Aos 92, Maria Christina Lins do Rego mostra que memória não envelhece
Filha de José Lins do Rego, um dos maiores romancistas do país, a publicação mostra que a autora é também uma verdadeira contadora de histórias


















Maria Christina Lins do Rego Veras lançou seu 6º livro, “Lembranças Passageiras”, nessa quinta (02/10), na Livraria Argumento, no Leblon. Filha de José Lins do Rego, um dos maiores romancistas do país, a publicação mostra que a autora tardia (só começou a escrever depois dos 70) é também uma verdadeira contadora de histórias. Maria também frequentou por anos a Oficina Literária Ivan Proença (OLIP), coordenada pelos professores Ivan Cavalcanti Proença e sua mulher, Isis Proença.
Conviveu bastante com o pai, nas visitas do escritor a Atenas e Helsinki (onde morava com o marido, o diplomata Carlos Veras), até 1957, ano da morte de José Lins. Depois, rodou o mundo em endereços como Lisboa, Nova York, Buenos Aires, Milão, Quênia, Bucareste e Kingston. Entre recepções diplomáticas e encontros com nomes da literatura e das artes, nunca perdeu as lembranças da infância — das visitas ao engenho do avô Senador Massa, em João Pessoa, ao convívio da família na Rua General Garzon, no Jardim Botânico, das tardes de Maracanã com o pai na tribuna do Flamengo às manhãs no clube Piraquê, na Lagoa.
Aos 92 anos, pode-se dizer que Maria Christina é uma memorialista — e das boas. Começou a escrever por impulso, quando voltou à Praia Formosa, na Paraíba, e ficou frustrada ao ver as transformações urbanísticas que descaracterizaram o lugar. Subiu para o quarto do hotel e registrou as lembranças, inclusive o seu primeiro contato com o mar.
Costuma dizer que só se sentiu livre para escrever depois da morte do pai. José Lins era companheiro, mas também “machista” e, entre as escritoras, só admirava Rachel de Queiroz, Lúcia Miguel Pereira e Clarice Lispector e achava que escrever seria “uma audácia”.