Stella McCartney: coerência e consistência ao defender direito dos animais
Com protesto fofo, instagramável e crítico, estilista rouba a cena na Paris Fashion Week com pessoas fantasiadas de coelho, vacas e jacarés de pelúcia
Nos últimos anos, o termo marketing com propósito dominou as estratégias de inúmeras marcas de moda. O mercado, especialmente as novas grifes, passou a olhar para o vizinho para saber qual causa defender no momento. Mas acontece que levantar uma bandeira de maneira consistente leva tempo. Por isso, minha coluna de hoje celebra a coerência da estilista Stella McCartney, que virou o assunto da semana ao levar pessoas fantasiadas de animais para seu desfile na Paris Fashion Week.
Em plena Opéra Garnier, em Paris, ela botou modelos vestidos de vacas, jacarés e coelhos de pelúcia para serem os anfitriões do desfile e para desfilarem na fila final. Mais que fofo, o protesto pela matança de animais que viram bolsas e acessórios vinha carregado de humor sarcástico britânico, uma vez que várias pessoas da plateia estavam vestindo exatamente acessórios de couro e pele. E, o principal, a ação foi instagramável, rendendo milhões de fotos ao redor do mundo.
A estilista injetou uma mensagem séria de maneira lúdica e muito eficiente. E apresentou na passarela uma coleção elogiada em que 75% dos seus materiais são ecológicos.
Há mais de 20 anos, Stella conduz suas decisões empresariais e criativas pautada na defesa dos direitos dos animais e na sustentabilidade. Este é um valor que ela aprendeu desde a infância, com seus pais, Linda e Paul McCartney. Sua bandeira não pauta apenas seu departamento de marketing. Stella não usa peles de animais em suas coleções e não aceita nem mesmo dar entrevistas para jornalistas que estejam usando, por exemplo, sapatos de couro. O protesto desta semana foi só uma forma nova dela dizer algo que já vem dizendo há muito tempo.
Esta é uma bandeira que Stella defende permanentemente por ser uma crença absoluta dela. Um estilista pode levantar bandeira e influenciar centenas de pessoas, tornando o mundo, quem sabe, um pouco melhor, desde que esta causa seja fruto do seu pensamento e do seu estilo de vida. Porém, mais que um valor de marca, o propósito precisa ser um valor verdadeiro e consistente daquele que representa a grife. Depois da onda do marketing com propósito, em que tantos mitos caíram, parece que estamos entrando agora no que poderia ser chamado de marketing da verdade, pois só ela se sustenta.
Julia Golldenzon é estilista especializada em festas e noivas. Formada em Comunicação Social pela PUC-Rio, ela trabalhou em marcas como Farm e La Estampa e, desde 2013, tem um ateliê no Leblon, que leva seu nome.