O fim das certezas: Explorando o futuro em um mundo imprevisível
“A incerteza é algo presente, desejável e necessário para a evolução.” Nassim Nicholas Taleb
Mesmo parte intrínseca da realidade humana, a incerteza é algo que tentamos constantemente aplacar ou desconsiderar. No entanto, essa condição desempenha um papel crucial no pensamento especulativo, na experimentação e na construção de caminhos e narrativas alternativas. Ou seja, é fundamental para inovar.
A combinação de avanços tecnológicos cada vez mais acelerados, com crises climáticas acentuadas e novos padrões de comportamento, promovem mudanças que desafiam uma série de certezas. Diversas premissas estão sendo questionadas e teremos de lidar cada vez mais com o novo.
Certezas sobre padrões climáticos, que permitiam uma regularidade no plantio e na colheita, estão se modificando. Para lidar com essa nova realidade, soluções tecnológicas estão sendo desenvolvidas, como é o caso da edição genética, que já está sendo implementada pela SEMPRE, AgTech brasileira que atua no melhoramento genético de plantas para, entre outras coisas, tornar as sementes mais resistentes a eventos climáticos extremos.
No aspecto tecnológico, os avanços mais recentes da inteligência artificial estão levantando discussões sobre a existência de limites para suas habilidades. Seria a máquina capaz de replicar a criatividade humana, desenvolver consciência ou mesmo substituir as pessoas naquilo que lhes é mais precioso – o vínculo afetivo?
Dentro da perspectiva de sinais fracos – conceito de Estudos de Futuros, que consiste em pistas que podemos observar no presente para imaginar desdobramentos possíveis, em um horizonte de tempo mais longo – essas ideias “ficcionais” estão ganhando vida. Ainda que haja pesquisadores como o professor de Stanford David Stork, que defende que há certas características humanas que são irreplicáveis pela máquina, essa “fusão homem-IA” cada vez intensa gera algumas preocupações.
De pessoas se casando com avatares de inteligência artificial a ferramentas de IA generativa cada vez mais sofisticadas, até o avanço da antropomorfização da máquina. Esse último ponto levou a própria Open AI a reconhecer, em um relatório recente, o risco de dependência emocional que esses avanços podem gerar.
Seguindo a linha de transformações tecnológicas impulsionadas pela inteligência artificial, uma outra ruptura que podemos observar é a chamada Interface Cérebro-Máquina (BCI no acrônimo em inglês de Brain Computer Interface). A Neuralink, empresa de neurotecnologia americana de chips cerebrais, é uma exponente desse tema e, recentemente, compartilhou um vídeo do seu primeiro paciente, um homem tetraplégico que não possui movimentos do pescoço para baixo, jogando xadrez on-line apenas com os comandos neurais.
Será então que precisaremos de interfaces físicas para gerar comandos digitais no futuro ou será possível realizá-los apenas com os pensamentos? O pesquisador Luiz Fernando Borges, uma das maiores referências brasileiras no campo da Interface Cérebro-Máquina, defende que já é possível controlar computadores, jogar jogos on-line e até pilotar drones apenas com o comando da mente. E não é preciso, necessariamente, implantar chips no cérebro para isso. É possível realizar esse tipo de ação com eletrodos conectados, de forma não invasiva, no coro cabeludo.
Esse entrelaçamento da tecnologia nas nossas mais variadas formas de interagir com pessoas e com o ambiente ao nosso redor desperta preocupações sérias. Uma delas é a epidemia da solidão que estamos vivendo – um paradoxo entre os impactos sociais positivos da tecnologia e seus efeitos colaterais. Tantas rupturas abrem espaço para grandes movimentos de mudanças no mercado e na sociedade como um todo, para quais devemos estar atentos.
Diante de tantas transformações, se a incerteza é algo necessário para a evolução, como diz o autor Nassim Taleb, podem surgir muitas oportunidades. Não por acaso, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro pauta “O fim das certezas” como tema central da 7ª edição do Festival Futuros Possíveis, que acontece na Casa Firjan nos dias 25 e 26 de outubro.
Entender as transformações é o primeiro passo para desenvolver competências que vão ser exigidas no futuro e fazer da incerteza não um risco paralisante, mas um catalisador da inovação.