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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

De próprio punho, por Fernanda Schein, editora do doc sobre os Menendez

“A indústria americana está deixando a gente sonhar. Tem-se falado muito sobre 'Ainda estou aqui' e estou ansiosíssima"

Por lu.lacerda
14 dez 2024, 07h00
Fernanda Schein
 (Reprodução/Divulgação)
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Nasci no Rio Grande do Sul, na ventosa cidade de Rio Grande, onde histórias pareciam ser sopradas pelo vento. Desde pequena, sempre adorei inventar narrativas – a começar pelas minhas Barbies, que viviam aventuras mirabolantes com enredos que eu criava nos mínimos detalhes. Esse gosto por contar histórias foi muito incentivado pelo meu tio, que vinha do Rio para nos visitar. Ele montava sets elaborados para minhas bonecas e me fazia sentir como uma verdadeira diretora de cinema mirim.

Quando fiz 14 anos, ele me deu um presente que mudaria tudo: meu primeiro livro de roteiro, escrito por Syd Field. A partir daí, contar histórias deixou de ser apenas uma brincadeira e começou a se tornar um sonho concreto.

Anos depois, em Porto Alegre, cursei Publicidade e trabalhei em três produtoras de vídeo, editando comerciais para TV. Foi ali que aperfeiçoei minha técnica e percebi que queria algo mais. Então, decidi arriscar e fazer um mestrado em Produção de Vídeo e Novas Mídias em Los Angeles. Meu filme de tese, “The Boy in the Mirror”, foi minha primeira grande aposta: dirigi, produzi, editei e vi meu trabalho ser premiado em vários festivais, com exibições em cinemas de LA. Com isso, consegui o visto de trabalho que me trouxe para os Estados Unidos, onde estou há quase 10 anos.

Nos primeiros anos, trabalhei muito com publicidade e vídeos para mídias sociais, inclusive para a Flex Company, uma empresa incrível, liderada por uma CEO mulher, com foco em produtos menstruais sustentáveis. Mas, em 2018, tive a chance de dar um salto: fui chamada para trabalhar no documentário do Neymar para a Netflix. Essa oportunidade surgiu através do Hollywood Brazilian Film Festival, que me indicou à produção por eu falar português e dominar o Avid Media Composer (um software de edição).

Depois do Neymar, minha trajetória na Netflix deslanchou. Trabalhei em projetos, como “Poisoned”, vencedor do Emmy, o documentário sobre o “Caso dos Irmãos Menendez” (sobre o assassinato de José e Mary Menendez cometido por seus filhos Erik e Lyle, na Califórnia, em 1989. No julgamento, eles alegaram serem vítimas de abuso sexual por parte do pai, com o conhecimento da mãe), e uma nova série de true crime que está em pós-produção e será lançada no próximo ano. Paralelamente, fundei uma empresa de pós-produção com meu marido João Vitor de Sá, onde damos suporte técnico e criativo a cineastas independentes. Um dos nossos trabalhos mais especiais foi o curta “Last Minute”, do diretor brasileiro Joel Júnior, que nos rendeu três prêmios internacionais de melhor montagem.

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Hoje, estou animada para explorar novas possibilidades no conteúdo roteirizado. Apesar dos últimos anos difíceis – pandemia, greve de atores e roteiristas –,  há um clima de esperança para 2025, e estou otimista em relação aos desafios.

Falando em 2025, também promete ser um ano incrível para o cinema brasileiro. O filme “Ainda estou aqui”, que está nos cinemas do Brasil (vá assistir!) e chega aos cinemas dos EUA em 17 de janeiro, está cotado para o Oscar. A indústria americana está deixando a gente sonhar: tem-se falado muito sobre o filme, e eu estou ansiosíssima pelas indicações em janeiro! Minhas apostas incluem Melhor Filme Internacional, Melhor Atriz para minha xará Fernanda Torres, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Direção e Melhor Montagem.

Por sinal, a montagem desse filme foi feita pelo Affonso Gonçalves (paulistano), um editor brilhante, com quem tive o privilégio de trabalhar na série do Neymar. Ele já foi indicado ao Oscar por “Carol”. Estou torcendo muito por mais uma indicação para ele – seria merecidíssima.

Minha trajetória mistura sotaques, histórias e uma boa dose de coragem. Levo comigo as ventanias de Rio Grande, a paixão de Porto Alegre e a resiliência que só uma década em Hollywood pode ensinar. E, enquanto espero pelas próximas aventuras, sigo torcendo para que 2025 traga novas histórias – e, quem sabe, algumas estatuetas douradas para o Brasil.
Fernanda Schein é cineasta e editora de cinema, além de instrutora de ioga. Um dos seus últimos trabalhos foi o documentário “O Caso dos Irmãos Menéndez” (Netflix), que estreou em outubro, sobre um dos crimes mais famosos dos EUA: os irmãos que assassinaram os pais. “Eles gostariam que a série fosse contada por um olhar não americano, porque foi algo saturado pela perspectiva deles”. Ela também acaba de estrear “Escadaria do Amor” no LABRFF, festival de cinema brasileiro em Los Angeles. 

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