Talento, identidade e PIB: Indústria Criativa e a força nacional do Rio
Mais do que um cartão-postal, a capital é hoje o maior polo criativo do estado e um dos principais do Brasil.

Poucos setores conseguem traduzir tão bem o espírito brasileiro quanto a Indústria Criativa. Ao reunir atividades que envolvem cultura, inovação e tecnologia, o setor é capaz de expressar a identidade nacional ao mesmo tempo que se apresenta como um motor importante para o desenvolvimento do país.
Nos últimos anos, a intensificação da digitalização, o surgimento de novas mídias e a abertura econômica pós-pandemia criaram um ambiente ainda mais favorável para a indústria da criatividade e do conhecimento. Esse cenário positivo se reflete nos números: a Indústria Criativa cresceu mais que a economia brasileira, conforme a 8ª edição do Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil, elaborado pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).
O estudo foi feito a partir dos dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego, que acompanha o mercado de trabalho formal, cuja edição mais recente é a de 2023. O Mapeamento divide a Indústria Criativa em 13 segmentos, agrupados em quatro grandes áreas: Consumo (Design, Arquitetura, Moda e Publicidade & Marketing), Mídia (Editorial e Audiovisual), Cultura (Patrimônio & Artes, Música, Artes Cênicas e Expressões Culturais) e Tecnologia (P&D, Biotecnologia e TIC).
De acordo com o Mapeamento, a Indústria Criativa empregava mais de 1,2 milhão de pessoas e representava 3,59% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, o que significa um montante de quase 400 bilhões de reais.
As atividades desse setor têm origem no talento e na criatividade, sendo capazes de gerar tanto valor econômico quanto simbólico, seja através da criação e exploração da propriedade intelectual, da diferenciação de produtos e serviços, da construção de marca ou da inovação. A Indústria Criativa gera trabalho, emprego e renda, promove a diversidade cultural e impulsiona o soft power brasileiro.
A cidade do Rio de Janeiro é um bom exemplo para mensurar a força desse setor. Mais do que um cartão-postal, a capital é hoje o maior polo criativo do estado e um dos principais do país. O município concentra três em cada quatro trabalhadores da economia criativa fluminense, e a proporção de empregos criativos na cidade (4,2%) é quase o dobro da média nacional (2,3%). Nos demais municípios do estado, essa participação cai para 1,5%.
A força fluminense no setor se reflete também em números e no dinamismo do mercado. No período analisado, o emprego criativo no estado cresceu 6,5%, superando com folga o ritmo do mercado de trabalho do estado como um todo (0,2%) e até mesmo a média nacional de crescimento da economia criativa (6,1%).
Apesar de as áreas de Tecnologia (44,1%) e Consumo (41,8%) liderarem em número de vagas na capital, os maiores crescimentos percentuais foram registrados em dentro da Cultura. Na capital, o destaque foi para Patrimônio & Artes (21,8%), Expressões Culturais (14,7%) e Música (12%) — todos com desempenho superior aos próprios líderes em contratação. A área cultural como um todo teve um crescimento de 11% entre 2022 e 2023e já responde por mais de 6 mil empregos diretos e formais na cidade do Rio.
Esse avanço é impulsionado por políticas públicas de incentivo ao setor cultural implementadas após 2022, que vêm reconfigurando o perfil produtivo da capital. Além da tradição artística, o Rio se apresenta como um ambiente de inovação, onde a economia criativa gera renda, atrai empresas e movimenta cadeias produtivas.
Os números positivos mostram a capacidade da Indústria Criativa brasileira de se beneficiar das transformações econômicas e sociais do nosso tempo. O Rio de Janeiro especificamente se encontra em uma posição privilegiada, uma vez que a construção simbólica do país está intimamente conectada à imagem da cidade. O papel internacional do Brasil passa pelo Rio, e o diferencial do Rio passa pela criatividade. Em 2023, a Indústria Criativa do estado respondeu por 5,2% do PIB fluminense, a segunda maior participação entre os estados brasileiros, um dado que reforça a relevância estratégica do setor para a economia local. Seja pelas taxas de crescimento atrativas ou pelo potencial simbólico para influenciar e atrair negócios, a Indústria Criativa se firma como um paradigma importante para o desenvolvimento econômico do Rio e do país.
* Paulo Vitor Ramalho, Especialista em Economia Criativa na Firjan e Mestrando em Economia Criativa, Estratégia e Inovação na ESPM-Rio, é coautor dessa coluna.