Metápolis: para entender as cidades além do território
O termo Metápolis significa entender a dinâmica das cidades entendendo-as como seres vivos, mutáveis e integrados
Depois de tanto tempo estamos voltando a ir para rua, a ocupar as cidades novamente. A forma como nos relacionamos vai mudar mais uma vez? Como se organizarão os territórios e as territorialidades a partir de agora? O filósofo Deleuze diz que num primeiro momento é possível, sim, associar o território a um domínio espacial, mas que o recorte geográfico não é suficiente para delimitá-lo. Gregotti, arquiteto italiano, entende que o território tem valor, significado e vínculo simbólico nosso com o mundo e com todos os membros de uma comunidade.
Esse significado se faz especialmente mais presente na realidade de hoje, quando a reflexão sobre o uso que fazemos das cidades e do papel que assumimos perante espaços urbanos, torna-se indispensável. O termo Metápolis é importante para esta discussão e significa entender a dinâmica das cidades para além de seu território, entendendo-as como seres vivos, mutáveis e integrados.
Novas tecnologias de informação e comunicação nos possibilitaram produzir, criar e interagir de longe. Mas depois dessa experiência, o homem lembrou que é um ser social. Como as empresas mantêm o vínculo com seus colaboradores? Como as cidades mantêm o pertencimento dos seus cidadãos?
O conceito de Metápolis prevê um engajamento cívico para transformar o cotidiano da população dos grandes centros urbanos, encurtando, por exemplo, o tempo de tomada de decisão, buscando facilitar a conexão entre as pessoas centrado no uso e na gestão coletiva. Surge uma nova camada de pessoas e uma nova forma se relacionar, a partir de uma interconectividade muito maior que antes, funcionando em direção a um propósito comum.
Duas iniciativas de infraestrutura tecnológica e ação coletiva têm se tornado cada vez mais presentes pela cidade nos últimos tempos. Gabriel e o Instituto Kuidamos são redes apoiadas em inteligência artificial que integram moradores e trabalham para a segurança pública.
Como o próprio Instituto define, “…os moradores não são apenas usuários, mas possuem voz e participação ativa, assumindo funções e responsabilidades perante as cidades, principalmente a partir da criação de uma relação de notável interdependência.”
De fato, a participação ativa da comunidade local, moradores, empresas, associações locais, comerciantes, ONGs e estudantes – na articulação e mobilização de redes e projetos em prol da região tem relevante papel na transformação dos espaços urbanos em escala local. Esses atores assumem funções, resultando num convívio mais próximo, facilitando a troca de informação e, como consequência, promovendo ações e iniciativas de impacto.
O Secretário de Urbanismo da cidade do Rio, Washington Fajardo, que esteve no Diálogos de Inovação com a Suécia na Casa Firjan, está à frente de outra iniciativa participativa que aproxima e escuta a população também de forma digital: o Reviver Centro.
“Utilizamos recursos digitais como plataformas de consultas públicas e enquetes públicas e conseguimos amplificar o processo de engajamento. Foram mais de 8.000 pessoas inscritas e participantes ativas da discussão sobre o projeto Reviver Centro”, disse no encontro.
O termo Metápolis está vinculado a um entendimento de cidade a partir de ações de inteligência, que criam oportunidades de negócios e ampliam a oferta de serviços, e como já dito aqui antes, não apenas por seu marco territorial. São cidades com sofisticadas articulações, conectadas em rede e em constante evolução e crescimento.
Para chegar nesse lugar, é preciso que sejam desenvolvidas capacidades essenciais de colaboração, além de um espaço aberto para a experimentação e para a prototipagem de ideias. A importância destas práticas experimentais torna-se mais evidente quando entendemos que ainda não conseguimos diminuir as diferenças sociais; temos cidades dentro da cidade.
Uma tentativa de integração destes territórios está acontecendo, neste momento, na Rocinha. A proposta é transformar a favela em território inteligente, com o acesso dos moradores à tecnologia com laboratórios vivos e com uma governança diversa e integrada ao poder público (Um edital da Faperj para soluções que promovam dinamismo econômico da Rocinha com base em ciência, tecnologia e inovação recebe propostas até o fim de outubro).
Temos que aprender a encontrar saídas para o futuro das Metápolis. Um futuro com diversos desafios, mas que preserve a cultura e aproxime as pessoas.
Coluna escrita em parceria com José Alberto Aranha, presidente do Conselho da ANPROTEC e membro do Conselho Estratégico da Casa Firjan e Luiza Aguiar, Bacharel em Relações Internacionais pela PUC-Rio e pós-graduação em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral.
Julia Zardo,
Gerente de Ambientes de Inovação da Firjan e professora de empreendedorismo da PUC-Rio. PhD em Políticas Públicas, Estratégia e Desenvolvimento pelo IE – Instituto de Economia da UFRJ. Mestre em Comunicação e Cultura pela ECO – Escola de Comunicação da UFRJ.