Repensando a performance: neurotecnologia e as novas fronteiras do cérebro
Refletir sobre a forma como performamos é fundamental para criar o futuro que queremos
A pandemia impactou a forma como vivemos, acelerando tendências e impondo novos desafios. A necessidade de performar bem mesmo em meio a tantas incertezas despertou reflexões sobre a otimização do tempo, o quanto dedicamos do nosso dia ao trabalho, a qualidade de vida e como manter a saúde mental diante de tantas responsabilidades. Desse modo, repensar a forma como performamos é fundamental para criar o futuro que queremos.
O cérebro humano continua com os mesmos 86 bilhões de neurônios que possuía há 200 mil anos atrás. No entanto, a recente explosão na compreensão do seu funcionamento vem proporcionando novas tecnologias que prometem otimizar a performance cognitiva, além de reforçar o poder de velhas práticas, como a meditação, para o mesmo fim.
Seja através de formas invasivas, como implantes cerebrais, ou não invasivas, como a estimulação elétrica transcraniana (tES), startups e gigantes da tecnologia já estão atentos a esse mercado, levantando também preocupações dos especialistas. Afinal, como explorar o potencial da neurotecnologia sem transpassar os limites éticos da interferência na mente humana?
Para a neurocientista norte-americana Vivienne Ming, “tecnologias de melhoria de capacidade ou de regulamentação emocional devem ser como vacinas, disponíveis para todos, ou pelo menos um direito de todos.” Diante disso, um dos projetos em que a Dra. Ming está envolvida é o da empresa Humm. Trata-se do primeiro wearable (tecnologias vestíveis, como smartwatchs, por exemplo) do mundo, que promete a seus usuários uma melhora significativa no aprendizado e processamento de informações.
O fundador e CEO da empresa, Iain Cameron McIntyre, estará presente no Summit Firjan IEL + Festival Futuros Possíveis 2021, evento anual da Casa Firjan, nos dias 17 a 19 de novembro, para explicar os possíveis impactos da neurotecnologia no cérebro humano. Em linhas gerais, esse aparelho atua como um adesivo colável aplicado na testa, por onde emite correntes elétricas não invasivas para o cérebro e proporciona, então, o aumento da memória e foco durante uma determinada atividade.
Já em uma linha mais invasiva, vale destacar os esforços do bilionário americano Elon Musk com a Neuralink, empresa que tem como objetivo o implante de chips cerebrais para ajudar pacientes que sofrem de limitações neurológicas a desempenhar funções que, de outra forma, não conseguiriam. Por exemplo, pessoas com condições crônicas e limitantes como cegueira, lesões na medula espinhal, perda de memória, danos cerebrais e até depressão.
Porém para quem acha que essa simbiose entre homem e máquina é algo apenas “futurístico”, vale destacar que implantes cerebrais que potencializam funções humanas já são realidade há algum tempo. Um exemplo disso é o do britânico Neil Harbisson, presente na primeira edição do Festival Futuros Possíveis da Casa Firjan, que possui uma antena em seu cérebro que lhe ajuda a “ouvir as cores” e, assim, diferenciar uma da outra. Neil é considerado o primeiro cyborg oficialmente reconhecido por um governo na história.
Os avanços na neurotecnologia estão acontecendo tão rápido que em setembro desse ano, o Chile aprovou a primeira lei mundial que estabelece os direitos à identidade pessoal, livre arbítrio e privacidade mental. Segundo o senador chileno Guido Girardi, um dos principais articuladores do projeto, o objetivo é proteger “a última fronteira” do ser humano: a psique humana.
Os desafios pela frente são grandes, e iniciativas como essas, tão disruptivas, reforçam a necessidade de repensarmos a performance que queremos para nós e exigimos dos outros. Ouvimos muito falar que a pandemia foi como um “freio de arrumação”, com mudanças de comportamentos, visões de mundo e quebra de paradigmas.
E o que acontece agora? O retorno do foco de grandes empresas investindo em companhias de neurotecnologia com cada vez mais acesso a nossos dados, atenção e escolhas? Ou vamos propor novas formas de pensar e agir como empresas e sociedade?
Esta coluna é assinada em parceria com Iuri Campos | Pós-graduando em Transformação Digital pela PUC-Rio, Pós-graduado em Marketing pela ESPM e analista sênior de conteúdo e inovação empresarial da Firjan.