Vida off-line: a esperança que vem do campo
Empresas e pessoas engajadas em um estilo de vida mais sustentável contribuem com a sociedade, promovem empregos e recuperam o ecossistema
Leite da fazenda, puro, rico em vitaminas. Ovo caipira, fruto da galinha cuidadosamente alimentada com milho plantado na própria fazenda e criada sem a pressa em atingir o peso ideal de abate. A ave passeia livremente, em meio à hortaliças, legumes, tubérculos e árvores das mais diferentes variedades de frutas. Uma ótima descrição do dia a dia de um pequeno sítio, espalhado aos milhares pelo Brasil. Essa rotina diária nunca foi tão valorizada e invejada como no atual cenário global.
As grandes cidades estão espremidas entre largas avenidas e imensos arranha-céus, calçadas abarrotadas de pessoas focadas em seus smartphones, com pressa, stress, resultados, metas. A vida social é, na sua imensa maioria, cultivada nos aplicativos. Abraços virtuais, reuniões de família e amigos on-line. Stress, solidão, agressividade, alcoolismo, gula e tantos outros sintomas já foram detectados nesta chamada “vida moderna”. A pandemia só acelerou tais sintomas. A internet é sim a maior ferramenta do século XXI. Não se vive sem ela. Até mesmo o sítio totalmente sustentável é refém do wi-fi.
Toda essa modernidade e pressão tem aumentado o interesse e a procura por uma válvula de escape para suportar tal condição. O interior do Brasil nunca foi tão valorizado, tão procurado pelos adeptos das selvas de pedra. Já se espalham aos milhares os pequenos sítios sustentáveis, cheios de vida natural, em harmonia absoluta com o ecossistema. Piqueniques, almoços sob parreirais, vinhos artesanais, alimentos sem agrotóxicos, açúcares naturais, gorduras vegetais, iluminação solar ou fogo de chão.
Estes e tantos outros atrativos aumentam um turismo totalmente sustentável, geram empregos e movem a economia destes pequenos centros em meio a uma pandemia que assola o mundo. Hotéis fazenda se proliferam, destilarias artesanais e pequenas vinícolas ganham vida. Água de fonte. Roda D’água. Fogo de caldeira. Canaviais, milharais, hortas, estufas, florestas de flores. Não, não estou descrevendo o Japão. É o rico e pulsante interior brasileiro. Logo ali. A poucos quilômetros das marginais, das aglomerações diárias dos transportes públicos. Dos elevadores lotados. Por lá não existem aglomerações nem fila de espera. Lá tem vida pacata, comida de verdade e natureza.
O Agro brasileiro está em destaque global há algum tempo. Recordes em produção e exportação, fazem do nosso interior, uma das maiores potências produtivas de alimento do planeta. Nos próximos anos, o Brasil será o país que alimentará o mundo. Finalmente parece que estamos nos conscientizando em tomar o caminho contrário. Estamos aprendendo a conviver em harmonia com a natureza e o meio ambiente.
Temos muito caminho pela frente, mas já é notável a conscientização de várias pessoas quanto à importância da sustentabilidade. Produção de gim, cachaça, vermute e vinho artesanal já são mais do que novidade. São uma realidade que se espalha pelas fazendas interior afora. Vinícolas gaúchas abrem seus portões aos finais de semana para, não mais ter fluxo de caminhões indo e vindo com milhares de garrafas e, sim, para receber famílias em busca de refúgio na natureza.
O ar livre, a sombra, o gramado, o pé descalço na terra. O contato com animais livres. A horta ao alcance das mãos. Aprender a fazer pão caseiro, usando forno a lenha, ou colher os frutos que você mesmo escolher, assim, simplesmente debaixo de uma árvore. Passear a cavalo, acariciar uma ovelha ou mesmo, aos mais corajosos, ordenhar uma vaca antes do sol nascer. Coisas que estão disponíveis para todos nós. Bastam alguns cliques na internet e você descobrirá, muito próximo à você, um lugar com estas características ou serviços. O sul do Brasil tem essas opções aos montes, e o incrível é que o investimento financeiro é igual a um jantar nos grandes centros.
O Nordeste brasileiro é outro exemplo. Praias escondidas, vila de pescadores, peixe fresco e zero desperdício. Brincar nas dunas maranhenses, beber água de coco em Alagoas ou ajudar o artesanato local de Sergipe, comprando artigos mais baratos que uma cerveja, significativos como ouro para o sustento local. Dizem que a felicidade não tem preço, mas confesso que ela custa pouco. Junte quem você ama e tenha experiências felizes e altamente saudáveis nestes pequenos paraísos. Fará um bem imenso ao seu sistema nervoso central. Para quem é adepto a charutos como eu, nada melhor do que caçar uma fazendola, onde você possa experimentar uma cachaça direto do alambique.
Comer ótimos queijos, salames e pães caseiros, fumando calmamente seu cubano favorito, isso tudo depois de passar horas montado em um cavalo, vestido adequadamente para a ocasião (cavalgar sempre de calça jeans), respirando o ar do campo, sem telefone, sem hora e sem pressa. Se você nunca o fez, não sabe o que está perdendo e não imagina o bem que faz. Recomendo a prática exagerada deste hábito. Faça essa conexão off-line, sem fios, com sua família. Partilhe o pão caseiro com as mãos (hábito cristão e muito praticado no interior), compartilhe o vinho com a mesa e agradeça pela enorme benção de estar vivendo livre, sem chefe, sem hora, sem pressa. É legal, é moral e não engorda.
Cheers.