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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

“Invertida” com Ney Matogrosso: “Nunca fiz nada com a Lei Rouanet”

"Eu não quero ter aquela velha opinião formada sobre tudo, como dizia o Raul Seixas", diz ele

Por lu.lacerda
Atualizado em 10 jul 2025, 19h43 - Publicado em 6 jul 2025, 07h00
ney
 (Felipe Fittipaldi/Veja Rio)
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Ney Matogrosso visto na realidade e na ficção, depois da estreia de “Homem com H”, com as mesmas características, do timbre da voz ao inacreditável corpinho: músculos em dia, barriga negativa, bunda perfeita, perna em elevado conceito, combinados ao mesmo tempo à rapidez de raciocínio com serenidade. Boa parte disso ele leva pro palco — quem quiser pode ver o filme na Netflix, onde entrou apenas 47 dias depois da estreia nos cinemas, em salas lotadas.

Perguntado se é contra ou a favor dessa, digamos, precipitação de levar para o streaming, Ney pensa, respira: “Eu não quero ter aquela velha opinião formada sobre tudo, como dizia o Raul Seixas. Tem sempre um outro lado também: o filme agora está sendo visto no mundo inteiro”. “Homem com H”, a cinebiografia dirigida por Esmir Filho, com Jesuíta Barbosa, está em 190 países. Ney, que completa 84 anos em agosto, tem rodado o Brasil com o show “Bloco na Rua”, lembrado na exposição “Cazuza Exagerado” — eles tiveram um relacionamento de três meses, e ainda será enredo da escola de samba Imperatriz Leopoldinense no Carnaval de 2026, com o tema “Camaleônico”.

E, antes do fim da conversa, comenta: “Acho que não chego a esse futuro de ver o povo bem tratado”.

Leia sua entrevista:

UMA LOUCURA: “Viver na Terra, neste momento, é uma loucura. Se você olhar bem, tudo pode acontecer, para todos os lados. Estamos vivendo ameaçados por guerras”.

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UMA ROUBADA: “O réveillon em Copacabana. Mas nunca sofri ali, porque eu sempre me recusei. É um lugar de onde você precisa sair a pé, na madrugada, acreditar nas expectativas.

UMA IDEIA FIXA: “Viver em silêncio, calmo; não sou uma pessoa que vive falando. Eu fico muito tempo sozinho porque gosto e preciso, o que não significa que eu esteja fechado a nada; pelo contrário, estou aberto a tudo para observar o mundo, receber o mundo, receber energias, o Universo. Eu não estou fechado, só tenho uma maneira de viver que é diferente.”

UM PORRE: “Não é uma coisa que aconteceu com frequência na minha vida, mas a última vez que eu bebi, tomei um porre e, quando cheguei em casa, tive que sentar agarrado ao vaso sanitário, e tudo rodava. Já era para me mostrar que aquilo não era a minha: não suporto ficar bêbado. Já fiz de tudo; hoje, não faço mais nada porque resolvi viver assim. Chegar naqueles estados alterados, sem tomar nada, é uma loucura da minha cabeça.  Uma vez, numa festa do Cazuza, a Lucinha (Araújo) disse ‘você não bebe?’ Eu respondi que detesto álcool, e ela perguntou: que droga vc toma? A única que eu gostava era o Mandrix (medicamento com metaqualona, sedativo e hipnótico muito usado na década de 70 e 80 no Rio).”

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 UMA FRUSTRAÇÃO: “Não ter ido cantar no Ano do Brasil na França (2005), por uma confusão com a Lei Rouanet. Eu já tinha sido contratado por um empresário por um preço. O Ministério da Cultura chegou e disse que eu não podia ir ganhando diferente dos outros artistas. Mas eu disse que não estava indo pelo Ministério, mas por outro contratante. Acabei não indo. Isso embaçou a minha ida. Nunca fiz nada com a Lei Rouanet. Dou graças a Deus.”

UM APAGÃO: “Posso ter um apagão, mas acredito que isso é normal, acontece com todo mundo. Você está conversando e, de repente, não sabe onde estava o rumo da história, ainda mais eu, que tenho de conversar com muita gente. Eu até tenho uma boa memória, mas não guardo o nome das pessoas, somente a fisionomia. Aí tem gente que chega pra mim e diz assim: ‘Lembra de mim?’ Eu digo lembro, mas querer que eu saiba o nome de gente que eu conheci no meio da multidão já é demais.”

 UMA SÍNDROME: “Não sei se essa coisa de viver assim, sozinho, é uma síndrome; talvez seja. Pra mim, é normal, é natural, gostar de viver com pouca gente; não suporto multidão. Nos shows, é diferente: eu estou no centro, não no meio. Por exemplo, adoro carnaval, adoro assistir, mas fui pouquíssimas vezes à Sapucaí. É muito confuso, mas acho lindo.”

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UM INSUCESSO: “Talvez meu insucesso seja a minha não disposição para viver com alguém. Eu gosto de namorar gente que mora perto; junto, jamais. Porém é uma coisa que eu me questiono muito, sabe, essa questão de não gostar disso. Por que todo mundo quer, e eu não quero?”

UM IMPULSO: “Todo momento é um impulso na vida, cada decisão é um impulso — eu vejo assim. Uma vez, estava ensaiando um show, cenário sendo feito, figurino quase pronto, banda, mas eu não estava satisfeito. Olhava para aquilo tudo e dizia: ‘Vou estar repetindo o que já fiz’. Paguei a todo mundo e liberei. A imprensa disse que eu estava pirado, que eu tinha parado uma coisa que já tinha começado. E eu fiquei na minha casa, esperando vir a inspiração para o próximo passo, que foi ‘Pescador de Pérolas’ (1987, primeiro álbum ao vivo, aclamado pela crítica). Então eu não me arrependo. Eu estava muito bem da cabeça quando tomei a atitude de parar — o contrário do que disseram de mim.”

UM MEDO: “Não convivo com medo, não. É um exercício que eu faço, porque o medo supremo seria a morte, não é isso? E eu não tenho medo da morte. As pessoas têm medo da única certeza que nós temos na vida. Como é que pode ter medo? E também acredito que não vai acabar — é somente a minha passagem por aqui, mas alguma coisa minha vai continuar, de todos nós. Eu acredito em reencarnação, em vidas em outros planetas. Acredito nessas coisas, portanto não posso ter medo de nada. Da violência também não tenho medo porque não me exponho.”

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UMA IDEIA FIXA: “Meu trabalho. É a única ideia fixa que eu tenho. Nos últimos meses, ver o sucesso de ‘Homem com H’. Acompanhei as filmagens, às vezes ficava 12 horas por dia com eles. Ver cenas da minha vida sendo filmadas, que me emocionaram. Ver o Jesuíta (Barbosa) em cena concluí que foi o melhor. Quando falaram seu nome, eu já sabia que ele era um ator maravilhoso. O elenco todo está muito bem.”

UM DEFEITO: “Meu defeito é a mania de perfeição, porque ela é inalcançável. Não sei se todo artista é assim; penso que sim. Então eu acho que consigo oferecer o melhor que eu posso. Não sei se posso considerar a perfeição, mas é o melhor. A minha meta é essa, em todos os aspectos da vida.”

 UM DESPRAZER: “Meu desprazer é com os rumos do Rio, principalmente gente morando na rua, gente jogada pelo chão — me dá tristeza. Sabemos que tem no mundo todo, mas é diferente na nossa cidade. Em NY, onde gravei um disco, fiquei até amigo de um deles; toda vez que eu passava, ele pedia cigarro. E, à época, eu achava surpreendente gente de olhos azuis morando na rua.

UMA PARANOIA: “Voltamos ao planeta que estamos habitando. Que atraso é esse no mundo?”

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