Invertida, com Luiza Mariani: “Tinha algo em mim, uma força, um ímpeto”
Depois de "Cyclone", que entra em cartaz dia 27 de novembro, a atriz vai interpretar Marina Lima nos cinemas
							Nada faz Luiza Mariani mais feliz do que falar sobre Maria de Lourdes Castro Pontes, a Cyclone (1900–1919) — são quase 20 anos de dedicação a esse projeto, desde que a encenou no teatro, em 2006. O longa estreia em 27 de novembro, depois de passar pelo Festival do Rio, onde recebeu muitos elogios da crítica. O filme também esteve em Xangai e Munique este ano, além da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no último dia 18 e neste domingo (26/10).
Além de interpretar Cyclone, Luiza assina a produção com Joana Mariani (sua prima) e Eliane Ferreira, e colaborou no roteiro de Rita Piffer — uma equipe 100% feminina. Aos 25, Luiza recebeu de Renata Sorrah o diário O Perfeito Cozinheiro das Almas Deste Mundo, livro coletivo produzido na garçonnière de Oswald de Andrade (1890–1954), repleto das “loucuras” da trupe de boêmios paulistanos dos anos 1910 — aqueles que, logo depois, se tornariam protagonistas do Modernismo. A única mulher participante era Maria de Lourdes, apelidada de Dayse, Tufão ou simplesmente Miss Cyclone (apelido dado por Oswald, inspirado no filme Miss Cyclone e os Sete Pecados Mortais).
Ela acabou virando o principal assunto do diário. “Daisy anima a turma toda”, escreveu Oswald. Cyclone se mostrava muito mais rebelde e moderna que os rapazes boêmios — entre eles, Guilherme de Almeida e Monteiro Lobato.
Aos 17, a “ciclônica” começou um romance com Oswald, dez anos mais velho e de fama mulherenga. Engravidou e morreu aos 19, ao tentar um aborto clandestino. Luiza também encontrou um diário de Cyclone na biblioteca da Unicamp — e nada mais.
Em Cyclone, Luiza vive uma operária de gráfica que mora em cortiço e sonha em ser dramaturga. Ela se apaixona por Heitor (Eduardo Moscovis), diretor de teatro. Quando ganha uma bolsa para estudar em Paris, descobre que o maior obstáculo para seus sonhos é ter nascido em um mundo onde as mulheres sequer são donas do próprio corpo. No elenco, ainda, Karine Teles, Luciana Paes, Magali Biff, Rogério Brito e Ricardo Teodoro.
Luiza é carioca, neta do banqueiro baiano Clemente Mariani (1900–1981). Aos 18, morou em Nova York para estudar cinema e teatro; ao voltar, entrou em “Malhação”. Produziu seu primeiro espetáculo aos 21, atuou em novelas, séries e filmes. É casada há 15 anos com o advogado Flavio Zveiter, mãe de Dora (13) e Tom (9). Depois de Cyclone: “Vou fazer Marina Lima nos cinemas. Projeto idealizado por mim. Estamos em fase de desenvolvimento de roteiro, escrito pela Vera Egito. A diretora é Joana Mariani, minha prima e parceira criativa”, diz a artista.
UMA LOUCURA: Ter ficado 20 anos apaixonada por uma personagem chamada Cyclone.
UMA ROUBADA: Parque aquático. Fui uma vez para nunca mais voltar na vida.
UMA IDEIA FIXA: Colocar o filme Cyclone de pé. Foram 20 anos entre o primeiro contato com o livro que inspirou o filme e sua estreia no Festival Internacional de Xangai, em junho deste ano. Ao longo do processo, ouvi centenas de — “Desista”, “Não vai dar certo” — mas tinha algo em mim, uma força, um ímpeto, uma teimosia, que me fazia ir em frente mesmo quando tudo ao redor parecia desmoronar.
UM PORRE: Gente deselegante é um porre, gente sem escuta, que só fala de si – que pergunta e responde às próprias perguntas.
UMA FRUSTRAÇÃO: Levar tanto tempo pra fazer um filme independente no Brasil pode ser um processo frustrante e cansativo. Entre começar a sonhar um projeto e finalmente colocá-lo no mundo, leva-se, em média, de oito a dez anos. E a sensação é de estarmos sempre correndo contra alguma coisa — a falta de investimento, a falta de tempo. Filmamos Cyclone em 25 dias. É claro que isso impacta, de alguma forma, o processo criativo. Ainda assim, somos uma indústria potente e profundamente inventiva — porque entregar um filme de qualidade quando tantos fatores parecem estar contra você é, de fato, extraordinário.
UM APAGÃO: Duas cirurgias recentes. Anestesia geral. Um medo avassalador antes, um apagão maravilhoso durante e um despertar pronto pra vida depois.
UMA SÍNDROME: Vivemos em um mundo de excessos. Parece mesmo uma síndrome. Síndrome do excesso de exposição, de posts, selfies, de ideias retrógradas, vazias, uma gritaria surda, síndrome de gente que não tem o que dizer sendo levada a sério….
UM MEDO: Medo de não conseguir produzir a quantidade de projetos, ideias e sonhos que tenho dentro e fora de mim.
UM DEFEITO: Sou muito crítica. Tenho mania de perfeição — meu filho mais novo me chama a atenção o tempo todo, diz: “Mamãe, relaxa, as coisas não precisam ser tão perfeitas.” Tem uma coisa de querer acertar, de ir até o fim, mesmo quando o fim parece não existir.
UM DESPRAZER: Gente preconceituosa, que se recusa a olhar pros lados, a pensar fora da caixa.
UM INSUCESSO: Medo de errar — quando, na verdade, o sucesso nasce justamente da possibilidade do erro, do que é novo e surpreendente.
UM IMPULSO: Tatuar no pé um símbolo japonês aos 18 anos — aquela idade em que a gente acha que sabe tudo e age quase sempre por impulso. Eu achava que o tal símbolo significava uma coisa — mas anos depois descobri com um amigo japonês que significava outra, completamente diferente. Hoje, no mesmo lugar, uma flor azul tatuada – outro impulso, claro.
UMA PARANOIA: Em um mundo patrulha chato e careta, às vezes bate uma noia do que dizer, como dizer, por que dizer…
                
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