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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

De próprio punho, por Laura Proença: “Minha formação foi o amor à arte”

Atriz fala sobre o pianista Miguel Proença, seu pai, que morreu em agosto deste ano

Por lu.lacerda
4 out 2025, 07h00
eadafs
 (./Reprodução)
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Tive um pai (o pianista Miguel Proença, morto em agosto deste ano) amoroso e criativo, uma verdadeira alma de artista! Com ele aprendi muito sobre produção, sobre fazer projetos, a música, o canto, a importância de se dedicar ao estudo e, acima de tudo, o amor à arte. Essa é a base da minha formação.

Meu pai costumava me dizer, quando eu estava triste ou desanimada, para colocar o “azul do céu” para dentro de mim. E, assim como fazia comigo, mostrava a todos o caminho para encontrar a “saída” para a plenitude. Sempre positivo, incentivava o melhor de cada um de nós.

Ele era um pesquisador incansável, interessado em divulgar a música de concerto, sempre buscando a formação de plateias. Foi pioneiro no resgate de compositores brasileiros e em sua difusão no mundo inteiro. Se todos só tinham olhos para Villa-Lobos, meu pai foi além: pesquisou nomes como Alberto Nepomuceno, Fructuoso Vianna e Ernesto Nazareth, levando-os aos palcos internacionais.

Esse trabalho resultou na Coletânea do Piano Brasileiro que, pela sua importância, recebeu da Unesco o selo de Patrimônio da Música Brasileira. Fez turnês de enorme sucesso no Brasil e no exterior, chegando até o Carnegie Hall. Ele é, sem dúvida, um dos maiores divulgadores da música brasileira erudita de todos os tempos.

Outro campo de atuação tão vital quanto sua sonoridade foi a dedicação ao ensino e à descoberta de jovens talentos. No livro A onda do som — sua biografia, ainda inédita — está registrado como essa experiência lhe proporcionava descobertas e encontros. Sua atenção ia além do piano: ele ajudava alunos a encontrarem sua própria voz artística, buscava oportunidades, conseguia bolsas, emprestava casacos para viagens frias, abrigava jovens em sua própria casa. De uma generosidade rara.

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Foi professor na Alemanha e grande gestor cultural: Secretário de Cultura do Rio, diretor da Sala Cecília Meireles (por duas vezes), curador em convênios com a Universidade de Música de Karlsruhe e com a UERJ, além de presidente da Funarte. Sempre trabalhando pela cultura brasileira, descobria talentos, formava plateias e levava nossa música ao mundo.

Sua trajetória foi de grandes momentos: mais de 30 discos gravados, prêmios, inúmeros concertos em mais de 60 anos de carreira. Mas, acima de qualquer currículo, meu pai era curioso, interessado, antenado, sempre à frente do tempo, sempre descobrindo talentos, acolhendo, aconselhando e abrindo caminhos.

E quem ouve falar desse grande artista, pianista disciplinado ao extremo, talvez não imagine o senso de humor que era sua marca registrada. Sua gargalhada sonora conquistava a todos. Com ele, tudo era leve e possível. Sabia rir de si mesmo e fazia rir com histórias da infância e juventude — até nos períodos em que, afastado da música, exercia sua outra profissão improvável: dentista!

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Para quem pensa em desistir do propósito, ele nos deixou também esse legado: perseverança. Foi essa qualidade que o transformou em um dos maiores pianistas do mundo.

A impressão que fica é que, mais do que um pai, ele era um grande artista, amigo, professor, realizador, pianista. Tudo isso era sua “profissão de fé”. Não parou de idealizar e produzir até o fim. Essa foi sua razão de ser — e sua trajetória continua viva em cada um de nós que, como Miguel Proença, seguimos na arte e pela arte.

Laura Proença é atriz e cantora, formada pela CAL, com diversos trabalhos no teatro, cinema, TV e música. Está em cartaz com o espetáculo “Palavras de Mulher” no Teatro Laura Alvim, às terças e quartas, às 20h. No dia 22 de outubro, às 12h30, apresenta no CCBB Rio uma homenagem ao pai, dentro do projeto Música no Museu.

Laura com o pai Miguel Proença
Laura com o pai Miguel Proença (./Divulgação)
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