Do pão artesanal à farinha de uva: indústria inova na era do consumo
A indústria de alimentos está em, plena transformação e a inovação desponta como sua principal aliada.
Será que a panificação vegana é uma novidade? Os povos natufianos, da região da Jordânia, já produziam pães não fermentados por volta de 14.400 a.C. Com o cultivo de trigo e cevada, em 10.000 a.C., o pão ganha novos formatos e, nos impérios grego e romano, as receitas se diversificam. Na Idade Média, o alimento chega a ser um marcador social: pães brancos eram privilégio dos nobres, enquanto os escuros e integrais ficavam para o povo. Séculos depois, as descobertas sobre leveduras e a industrialização do fermento mudaram o cenário. Hoje, no século XXI, o forno artesanal volta a ocupar protagonismo, mostrando que tradição e inovação podem caminhar lado a lado.
As mudanças no comportamento e no estilo de vida da população têm orientado a forma de consumir alimentos. Prova disso é uma pesquisa da Mintel Brasil que, ainda em 2020, em plena pandemia, apontava que 63% dos brasileiros incluíram em sua dieta alimentos para fortalecer a imunidade. Cinco anos depois, em março de 2025, outro levantamento mostra os principais fatores que levam à adoção de hábitos mais saudáveis: prevenir problemas futuros de saúde (55%), melhorar a saúde emocional (53%), aumentar a aptidão física (51%), viver mais (39%), ter mais energia (39%), controlar o peso (39%) e até melhorar a aparência física (39%).
Apresentados no NutriSaúde Summit, encontro realizado pela Firjan SENAI SESI, esses dados reforçam uma tendência clara no setor de alimentos, que vem investindo em produtos orgânicos, de baixas calorias, veganos e de fermentação natural.
Nesse contexto, é importante lembrar que crescem também os casos de alergias e intolerâncias. Quem não conhece algum amigo ou familiar que precisa tomar enzima antes de comer um bolo de chocolate? Ou que deixou de lado o tradicional pão francês por conta do glúten? Embora faltem estatísticas consolidadas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 200 milhões de pessoas sofram algum tipo de alergia alimentar, envolvendo ingredientes como ovo, leite, trigo e amendoim.
Para ilustrar o potencial desse mercado, que pode atuar não só na promoção do bem-estar, mas ajudar pessoas com restrições alimentares, diversas experiências já vêm sendo conduzidas ao redor do mundo. Um caso é o de Maria do Céu Costa, professora e pesquisadora da Universidade Lusófona, em Portugal, que criou uma farinha a partir da casca da uva. O produto abastece o setor de panificação e de massas no país e, ao mesmo tempo, dá destino sustentável ao excedente de resíduos da indústria do vinho.
Mais perto de nós, em Maricá, Suzi Clementino, da Empório Piatti, produz farinhas funcionais e massas proteicas sem glúten, feitas a partir de folhas em pó como a da erva baleeira e da taioba. No Centro do Rio, Luisa Mendonça, da Conflor, confeitaria vegana, imprime criatividade e técnica em bolos e doces floridos, elaborados com castanha de caju.
A indústria de alimentos está em plena transformação e a inovação desponta como sua principal aliada. O movimento não se limita às receitas: atinge também as lojas, seus layouts e a experiência de consumo, cada vez mais alinhada ao estilo de vida contemporâneo. Novidade, o pão nunca deixou de ser. Mas a panificação que se apresenta hoje é, sem dúvida, diferente.
Fernanda Hipólito, jornalista, presidente do Rio+Pão (Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria do Município do Rio de Janeiro) e vice-presidente da Firjan, é coautora desta coluna.
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