Jobi 70: quem aí tem uma história para entrar num livro?
O bar resistiu a vários governos e a crises econômicas sem demitir nenhum garçom

O Jobi é meu, é seu, é nosso, é do Rio! Em 2026, o bar mais boêmio da cidade completa 70 anos e, para fazer jus aos irmãos portugueses Manuel e Narciso Rocha (morto em 2018), que herdaram o Jobi do pai, Adelino Rocha — hoje é tocado pela terceira geração, liderada pelas netas de Adelino (Elina, dentista, a irmã Carla, médica, e a prima Eliana, advogada) — as sócias, em conversa com a produtora cultural Renata Carvalho, que praticamente nasceu entre as tulipas de chope, resolveram fazer um livro de arte (ed. Barléu), não só com as histórias deliciosas ou mirabolantes, como dos frequentadores, claro.
“O Jobi significa o próprio Rio. Foi frequentado por gerações de intelectuais, de Tom Jobim (mais raro) a Cazuza (quase diariamente), nomes de perder a conta, fazendo ali de quintal. O bar casou e separou várias pessoas. Elina (Rocha, filha de Narciso) guardou tudo, todas as matérias de jornal, a 1ª máquina registradora, vários prêmios, copos, guardanapos, memorabilia que nunca caberia ali, então pretendemos fazer vários eventos para comemorar os 70, como exposições, festas etc.”, diz Renata. E você, já fez alguma loucura ali?
O bar resistiu a vários governos e a crises econômicas sem demitir nenhum garçom. O Paiva (Melo), por exemplo, assinando carteira em 1980 e se aposentando em 2008 (dando lugar ao genro, Lúcio Ferreira, tudo em família), com muitas histórias impublicáveis.
Por ser um projeto colaborativo, Elina e Renata pedem aos cariocas que tenham alguma história ou fotos no Jobi que mande para Jobi70anos@gmail.com.
Algumas histórias do Jobi:
- Ao marcar agendas no Rio, o publicitário Nizan Guanaes escolhia o Jobi, que ele adora!
- Cazuza batia ponto, já que seu apartamento era muito perto e levava a turma, Bebel Gilberto e muita gente geração 1980. Como já contava Narciso, ele pedia sempre vodca, depois litros de conhaque de mel. Raul Seixas só tomava pinga. Tim Maia ficava bebendo seu uísque do lado de fora e às vezes nem ia aos seus próprios shows. Tom Jobim era presença rara, mas inesquecível.
- Eliana conta de um cliente que pediu para ter suas cinzas espalhadas no bar. Os amigos saíram do enterro e atenderam o pedido. O pessoal tomando um chope com uma urna funerária sobre a mesa. O evento aconteceu, mas parte das cinzas foram jogadas na calçada do bar.
- O cardápio é o mesmo há 70 anos, com o bolinho de bacalhau, risole de camarão com catupiry e carne-seca desfiada com farofa e cebola e, como dito acima, aconteceram várias reformas (as últimas foram de Chicô Gouvêa), principalmente para preservar o visual do bar.
- No final do bar há um grande painel feito por Nilton Bravo, artista plástico conhecido por enfeitar bares e botequins da cidade na década de 1960.
- Antes do hype, o bar era um tremendo pé-sujo e era movimentado pelo preparo de PFs para os operários das redondezas. A partir dos anos 60, o perfil (da casa e do bairro) começou a mudar.