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Julia Zardo

Por Julia Zardo, professora de empreendedorismo e gerente de ambientes de inovação Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Inovação e Sociedade: uma conversa sobre desafios, oportunidades e impactos das práticas inovadoras na vida de todos nós
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Beyonce, Madonna e a importância de investir em Soft Power no Brasil

Dois ícones da cultura pop escolheram cidades brasileiras para ações de suas carreiras e os impactos, sejam monetários ou de reputação, foram expressivos

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Atualizado em 13 jun 2024, 11h14 - Publicado em 13 jun 2024, 10h45
O Soft Power deve ser explorado de forma estratégica, como propulsor da autossustentabilidade fluminense e nacional
O Soft Power deve ser explorado de forma estratégica, como propulsor da autossustentabilidade fluminense e nacional (foto/Getty Images)
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No último texto publicado nesta coluna, “O que é Soft Power e como ele pode ser o diferencial do Rio de Janeiro” , discutimos que o conceito Soft Power possui diversas leituras a partir de seus contextos, das dinâmicas sociais e das responsabilidades de quem fala perante a sociedade. Quando tratamos de Soft Power a partir da perspectiva da Federação das Indústrias, por exemplo, faz sentido uma leitura e interpretação com olhar mais econômico e com foco no estado e suas estratégias de desenvolvimento.

Considerar toda a potência dos recursos naturais, culturais, patrimoniais do Rio de Janeiro, uma inclinação natural para a Indústria Criativa e uma vocação para o desenvolvimento do Soft Power, é entender a influência de um lugar que atrai e cria desejo através de suas ideias, culturas, valores, patrimônios e estilo de vida, transformando o intangível em tangível, gerando diferencial e valor para seus produtos e serviços e tornando-se destino de turistas e investimentos.

Projetando esse potencial, em 2023 a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), lançou o Projeto Soft Power Rio com diversos objetivos: explorar o Soft Power como plataforma de desenvolvimento; a possibilidade de também utilizá-lo de forma estratégica para que a indústria fluminense entenda e se aproprie do seu valor para gerar ainda mais diferencial aos produtos e serviços; cocriar estratégias em parceria com o poder público para alavancar a imagem do Rio de Janeiro; investigar e propor a construção de ativos tangíveis e intangíveis para desenvolvimento, através da Indústria Criativa, atraindo investimentos, formando talentos e colaborando na reconstrução da reputação do estado para novos negócios e conexões em rede.

O Rio de Janeiro e o Brasil possuem uma abundância de recursos imateriais/intangíveis que contribuem para uma imagem forte perante o mundo, apesar de dificuldades relacionadas à segurança, saúde, educação e ambiente de negócios. A questão, hoje, é que estes recursos ainda não são explorados de forma estratégica; o que consequentemente impossibilita algum retorno financeiro a partir daí.

Alguns exemplos recentes reforçam a imagem e reputação forte do Brasil. Dois ícones da cultura pop contemporânea escolheram cidades brasileiras para ações de suas carreiras e os impactos, sejam monetários ou de reputação, foram positivos e expressivos.

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No fim de 2023, a cantora Beyonce escolheu comparecer presencialmente em Salvador para uma exibição do documentário da artista, Renaissance: a film by Beyoncé, que mostra bastidores da Renaissance Tour. O lançamento do filme acontecia simultaneamente em várias cidades brasileiras e tinha um gosto especial para os fãs da cantora, já que sua turnê não havia passado pelo país.

“Era muito importante para mim estar aqui na Bahia. Renaissance é sobre liberdade, beleza, alegria. Tudo que vocês brasileiros representam”, foram algumas das palavras de Beyonce. Após a breve apresentação, a cantora ficou sete dias na capital baiana. De acordo com o diretor de turismo de Salvador, Gegê Magalhães Pinto, o retorno foi muito positivo: “todos os voos para Salvador estão lotados, a hotelaria está completamente ocupada, a procura é grande, e temos acompanhado de perto as movimentações com as operadoras aéreas. A demanda é alta porque Beyoncé colocou Salvador no mapa mundial”.

Vale ressaltar a dedicação com que Salvador, há mais de 10 anos, tem construído o reconhecimento como “capital afro fora da África”, uma ação articulada para desenvolver o afroturismo, posicionando a cidade como destino destaque nesse segmento. Salvador é a capital com maior quantidade de afrodescendentes fora do continente africano, com mais de 80% da população negra. Essa identidade está presente na fala, nas expressões, moda, na gastronomia e na forma de comer, na música e demais manifestações artísticas, no jeito de fazer festa e de comemorar, na fé e nos referenciais de crença. Todos esses elementos formam o Soft Power de Salvador. Um dos resultados desse trabalho, que vem desde o título de Capital Negra da América Latina obtido em 2011 durante o 21° Encontro Ibero-americano de Afrodescendentes, é a escolha da cantora de estar na cidade, já que poderia ter ido para qualquer outro lugar do mundo. Beyoncé, em sua carreira, sempre abordou questões ligadas a pautas raciais. Dessa forma, fazia muito sentido ir para Salvador.

Em 2024, outra cantora pousou em terras brasileiras e ainda na especulação os resultados já eram muito positivos. A apresentação de Madonna na praia de Copacabana foi promovida por um banco que foi fundado e possui sede em São Paulo, porém realizou o show no Rio de Janeiro, a vitrine do Brasil, lugar que a artista várias vezes reconheceu admirar. A organização do evento inicialmente previu 1,5 milhão de pessoas, mas 1,6 milhão compareceram no show. A Associação Brasileira de Hotéis relatou um aumento de 50% nas reservas em todo Rio de Janeiro e 100% de ocupação no período nos hotéis de Copacabana. A Prefeitura do Rio de Janeiro gastou R$ 10 milhões e os dados oficiais confirmaram o impacto econômico total de mais de R$ 300 milhões para a cidade, refletido em negócios com passeios turísticos, hospedagem, alimentação, transportes e outros. O show atraiu fãs de todo o mundo para o Rio de Janeiro, em especial por se tratar do encerramento da turnê comemorativa dos 40 anos de carreira da cantora.

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Após o anúncio oficial, a exposição na mídia internacional do show da Madonna impulsionou a imagem do Rio de Janeiro no exterior. Segundo dados dos organizadores do evento, o show alcançou em publicidade US$ 43,9 milhões – o equivalente a R$ 217,6 milhões. A apresentação foi única em toda a América do Sul e foi a maior de toda carreira da artista. Assim como Beyonce, que escolheu estar em Salvador podendo ir para qualquer outra cidade do mundo, Madonna escolheu o Rio de Janeiro tendo a mesma opção de realizar o megashow em qualquer outro lugar.

Vale ressaltar também a capacidade da cidade de receber grandes eventos. Dos 7 maiores shows do mundo, 4 foram realizados na praia de Copacabana: The Rollings Stones, Jorge Benjor, Rod Stewart e Madonna.

Na semana passada aconteceu no Rio de Janeiro o Rio2C . Este é o maior evento de criatividade da América Latina que reúne grandes nomes do mercado audiovisual, de arte e de inovação, e trouxe o “Poder Suave” como tema de vários painéis ao longo da programação do evento abordando como o patrimônio cultural pode servir como vetor do Soft Power brasileiro, destacando a importância da cultura na política internacional e identificando estratégias eficazes para maximizar seu impacto na promoção e desenvolvimento local.

Mas não adianta ter um oceano azul de oportunidades e não o explorar. Investir em Soft Power e nas Indústrias Criativas é um caminho obrigatório para o Rio e para o Brasil.

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