O futuro é agora: SXSW 2025 e as tendências que vão redesenhar a sociedade
O pensamento futuro e a previsão estratégica foram temas recorrentes ao longo do evento

Você já parou para pensar como avanços tecnológicos e a dificuldade de manter relações humanas num ambiente permeado por máquinas estão mudando o mundo? Neste ano, o South by Southwest (SXSW), um dos mais importantes festivais de inovação que acontece desde 1987 em Austin, trouxe um termômetro dessas e de outras grandes tendências. Para se ter uma ideia, foi no SXSW que a Uber nasceu, o Twiter ganhou tração e previsões ousadas se tornaram realidade, como ser possível solicitar um veículo autônomo por aplicativo. Quem esteve lá nessa edição, pode ter visto novamente isso acontecer.
Quais foram os principais destaques desse evento e como eles se conectam com a nossa realidade? Uma equipe da Casa Firjan acompanhou os principais painéis do festival e, como já era previsto, a inteligência artificial (IA) dominou as discussões, indo muito além da automação. Empresas já testam agentes de IA para gerenciar fluxos de trabalho complexos, desde o atendimento ao cliente até a análise de dados estratégicos. No entanto, garantir a transparência e a ética desses sistemas segue sendo um desafio que ainda suscita discussões acaloradas.
Outra pauta bastante discutida no festival foi o futuro da saúde, que será profundamente transformado pela tecnologia. A IA promete descobertas médicas mais rápidas, monitoramento em tempo real e novos tratamentos. Aliás, o empoderamento dos pacientes por meio de ferramentas digitais também ganhou repercussão. O feedback tátil em próteses biónicas é um dos grandes benefícios na união da IA com a robótica. A tecnologia vestível desempenha um papel crescente no bem-estar.
Saúde social, IA X arte e Rede social aberta
No SXSW 2025, diversos cases ilustraram a aplicação de tecnologias emergentes e novas abordagens em diferentes setores. O Museu do Futuro em Dubai foi apresentado como um exemplo de como combinar arte e tecnologia. No evento, os artistas utilizaram IA generativa para criar uma experiência imersiva através de fotos do mundo natural. Aí está, aliás, outra discussão que vai render, vide a polêmica trend do uso de IA para criar imagens inspiradas no estilo das animações do Studio Ghibli. Ainda que o movimento tenha apresentado o trabalho de Hayao Miazaki para o mundo, o próprio artista se mostrou crítico a tecnologias semelhantes em uma entrevista anterior a essa repercussão, e afirmou que jamais usaria IA usaria em suas obras. Qual é o limite da IA na criação artística?
No mesmo compasso, a Disney Experiences demonstrou a convergência de imaginação, inovação e o futuro da narrativa experiencial. O projeto Reclamation City destacou o uso de gêmeos digitais para transformar áreas urbanas degradadas em espaços verdes. A Bluesky trouxe a proposta de remodelar o cenário online, oferecendo uma rede social aberta que devolveria o controle aos usuários, proporcionando maior autonomia sobre seus dados. Essa, que foi uma das palestras mais assistidas, tratou dessa rede social como “à prova de bilionários”.
Mas não para por aí. Os lançamentos de empresas disputaram o ranking de assuntos mais surpreendentes: A missão Quesst da NASA foi apresentada como uma iniciativa para mudar o limite de velocidade supersônica, abrindo caminho para viagens aéreas mais rápidas; a Colossal Biosciences compartilhou seus avanços no uso de edição genética, clonagem e úteros artificiais para a restauração de espécies extintas e a criação de tecnologias para salvar espécies existentes; a Chan Zuckerberg Initiative detalhou sua visão de construir células virtuais alimentadas por IA para acelerar a pesquisa biomédica e a busca por curas e prevenção de doenças.
O pensamento futuro e a previsão estratégica foram temas recorrentes ao longo do evento, com sessões dedicadas à importância de identificar sinais de mudança e a construção de estratégias a longo prazo. Em tempos de pós-pandemia e de impacto na demografia mundial, a importância da saúde social, tema de abertura, foi amplamente debatida, com foco na conexão humana, saúde mental e o impacto da tecnologia no bem-estar individual e coletivo. Como vamos nos reorganizar para o contato social? E que tipo de sociedade queremos no futuro a partir das escolhas que fazemos hoje? Esses pontos, inclusive, foram aprofundados no podcast Lab de Tendências. Vale a pena ouvir.
Questões de sustentabilidade e preocupações ambientais também receberam atenção, com análises sobre economia circular aplicada à poluição digital e o papel central dos novos materiais.
No evento foi debatido se os robôs devem simular a aparência humana, avaliando as vantagens e desafios de diferentes formas robóticas e como elas podem afetar nossas interações. Aliás, uma frase disseminada por Amy Webb, autora do relatório de tendências mais esperado do festival, o Tech Trends Report, é que “finalmente chegamos à era dos robôs”. O que ela quis dizer é que por muitos anos tivemos a ideia de que os robôs, um dia, estariam inseridos em nossa rotina, mas isso ainda era distante. Porém, o que os robôs não conseguiram avançar até agora, vamos ver entre 12 e 24 meses. Exemplo disso é o robô que foi treinado pelo Google DeepMind a amarrar cadarços; um avanço para a robótica, apesar de parecer algo banal.
O SXSW 2025 reforçou a necessidade de as empresas integrarem inovação com propósito. Seja adotando a IA de forma responsável, explorando a computação quântica ou priorizando a saúde social. A habilidade de conectar os pontos entre as tecnologias emergentes e o comportamento humano se mostra fundamental para identificar oportunidades futuras. A autenticidade e a construção de confiança na era digital são cada vez mais importantes. O futuro exige adaptabilidade, aprendizado contínuo e inovação centrada nas necessidades humanas e ambientais.
Carolina Fernandes e Isabela Petrosillo, coordenadora e especialista do Lab de Tendências da Casa Firjan, respectivamente, são coautoras dessa coluna.