A crítica de “Senhor Diretor”, com Analu Prestes
Espetáculo é baseado no conto homônimo de Lygia Fagundes Telles
Lygia Fagundes Teles foi uma mulher muito, mas muito, à frente de seu tempo: foram 104 anos de talento, luta, posicionamento, de literatura ímpar. Ao mesmo tempo, denunciava as feridas de opressão da condição feminina, construía personagens ímpares. É o caso do seu conto “Senhor Diretor”, que, em forma de missiva, uma mulher tenta fazer ouvir sua voz na contramão da história.
Analu Prestes nos apresenta todos os conflitos, desejos, contradições, pequenas alegrias, tristezas sem cura no espetáculo “Senhor Diretor”. Em primeira pessoa, condizente com o gênero do conto, a carta, Analu extrai todos os sentimentos capazes de convergir, misturar e explodir na sexualidade reprimida, no amor abafado de uma professora solteirona, como o discurso preconceituoso da época. É capaz de explodir quando é uma figura invisível.
A pequena arena se transforma em palco gigante, um Maracanã para a grande intérprete, capaz de fazer jogadas de craque e apresentar inúmeros gols de placa à plateia. A direção de Silvia Monte é certeira para permitir que Analu possa depositar peso nas palavras, mas mantendo os gestos tímidos, concisos, quase que escondidos, medrosos e tímidos ante o mundo que a incapacita.
Analu escolhe o figurino atemporal, definidor da personagem, da sua tentativa de equilibrar-se em um pretenso passado da elite e o abandono em que vive na atualidade. A perda das amigas, dos sobrinhos (com relacionamento apenas formal) encontra inflexões e gestos da atriz camaleônica e talentosa, que é Analu.
Analu, artista plástica e cenógrafa, emoldura a vida limitada de Maria Emília. Todos os movimentos — por conta das dimensões da pequena arena que é o Espaço Abu — conseguem concentrar e focar a qualidade do texto, que, apesar dos temas morte, envelhecimento, solidão, é uma explosão de vitalidade.
Serviço:
Espaço Abu ( Av. Nossa Sra. de Copacabana, 249)
Sexta a domingo, às 20h