Alair Gomes: uma exposição do cacete
A atmosfera quente “de laboratório fotográfico” ajuda a entrar no clima (X) em 60 imagens de pênis (em estado natural e excitados) e bundas masculinas


As sensações do público na mostra “Alair Gomes: o erotismo no belo”, em cartaz até agosto no Paço Imperial, têm sido, digamos, um experimento social. A atmosfera quente “de laboratório fotográfico” ajuda a entrar no clima (X) em 60 imagens de pênis (em estado natural e excitados) e bundas masculinas ampliadas pelo próprio artista, morto em 1992, em acervo arquivado por mais de 25 anos, sob curadoria de Luiz Pizarro.
Na abertura da mostra, uma espectadora comentou: “Uns caras gostosos desses, e eu não fiquei com tesão!”. Pizarro explica: “É artístico. A beleza plástica é mais importante do que tudo ali. Nem gosto de chamar série erótica porque, hoje em dia, essa palavra é tida como pornográfica, mas está muito distante disso”.
As imagens são da coleção de Klaus Werner, jornalista alemão e grande amigo do artista, em série provocativa, considerando o período em que foram criadas: as décadas de 1970 e 1980. “Quando ele fez isso, acreditava que as pessoas não estavam preparadas e dizia que, dali a 20 anos, entenderiam. Mas só piorou. Olha pra onde estamos indo? Não sei se Alair estaria conseguindo fazer essas fotos se fosse hoje. Chamar alguém pra posar era uma honra pra pessoa, uma coisa poética, um glamour. Hoje em dia, ele levaria um tapa e ainda o chamariam de ‘viado’, porque estamos numa regressão absurda”.
O trabalho de Alair foi apresentado em retrospectiva na Fundação Cartier, em Paris, em 2001, com imagens que integram o acervo da Biblioteca Nacional no Rio. Algumas de suas obras fazem parte do acervo do MoMA (NY), do MAM Rio e do Instituto Cultural Gilberto Chateaubriand.