Desenhando ciclos futuros: reduzir, reutilizar, reciclar e repensar
Consumidores têm papel fundamental na economia circular, um dos quatro pilares para alcançarmos uma economia de baixo carbono
A emergência climática hoje é uma questão que precisa ser enfrentada de forma prioritária por todas as nações do mundo. Os últimos números apresentados na COP27 (Conferência das Partes da Convenção Quadro da ONU sobre Mudança do Clima) nos alertam que não estamos fazendo o suficiente para reduzir a emissão dos Gases de Efeito Estufa (GEE), principal fator de aquecimento de nossa atmosfera. Ao mesmo tempo, nunca tivemos tanto recurso, conhecimento e tecnologia como temos hoje para enfrentar este desafio global.
Nesta mesma COP27, parte da comitiva brasileira, liderada pelo setor industrial (CNI), apresentou a estratégia de sustentabilidade para alcançarmos uma economia de baixo carbono que é fundamentada em 4 pilares: transição energética, mercado de carbono, economia circular e conservação florestal. E é sobre a economia circular que iremos conversar hoje.
De acordo com a ONU, nos últimos 30 anos, a demanda por matérias-primas cresceu 150% e o aumento populacional neste período foi de mais de 30%, chegando mês passado ao número histórico de 8 bilhões de habitantes. Não só somos mais em nosso planeta como também estamos consumindo mais individualmente em comparação ao passado. Recursos naturais não renováveis já tem data para se esgotar. Além disso, este modelo linear de extrair, fabricar, usar e descartar só agrava as questões ambientais.
Vejamos a questão dos resíduos, popularmente conhecidos como lixo. Quando não tratados corretamente, eles geram sérios riscos sanitários e ambientais. A ilha do plástico no Oceano Pacífico e o cemitério de roupas usadas no deserto do Atacama são alguns exemplos dessa má gestão e provam que essa forma de produção e consumo linear contribui diretamente com as emissões de GEEs, principalmente em sua cadeia produtiva
Uma boa resposta ao modelo linear pode ser encontrada na natureza: os ciclos naturais. Presentes em nosso dia, eles condicionaram a existência da vida em nosso planeta. O ciclo da água, das estações, do sol, da lua, do oxigênio, do carbono, da vida…. Estes ciclos trazem equilíbrio para a natureza onde a matéria não é destruída, mas transformada. O fim de uma matéria ou de um ser possibilita o crescimento de outro. Este modelo circular da matéria é a base de um modelo cada vez mais usado por empresas no mundo todo: a Economia Circular.
A Economia Circular já é uma realidade em muitas empresas. Os famosos 3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), que muitos de nós aprendemos na escola, continuam importantes para nós, consumidores, mas as empresas circulares vão além. Para isso, investem pesado em inovação e especificamente em um setor: Design de Produtos. É nesta fase de projeto que a real circularidade é viabilizada.
Segundo Donald Wise, o que é decidido na fase de projeto de um produto é responsável por mais de 80% dos impactos ecológicos de um bem de consumo. O bom design sempre foi mais do que um produto esteticamente atraente, é sobre ser viável e também funcional. Hoje o bom design de um produto e até de um serviço precisa ser: atraente, funcional, viável e circular.A Fundação Elen Macarthur, uma das referências internacionais no assunto publicou recentemente em parceria com o IDEO, famoso escritório de Design, o guia de design circular para apoiar empresas e designers na transição para a economia circular.
O design não vai resolver a questão sozinho, longe disso, mas sem ele não chegaremos ao lugar que queremos, o de equilíbrio. Neste mesmo caminho no estado do Rio de Janeiro, mais de 70 empresas e indústrias iniciaram a transição circular buscando consultoria e capacitação em economia circular com a aplicação do design nos últimos 3 anos.
A transição circular já é visível para nós consumidores. Já vimos hoje alguns exemplos: nos supermercados garrafas pet retornáveis, embalagens feitas de cogumelos que rapidamente se decompõem, produtos fabricados com reaproveitamento de materiais, serviços de compostagem do lixo orgânico, empresas oferecendo serviços ao invés dos seus antigos produtos. Estas empresas já começam também a colher os frutos da circularidade com a redução de custos de produção, acesso a novos mercados, valorização de marca, fidelização de clientes e maior atratividade a investimentos ESG.
Nós consumidores temos um fundamental papel na Economia Circular. Além da compra consciente, para quem pode, é claro, também precisamos fazer a destinação correta dos resíduos em nossas casas separando o resíduo orgânico do resíduo sólido.
Chegamos ao começo de mais um ano e, nesses momentos, sempre paramos para olhar para frente e refletir sobre o que pode ser realizado, aprendido, e o que podemos melhorar nesse próximo ciclo. E se no lugar de somente reduzir, reutilizar e reciclar trouxermos um novo R para o próximo ciclo: Repensar. Vamos repensar juntos o nosso futuro para um mundo mais circular, equilibrado e sustentável?
Coluna assinada em parceria com Daniel Pan, coordenador de inovação empresarial na Firjan, responsável pelo Programa Cocriação na Casa Firjan. Pós-graduado em Sustentabilidade pela FGV