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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

Invertida, com Paula Burlamaqui: “Todas esticadas e ninguém ‘fez nada'”

Já fiz várias intervenções, lipoaspiração, botox, faço tudo. Todo mundo faz e ninguém fala. Vejo as atrizes todas esticadas e nunca ninguém "fez nada"...

Por lu.lacerda
Atualizado em 1 jun 2025, 08h49 - Publicado em 1 jun 2025, 07h10
Paula Burlamaqui
 (./Divulgação)
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De luto pelo Janjão, um dos seus cãezinhos, morto no último dia 20, Paula Burlamaqui está levando sua energia para o trabalho: a atriz estará em “Êta, Mundo Melhor!”, de Walcyr Carrasco, novela das 6, com estreia no fim de junho, em lugar de “Garota do Momento”. E, ainda, o monólogo sobre envelhecimento, que começa a escrever com a atriz Isabel Teixeira (com quem trabalhou na novela “Elas por Elas”, da TV Globo), sob direção de Monique Goldenberg: “Acho tudo uma merda. Meu hormônio está no pé. Sigo aos frangalhos, tentando viver da melhor maneira. Até me assusta a quantidade de remédio que tenho de tomar, mas preciso enfrentar. Vou pensar assim até morrer, nisso não vou mudar. É a degradação física do ser humano”. Burlamaqui, 58, é um perfil fala-o-que-pensa, mesmo correndo os riscos causados pelo politicamente correto.

Leia sua entrevista: 

UMA LOUCURA: Não ter medo de viver tudo que você quer viver. Acho que fiz muita loucura na minha vida, no sentido de que eu não tinha medo de viver a vida intensamente e que hoje eu nunca faria. Ter a liberdade de bater a porta de casa e sair por aí, terminar uma relação pra viver outra sem pensar em me arrepender. Eu não tinha responsabilidade com nada. Uma vez, fui para Bali passar um mês e fiquei oito; hoje acho isso tudo uma loucura. Sempre fui muito livre, nunca tive filhos e nunca me senti presa. Outra loucura é ninguém falar sobre os contras da velhice e, quando você vai procurar ajuda, entende o que está acontecendo com o seu corpo. Mas ninguém te fala com 30 anos que, com 43, você vai ter uma pré-menopausa, nem ginecologista. Depois dos 50, é ladeira abaixo, e a gente pode completar.
UMA ROUBADA: Entrar numa relação com pessoas narcisistas. Eu já tive uma situação assim, de manipulação, um pouco abusiva e demorei a sair. E acho que, hoje em dia, isso é uma coisa boa de maturidade e talvez eu coloque na peça. Hoje em dia, a experiência lhe dá isto: de você não cair numa roubada de quando você tem 20, 30 anos. Hoje estou tendo um relacionamento maduro (com o empresário Luís Paulo Montenegro), o que nunca aconteceu porque sempre tive preconceito com gente mais velha que eu. Não me permitia. Ele é só oito anos mais velho, mas, se eu soubesse que era tão bom, faria antes. Sempre tive relacionamentos com pessoas mais jovens; eles viravam filhos, era uma coisa muito maluca. Já são duas coisas boas da velhice: não cair em roubada e ter um amor maduro (rsrsrsrs).

UMA IDEIA FIXA: Não tenho ideias fixas — tudo pode mudar o tempo todo, elas podem ser transformadas. Sou um ser muito em movimento. Tenho ideias que podem ficar comigo um pouco, mas depois elas vão ser transformadas.

UM PORRE: Já tomei muito porre de passar mal, dizendo que nunca mais ia beber. Hoje em dia, não bebo tanto, não consigo, não tenho mais resistência. Você sabe que o Caetano Veloso parou de beber por causa da ressaca? Um porre hoje é gente bêbada ou drogada… Não tenho a menor paciência.

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UMA FRUSTRAÇÃO: Falei sobre isso no programa da Gabriela Prioli e fui linchada, sobre eu me arrepender de não ter tido filho para cuidar de mim na velhice. Mas era um contexto em que a gente estava falando de envelhecimento, não de filhos, nem de afetos, nem de amor. As pessoas fizeram uma leitura que eu estava falando que eu só queria ter um filho para cuidar de mim. Eu não falei nada disso porque eu e minha irmã cuidamos muito bem dos nossos pais na velhice e eu acho que se a minha mãe, que ficou com Alzheimer, não tivesse filhos, teria sido muito pior pra ela. Isso não deixa de ser uma frustração. Você, de algum jeito, cuida do seu pai e da sua mãe, nem que seja só mandando dinheiro, e eu não conheço ninguém que não cuidou dos pais. Engraçado, depois do programa, a minha sobrinha me ligou dizendo que ia cuidar de mim, que era a segunda mãe. Eu quase falei ‘dá pra gente assinar isso em cartório?’
UM APAGÃO: As minhas desilusões amorosas foram apagões. Vivi muito intensamente, mas tive algumas decepções amorosas que sofri muito e com certeza fiquei muito mais casca grossa. Hoje em dia, só saio de casa pra encontrar quem eu amo muito. Às vezes alguém fala que queria me apresentar uma pessoa – falo que não quero conhecer, não tenho mais tempo pra isso.

UMA SÍNDROME: Essas perguntas são difíceis… Acho que eu não tenho, não sei te responder.

UM MEDO: Medo de ficar demente, e não ter ninguém pra cuidar de mim. Vejo pessoas da minha idade falando que vão se separar, e já falo pra não fazer essa besteira.

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UM DEFEITO: Tenho vários. Sou muito vaidosa, e isso atrapalha. Já fiz várias intervenções, lipoaspiração, botox, faço tudo. Todo mundo faz e ninguém fala. Vejo as atrizes todas esticadas e nunca ninguém “fez nada”… É a coisa mais louca do planeta. Acho que sofro mais com o envelhecimento por causa dessa minha vaidade.

UM DESPRAZER: É ver tanta maldade humana; realmente, acho que o ser humano não deu certo. Vejo muita coisa, principalmente na causa animal (Paula é ativista e tem quatro gatos e um cachorro, todos resgatados), como as pessoas têm coragem de maltratar, porque quem maltrata bicho, maltrata velho e criança.

UM INSUCESSO: Tive muitos, tanto amorosos como profissionais. A vida não é bonitinha não, mas, se eu for morrer amanhã, acho que a minha vida é boa. No teatro, por exemplo, fiz uma peça que se chamava “Cartas Portuguesas”, em que as pessoas iam embora no meio. Era uma coisa horrorosa. Até eu odiava. Foi uma merda.

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UM IMPULSO: Tive muitos de paixão, de sair na rua, me apaixonar por uma pessoa perdidamente, estar numa outra relação e terminar e depois me arrepender.

UMA PARANOIA: Tenho a paranoia de envelhecer. Eu não tenho capacidade de falar nada de bom sobre esse momento agora. A gente muda o tempo todo, mas meu momento atual é de sofrimento. Se tivesse qualquer coisa que eu pudesse fazer para voltar no tempo, eu faria. E você, quando vai ficando velha, isso é um fato. Não sou eu que falo, vejo as atrizes maravilhosas de Hollywood, no Brasil falando que não têm mais papéis. A minha mãe, quando se aposentou, entrou numa depressão profunda, e ela trabalharia por mais 20 anos; então é uma coisa de maluco, sabe? Para o artista, é ainda pior porque nós queremos trabalhar para manter a cabeça ativa. Então, a peça vai englobar o envelhecer de uma forma geral;  espero que alguém traga alguma coisa de boa, porque eu também não quero que uma pessoa idosa vá assistir e fique deprimida. Não sou a dona da verdade, mas falo sobre a minha experiência. Isso é um assunto tão universal que eu não posso também subir num palco e falar somente isso. Tenho que buscar um contraponto porque tem gente que acha legal envelhecer, embora todas com quem eu falei até hoje concordam plenamente comigo. O Ary Fontoura, com 91 anos, é um sucesso no Instagram. Não existe uma fórmula mágica que vai te oferecer a juventude; outro jeito é morrer e isso ninguém quer. Como é que você se vê daqui a 10 anos? Não tenho nem essas expectativas. Não gosto nem de pensar. Meu Deus! Vou estar com 68…

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