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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

De Próprio Punho, por Edilson Martins: “Marina, retrato da ministra jovem”

Hoje, a ministra Marina Silva é ex-seringueira, e sua família são filhos desse ciclo, regime praticamente escravagista, como foram todos eles na história

Por lu.lacerda
7 jun 2025, 07h00
 (./Arquivo pessoal)
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Estamos na Semana do Meio Ambiente. Essa foto, com mais de duas décadas, exatamente de 2002, nos mostra uma jovem Marina da Silva a caminho de um Seringal no estado do Acre.

Hoje ministra Marina Silva é ex-seringueira, e sua família são filhos desse ciclo, regime praticamente escravagista, como  foram todos eles na história do desenvolvimento brasileiro. O seringal foi a unidade de produção do Ciclo da Borracha, tal o ciclo do café, da cana de açúcar ou, mesmo, do ouro. Ele alavancou a economia da Amazônia na passagem do século XIX para o XX.

As pessoas se surpreenderam quando, recentemente, essa mulher, fisicamente frágil, intoxicada pela atividade de seringueira que ela sempre foi, bateu de frente contra os senadores da República e não fraquejou, não se intimidou, não se vitimizou, não ensaiou clemência. Peitou, sozinha, essa misoginia histórica, os dinossauros das mudanças climáticas, os negacionistas. Foi um episódio que impactou o país e repercutiu no exterior, já que ela hoje é um ícone da questão ambiental com dimensões globais.

Na foto, em que estou a seu lado com Bruno Martins, diretor de TV, nos dirigíamos para o seringal Bagaço, no Acre, o mesmo onde morei e vivi.

Como documentarista do filme “Chico Mendes – Um Povo da Floresta”, que aborda a luta do líder seringueiro e seus companheiros em defesa da Floresta Amazônia  a tinha convencido a deixar Brasília e visitar suas oito irmãs no referido seringal Bagaço.

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As gravações, expliquei, “seriam menos caretas, menos clichês, teriam mais autenticidade”.

Marina Silva já era parlamentar pelo Acre, e viajamos de carona em seu fusquinha caidaço, onde fomos recebidos por sua família na “colocação” onde moravam. “Colocação” é uma casa sobre palafitas, super-humilde, no meio da selva.

Marina tinha se elegido pela condição de discípula, herdeira do líder seringueiro Chico Mendes (1944/1988), assassinado, em Xapuri, no Acre, duas décadas antes defendendo o meio ambiente contra a invasão de fazendeiros querendo impor fazendas de gado, destruindo a Floresta Amazônica.

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Curioso é que essa foto precedeu um telefonema de Luiz Inácio Lula da Silva, logo depois, candidato a presidente da República. Ele lhe disse que, se fosse eleito, a convidaria para ministra do Meio Ambiente. Claro que Marina Silva não levou a sério, já que duvidava de se eleger.

Jamais imaginaríamos que essa banal foto, sob o calor dos infernos, registraria um momento singular, inimaginável, na história do Brasil. Uma seringueira que mais tarde seria ministro de Estado e se tornaria uma legenda global. Sim, porque Marina Silva é uma cidadã planetária, o que talvez não aconteça com nenhum dos que lhe pediram que reconhecesse “o seu lugar”. Sua fala foi grosseiramente cortada várias vezes.

Mas Marina foi firme diante da mesma penca de homens que, no passado, humilhou os seringueiros, gente danada que anexou o Acre ao Brasil. Ressuscitou as seringueiras pai d’éguas, das quais procedo.

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O não de Marina foi solitário, sofrido, acuado, mas corajoso e lindo.

Curioso é ser a única entre os políticos brasileiros a que o mundo se curva e reverencia.

Edilson Martins é jornalista, escritor, documentarista, formado em Filosofia pela UFRJ. Tem, na Amazônia, as pautas principais de seu trabalho. Edilson dirigiu o documentário “Chico Mendes – Um povo da floresta”, de 1989, e ganhou o prêmio Vladimir Herzog, o mais importante da TV brasileira. São dele as últimas imagens do líder seringueiro. Posteriormente, Edilson dirigiu a série “AmazôniaAdentro”. Tem oito livros publicados centrados nas questões indígena e ambiental. Edilson Martins está lançando,  na Bienal, o livro “Nossos Índios, Nossos Mortos” (Letra Capital Editora), no sábado (21/06), às 15h. Nesse livro, os povos originários deixaram de ter representação e tornaram-se agentes de suas denúncias. 

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