De próprio punho, por Jorjão: “Tão conectados e tão distantes”
Olhando pra frente, já podemos ver um futuro próximo que oferece um mundo ainda mais conectado, rápido e com possibilidades distintas de se relacionar

Como todo mundo sabe — e não custa relembrar —, nunca na história da humanidade estivemos tão conectados e, ao mesmo tempo, tão distantes: isolados em bolhas e, muitas vezes, absolutamente solitários, cada um mergulhado até o fundo de seu próprio universo. Não à toa, a primeira pessoa do singular nunca esteve tão presente. “Eu fiz isso”, “eu faço aquilo”, “eu tenho um projeto…”, “eu pra cá, eu pra lá…”. Nas, cada vez mais raras tentativas de se estabelecer um diálogo, cada parte fica esperando o ponto de “cue” para dar início ao seu monólogo baseado no “eu”. Olhando pra frente, já podemos ver um futuro próximo que oferece um mundo ainda mais conectado, rápido e com possibilidades cada vez mais distintas de se relacionar — e, ao mesmo tempo, de se isolar.
Justamente pensando na incerteza desse futuro, uma questão bem objetiva anda tomando conta do meu presente: está na hora de escolher uma escola nova para o meu filho. Ano que vem ele entra no ensino fundamental, quando a criança começa a alfabetização, e a gente não sabe se ele continua na escola onde está — uma escola pequena, onde cada um se conhece pelo nome —, ou se mudamos para algo maior.
Que crianças são essas que estamos criando para enfrentar os desafios desse futuro? A base de tudo está em casa, sem dúvida, mas, desde cedo, a educação escolar tem papel fundamental: formar pessoas de caráter, que tenham a oportunidade de ser o que quiserem ser, que sejam educadas em bases antirracistas, que respeitem e entendam que somos diferentes. Apesar de parecer tão básico, esse pensamento é carregado de privilégios. Pelos quatro cantos do país, crianças mal conseguem chegar à escola e, quando chegam, ainda encontram um sistema educacional abandonado. Felizmente, há exceções a essa regra.
Mas, voltando à oportunidade de poder escolher pela educação escolar do meu filho, estamos no momento de visitar escolas para decidir para qual Noah deve ir — ou se continua onde está. As variáveis são muitas: construtivista, bilíngue, internacional. Além de tudo, é preciso levar em conta a distância de casa, sem esquecer o valor da mensalidade, algumas, inclusive, proibitivas. No entanto, a única certeza é que a escola ideal não existe. Que seja, acima de tudo, um espaço acolhedor, que valorize o desenvolvimento socioemocional das crianças, onde possam aprender a reconhecer e lidar com suas emoções, estabelecer relações saudáveis e cultivar empatia e respeito pelo outro. Um ambiente que ajude a formar seres humanos inteiros, capazes de construir um futuro melhor do que o que estamos deixando — não apenas em termos de conhecimento, mas também de humanidade e solidariedade.
Jorge Espírito Santo é diretor de TV, com mais de três décadas de trabalho para os principais veículos de comunicação. Uma das características principais do seu trabalho é a preocupação com a novidade, um olhar sempre em direção ao futuro.