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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

Georgiana de Moraes: “Vinicius sabia o efeito que tinha sobre as pessoas”

"A celebração a Vinicius vai muito além de outubro — é diária. E as lembranças vêm como as ondas que tão bem ilustrou em sua obra"

Por Daniela
Atualizado em 15 nov 2025, 12h08 - Publicado em 15 nov 2025, 07h01
georgiana
 (Dalton Assis/Divulgação)
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Vinicius e Georgiana na década de 1950
Vinicius e Georgiana na década de 1950 (./Arquivo pessoal)

A memória de Vinicius é tão presente em nossa família que consideramos outubro, mês de seu aniversário, um tempo de festa e celebração. Um mês Vinicius de Moraes. A intenção é celebrar para sempre o aniversário de seu nascimento, que acaba de completar 112 anos. Nesse fim de 2025, a programação está intensa: a exposição “Vinicius de Moraes — Por Toda Minha Vida”, depois de São Paulo e Porto Alegre, finalmente chegou ao Rio, no Museu de Arte do Rio; e a empresa que cuida de sua obra mudou de nome, de VM Cultural para Kabuletê, um nome musical e divertido que evoca um de seus maiores sucessos.

Como filha que sou, a celebração a Vinicius vai muito além de outubro — é diária. E as lembranças vêm como as ondas que tão bem ilustrou em sua obra. Meu pai era um homem disciplinado e pontual. Dedicado sem ser sisudo. Acordava cedo, tomava café, subia para trabalhar na máquina de escrever e dava uma dormidinha antes do almoço. À tarde, sentava-se na sala e recebia as pessoas — estudantes, jornalistas, amigos, parceiros. Ele sabia quem era e o efeito que tinha sobre elas.

A primeira vez que toquei com meu pai foi em Punta del Este, no Uruguai. Vinicius estava recém-casado com Marta, uma jovem poeta argentina. Tive que insistir muito para que me levasse. Ele não achava justo me dar essa “colher de chá”, participar de um show sem ainda ter uma carreira musical, apenas por ser sua filha. Além disso, ele estava em lua de mel! Mas insisti tanto que acabou aceitando, com duas condições: que eu arrumasse um lugar para ficar e não recebesse nenhum cachê… E assim foi!

Eu tocava um pouco de percussão e me jogava sem medo. Vinicius era um pai carinhoso, mas severo. Um tempo depois, por muita insistência de Miúcha, realizei um sonho: participei do antológico show no Canecão ao lado dela, de Tom, Vinicius e Toquinho. Naquela época, já tinha alguma experiência e dei conta do recado, com o primoroso auxílio do mestre Marçal.

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Vinicius era sempre o primeiro a chegar ao Canecão, pontualíssimo e paparicado por todos. Eram sete shows por semana e, antes das apresentações, ele descansava em seu camarim. Enquanto isso, eu me divertia ensaiando com o coro formado por Cybele (do Quarteto em Cy), Telma Costa, Cristina Buarque e, depois, Ana Jobim, Olívia Hime, Beth Jobim, Ana de Hollanda e Regina Castro Neves. Vinicius sabia o texto de cor e levava o roteiro a sério. Tom até achava graça da maneira como ele se empenhava em dizer tudo, palavra por palavra, sem falhar. O show estreou em 1977 e ficou oito meses em cartaz, de quarta a domingo, com sessões duplas no fim de semana.

A temporada começou na churrascaria Carreta, em Ipanema, onde, como lembra Geraldinho Carneiro, as cadeiras eram muito desconfortáveis. Não me recordo do nome do dono, mas tenho certeza de que ele e meu pai eram muito amigos, o que explica a escolha do lugar. As conversas eram infindáveis, as bolachas de chope se empilhavam, mas Vinicius sempre preferia o uísque. Durante essa temporada, praticamente todos os amigos foram assistir ao show. De vez em quando, figuras ilustres da cena carioca eram convidadas a participar: Chico Buarque, Caetano Veloso, Sérgio Buarque e tantos outros.

E os camarins… Ah, os camarins! Festas intermináveis… Vinicius, muitas vezes cansado, atendia amigos e fãs até tarde e, depois, ainda levava a turma para um restaurante em Ipanema chamado Estrega, cujo chef era o Zé Fernandes, de quem ele gostava muito. O lugar era todo salmão, parecia uma caixa de bombons. Quando chegávamos, logo se formava uma mesa comprida, repleta de comidinhas e bebidas. Os amigos e agregados não paravam de chegar a noite toda. Muitas vezes o cansaço era mais forte e ele deitava no sofá e dormia tranquilo, cercado dos filhos e amigos.

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Depois dessa fase, viajamos para a Europa e fizemos shows nos melhores teatros do continente. Foi um sucesso absoluto! Tivemos que voltar ao Olympia duas vezes, tamanha foi a repercussão em Paris. As memórias são muitas e, passados 45 anos da morte de meu pai, estão tão vivas quanto sua obra.

Georgiana de Moraes é psicanalista, música e diretora da Kabuletê, antiga VM Cultural, criada nos anos 80 para cuidar  do acervo de Vinicius de Moraes. Ela é filha do poeta e compositor, sobrinha de Ronaldo Bôscoli e sobrinha-tataraneta de Chiquinha Gonzaga. 

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