La Peña sobre caso Léo Lins: “É diferente de xingar alguém de macaco”
“Piada não é realidade, piada é ficção. É diferente de você praticar um discurso de ódio", diz Hélio de la Peña

No Brasil polarizado, a condenação do humorista Léo Lins — a oito anos e três meses de prisão, além do pagamento de multa equivalente a 1.170 salários-mínimos (em valores da época da gravação, em 2022), e de indenização de R$ 303,6 mil por danos morais coletivos — também divide opiniões. Ativistas aplaudem a Justiça e a maioria dos comediantes e grande parte dos brasileiros defendem o direito de expressão, entre eles, Hélio de la Peña.
“Piada não é realidade, piada é ficção. É diferente de você praticar um discurso de ódio num estádio, ou num condomínio, ou na rua, xingar alguém de macaco, por exemplo. Quando você tá fazendo um show de humor, por mais que você esteja num show de stand-up, de cara limpa, o sujeito que está ali é um personagem”, diz Hélio à coluna.
No show “Perturbador”, publicado no YouTube em seu perfil, com mais de 3 milhões de visualizações, Lins faz piadas contra negros, idosos, obesos, pessoas com HIV, homossexuais, indígenas, nordestinos, evangélicos, judeus e pessoas etc. Numa das piadas, ele diz “o negro reclama que não tem emprego, mas, quando era escravo, já nascia empregado e também reclamava”.
“Muitas vezes, o humorista está ali superextravagante, extrovertido no palco. Quando acaba tudo, ele é uma figura tímida, uma figura completamente diferente daquele personagem que ele encarna para entreter as pessoas. Ficção não é realidade. Dessa forma, a gente teria, por exemplo, que de repente prender a Débora Bloch ou o Gilberto Braga por terem, os dois, criado a Odete Roitman, que pratica um discurso de ódio, que é preconceituosa, racista e tudo mais. Mas as pessoas têm plena consciência de que aquilo é ficção. Humor também é ficção. Como diria Millôr Fernandes, ‘nenhum humorista atira para matar’”, conclui.
A defesa do humorista sustenta que, em nenhum momento, houve intenção de ofender, discriminar ou diminuir qualquer grupo, sendo um conteúdo ficcional e humorístico, e não um discurso de ódio.