenberg propõe a CNV como uma abordagem que contrasta fortemente com a generalização. Essa metodologia enfatiza a importância de observar, sentir, precisar e pedir de maneira clara e respeitosa. A CNV nos incentiva a explorar as necessidades por trás do comportamento alheio, e não a rotular os outros.
Por exemplo, em vez de dizer “você sempre esquece de fazer sua parte”, que generaliza e critica, poderíamos expressar: “Quando percebo que a tarefa não foi feita, sinto-me frustrado porque preciso de apoio na divisão das responsabilidades. Você pode me ajudar com isso?”. Essa abordagem expressa vulnerabilidade e um desejo de conexão, evitando criar reações defensivas.
Para romper com o ciclo de violência que a generalização provoca, é essencial cultivar a empatia nas comunicações diárias. Isso inclui fazer perguntas abertas, ouvir atentamente e buscar entender a perspectiva do outro, sem julgamentos. Ao humanizar as interações e reconhecermos as histórias individuais, criamos um espaço em que a compreensão mútua pode florescer.
Além disso, promover ambientes de comunicação inclusivos, em que as vozes e experiências individuais são valorizadas, pode reduzir a necessidade de generalizações. Essa prática não apenas enriquece o diálogo, mas também fomenta relacionamentos mais saudáveis e respeitosos.
O caminho para uma comunicação mais construtiva passa pela desconstrução dessas generalizações, pela prática da Comunicação Não Violenta e pelo cultivo da empatia. Ao valorizar a singularidade de cada indivíduo, podemos transformar nossas interações e contribuir para um mundo mais pacífico, de mais respeito, compaixão e conexão.
Boa semana!
