5 perguntas para Renato Caminha: “Família é uma fonte de conflito”
"A base de qualquer resgate se chama empatia — a capacidade de ler o outro, entender suas necessidades e validá-las"
O psicólogo e terapeuta cognitivo Renato Caminha mal lançou “Um Labirinto Chamado Família”, em agosto, e já está na 2ª edição. “Atribuo isso ao meu editor, Ivan Pinheiro Machado (L&PM Editores). Ele é foda!”, diz.
O labirinto é uma metáfora para definir a família, um sistema complexo onde as relações são frequentemente confusas, cíclicas e difíceis de navegar. É sua 27ª publicação — a maioria, digamos, leituras mais técnicas sobre parentalidade e saúde mental. Cinco títulos, no entanto, foram pensados para o público leigo, ou seja, nós. No ano passado, ele lançou com a mulher, a escritora Thalita Rebouças, o “Falando Sério Sobre Adolescência”.
Mas sua vida, além de lançar livros, é participar de eventos e lotar plateias com as palestras, tanto para profissionais da área quanto público em geral, com temas sobre como lidar com pais críticos, como o ciúme afeta o casal, e como a regulação emocional dos pais é vital para a saúde mental dos filhos. Por exemplo, ele falou com a coluna de Salvador, na Bahia, no intervalo de um workshop sobre regulação emocional. Quem aí não precisa?
Agora, Renato prepara um curso on-line sobre relações tóxicas na família, inspirado no livro, com início em janeiro.
Renato é mestre em Psicologia Social e da Personalidade e virou sucesso nas redes com seus vídeos sobre os mitos da relação entre pais e filhos — um tema sempre atual. Afinal, todo mundo é filho de alguém… ou mãe e pai de alguém.
1 -Todo labirinto tem uma saída. Em que momento é hora de procurar essa saída?
É importante que a gente trabalhe para superar as crenças sociais, quando nos dizem que “família é laço de sangue” ou “família é para sempre”. A cultura e a religião fortalecem muito isso. Nunca tivemos uma cultura tão narcísica, em que as individualidades e as necessidades pessoais são tão fortes e valorizadas. Família é, por natureza, uma fonte de conflito — e, muitas vezes, de toxicidade. Por isso, é fundamental identificar isso cedo, porque está diretamente ligado à nossa saúde mental, à resiliência e à capacidade de nos mantermos bem.
2 – Por que é tão difícil romper com vínculos que nos adoecem — e como começar a se libertar sem carregar o peso da ingratidão?
Porque aprendemos que somos punidos quando rompemos com a família. Somos vistos como monstros que “viraram as costas”. Mas há várias formas de rompimento: colocar limites é uma delas. Em alguns casos, porém, não há outro caminho a não ser o rompimento radical.
3 – No livro, você fala sobre o desafio entre “buscar a sanidade ou mergulhar na dor”. Vivemos um tempo em que as pessoas estão mais conscientes das feridas emocionais — mas também mais dispostas a expô-las. Isso ajuda ou atrapalha a cura?
Ter mais consciência é ótimo, mas essa sociedade narcísica em que vivemos traz um efeito colateral: o foco excessivo nas próprias necessidades. O ideal é equilibrar — entender que temos desejos e motivações, mas que isso não pode apagar a importância do outro nas nossas relações.
4 – O afeto é muitas vezes confundido com controle. Como diferenciar cuidado de aprisionamento emocional, quando o amor vem “embrulhado” em culpa ou chantagem?
Esse é um tema que também aparece em outro livro meu, Mitos da Parentalidade. Muitos pais têm a mania de escrever roteiros para os filhos: querem que estudem, se formem, ganhem dinheiro, sejam heterossexuais, bem-sucedidos… e por aí vai.
Pergunto: “Mas por quê?”. Às vezes espero uma resposta nobre — “Ah, não quero que sofra preconceito” —, mas ouço: “Porque é o certo”. Criar filhos é embarcar numa aventura sem mapa. Você não sabe quanto tempo vai durar, se vai ter tempestade, se o barco vai aguentar. E, mesmo assim, a gente embarca. O maior ato de amor é colocar alguém no mundo sem exigir que ele cumpra o seu roteiro. A única coisa que desejo para os meus é que sejam do bem. O resto é com eles. Educar é um ato incontrolável — e, como eu costumo brincar, ter filhos é jogar dados com Deus.
5 – O que você diria a quem sente que o amor familiar deixou de nutrir e passou a drenar? É possível amar à distância emocional sem romper o laço?
É mais comum do que parece o afastamento emocional nas famílias. Muitas vezes, se os pais não insistirem, os filhos nem visitam. Mas o amor verdadeiro independe da distância: quando há afeto consistente, ele resiste ao tempo e à ausência. Agora, se os conflitos não foram resolvidos, é natural que venha o distanciamento. Relações amorosas são resgatáveis? São. Mas a base de qualquer resgate se chama empatia — a capacidade de ler o outro, entender suas necessidades e validá-las, mesmo quando são diferentes das nossas.
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