Psicólogo do cotidiano: a vida de um bartender
Nem só de coqueteleiras e drinques se constrói uma carreira de barman
Bryan Flanagan tinha acabado de sair do exército. Cansado de viver as mínguas de uma cidade pequena, mudou-se para Nova Iorque, símbolo da prosperidade americana, em busca de sucesso e riqueza. Focado neste objetivo, subiu por dezenas de vezes, incansável, os elevadores de muitos prédios da Wall Street. A cada entrevista uma decepção. Suas habilidades militares não eram suficientes para conseguir um espaço neste mundo tão competitivo. Sem diploma, sem chance. Dia após dia, o sonho de enriquecer no mercado de ações foi sendo negado. Tudo o que ele não desejava era seguir os passos do tio, que vivera décadas cuidando de um pequeno bar no interior americano. “Não quero trabalhar a vida toda atrás do balcão de um bar e acabar como meu tio. Sem um futuro”, dizia ele a cada entrevista.
Cansado de ter portas e mais portas fechadas, o jeito foi conseguir algum emprego que pudesse bancar os custos de morar na capital do mundo e financiar uma faculdade, afinal a única coisa clara e real que ele conseguiu fora a certeza que bons empregos requerem muito estudo. Entre entradas e saídas do metrô, observou na porta de um bar um anúncio de vaga para barman. Mesmo não sendo o emprego sonhado, decidiu entrar para conversar sobre a vaga, afinal, era melhor servir bebidas e ganhar algum dinheiro do que voltar para a cidade natal frustrado. Uma espécie de trabalho temporário, só até arrumar algo “melhor”.
Está se perguntando: mas de quem eu estou falando afinal? Sem mais spoiler, este é o enredo do filme Cocktail, estrelado por Tom Cruise, Bryan Brown e Elizabeth Shue, lançado em julho de 1988. Qualquer semelhança com a vida real de um bartender NÃO é mera coincidência. Todo profissional de bar já viu este filme, no mínimo, dez vezes. Se você nunca assistiu, vai se surpreender, afinal, além de muito enriquecedor, ainda tem as estrelas do filme em início de carreira. Bryan Flanagan (Tom Cruise) se aventura neste romance fazendo truques e exibindo todo seu carisma para atrair a clientela e ganhar boas gorjetas. O resto descubra você mesmo.
Não existe bar se não existir barman
Desde quando comecei esta jornada de trabalhar atrás do balcão, muito coisa mudou, e, com muito esforço, hoje temos uma coquetelaria nacional respeitada, com ótimas pessoas trabalhando e enriquecendo a profissão. De fazedores de caipirinhas e batidas de leite condensado a profissionais respeitados, passamos por muita coisa nestas últimas duas décadas. Antes desrespeitada e cheia de preconceito, agora enaltecida e com cada vez mais adeptos. Trabalhar em bar nunca foi sinônimo de sub-emprego ou coisa de quem não gostava de estudar. Ser barman, para muitos desinformados pode soar estranho, mas é uma das profissões mais bem-sucedidas atualmente.
Vamos analisar um cenário profissional: NÃO existe faculdade para bartender. Isso não significa que um profissional de bar é menos qualificado que um profissional com curso superior. Sabe por quê? Você faz ideia de quanto se precisa estudar, ler, pesquisar par entender sobre bebidas, drinques, misturas, estilos de bar, equipamentos? Ou a psicologia em atender, ouvir pessoas, viver diferentes experiências no mesmo turno de trabalho? Você sabia que um bartender tem a obrigação em saber sobre psicologia, administração, finanças, comportamento, comunicação e muitos outros atributos somente para fazer seu coquetel favorito? Você já sentou no balcão de um bar e conversou com um bartender? Você pode se surpreender ao perceber o quanto informado ele está, sobre os assuntos atuais que estão nos noticiários.
Somos muito mais que simples batedores de coqueteleiras. Não existe bar se não existir barman. Nós somos a alma do bar. Quanto mais qualificado for o profissional, melhor será o bar. Perceba que, graças à nossa inquietude, hoje muitos são os bartenders que comandam seus próprios bares. Isso era impensável cerca de dez anos atrás. Sábios são os empreendedores que entenderam a importância de investir em profissionais de bares para compor uma sociedade. Esta iniciativa iniciou com chefs de cozinha no passado e agora está pulsante com profissionais de bar. Ainda existem alguns que pensam coquetelaria como bagunça, bebedeiras e rebeldia. Para estes falta amadurecimento, bons exemplos e direcionamento.
Novas gerações de bartenders nascem todos os anos. Hoje existe um campo fértil e cheio de oportunidades nesta profissão. Jerry Thomas, o pai da coquetelaria, já ensinava hospitalidade, carisma, truques de bar e receitas autorais desde 1860. Levou se mais de cem anos para compreendermos seus ensinamentos. Muito mais que drinques, fazemos psicologia do cotidiano todo santo dia, com uma única certeza: nunca saberemos quem vai adentrar pela porta e quais serão as experiências vividas. Nesta segunda, 4 de outubro, celebramos o DIA INTERNACIONAL DO BARTENDER. Um brinde a todos aqueles profissionais de bar que fazem deste mundo um lugar melhor para se viver. Se todas as pessoas do mundo bebessem um Dry Martini diariamente no seu balcão preferido, metade dos problemas do mundo não existiriam.
Cheers.