Comunicação Não Violenta, por Marie Bèndelac: entre metas e Burnout
Como a comunicação empática ajuda empresas a obterem mais resultados sem adoecer pessoas

“Batemos as metas, mas perdemos dois colaboradores importantes.”
Essa frase me foi dita por um gestor em uma grande empresa: dois afastamentos por Burnout, em um ambiente de pressão extrema. Um time silenciosamente adoecido.
Essa realidade é mais comum do que parece. De acordo com a Harvard Business Review, 76% dos profissionais relatam impactos negativos na saúde mental, causados pelo trabalho.
A McKinsey Health Institute afirma que um em cada quatro trabalhadores brasileiros sofre de exaustão severa e que o maior gatilho não é a carga de trabalho em si, mas o clima emocional e a qualidade das relações. Isso mesmo: a qualidade das relações.
No entanto, há uma boa notícia: a cultura organizacional é transformável. E a forma como líderes se comunicam e se relacionam com seus times pode ser um divisor de águas. Em outras palavras, a comunicação pode ser cura ou veneno.
É claro que toda empresa tem metas (eu mesma sou empresária e sei dos desafios de atingir os objetivos), mas nem todas compreendem que a maneira como elas são comunicadas é tão importante quanto sua execução. O problema, geralmente, não é a meta em si: é como se chega até ela.
Em ambientes em que há imposição, sarcasmo, indiretas, sobrecarga sem escuta, humilhação velada, ausência de empatia e até gritos, a pressão vira opressão, a cobrança vira ameaça e a liderança perde o engajamento dos colaboradores, ainda que mantenha uma sensação de controle.
Cuidar da comunicação é essencial e estratégico. Em muitas organizações, observei uma comunicação ainda marcada por:
– feedbacks ríspidos ou ausência de feedbacks;
– silêncio hostil;
– metas impostas sem escuta;
– lideranças que confundem firmeza com agressividade.
Nesse cenário, é que a Comunicação Não Violenta (CNV), criada pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, se torna um diferencial competitivo. Através de um método, a CNV ensina líderes a se comunicarem com clareza, empatia e responsabilidade, sem abrir mão de resultados. Não se trata de suavizar as metas, mas de humanizar o caminho até elas.
Seguem três exemplos de como a CNV pode contribuir para melhorar a saúde mental nas empresas:
1. Reduz a ansiedade com feedbacks claros e respeitosos
Feedbacks feitos com empatia e objetividade evitam mal-entendidos, culpa excessiva e insegurança.
Resultado: mais clareza emocional, menos estresse.
2. Previne o Burnout com escuta ativa e validação emocional
Ambientes em que colaboradores podem expressar sobrecarga sem medo são mais saudáveis e produtivos.
Resultado: sensação de acolhimento e confiança psicológica.
3. Fortalece a autoestima com relações mais empáticas entre líderes e times
A CNV estimula a escuta empática. Além disso, substitui cobranças veladas por pedidos claros e elogios genéricos por reconhecimento genuíno.
Resultado: aumento do engajamento e do senso de pertencimento.
Com a atualização da NR-1, empresas agora têm obrigação legal de identificar e mitigar riscos psicossociais. Isso inclui falas violentas, posturas autoritárias e ambientes emocionalmente inseguros ou tóxicos.
Ignorar isso não é só um risco humano: é um risco jurídico.
Apesar de vários aspectos desafiadores em termos de execução, vejo as novas obrigações da NR-1 como uma oportunidade de fomentar culturas corporativas mais saudáveis e sustentáveis.
Líderes despreparados custam caro, pois adoecem times, aumentam a rotatividade e expõem a empresa a processos e prejuízos invisíveis. Empresas que treinam suas lideranças em CNV percebem muitos benefícios, por exemplo:
– redução de conflitos improdutivos;
– maior engajamento dos colaboradores;
– queda no absenteísmo por questões emocionais;
– fortalecimento da cultura organizacional.
Comunicar com empatia não é ser “fofo” nem bonzinho — é ser estratégico e cuidadoso. Empresas que entendem isso crescem com consistência e com equipes mais saudáveis e produtivas.
Boa semana, com mais empatia e mais saúde mental!
