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Gustavo Pinheiro

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Mais Roland, menos Ricardo

Enquanto o ministro quer “passar a boiada”, um alemão preserva o cerrado brasileiro

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Atualizado em 1 jun 2020, 10h12 - Publicado em 1 jun 2020, 09h57
Muita gente séria trabalha pela sustentabilidade no Brasil, apesar de o governo só pensar em aumentar o desmatamento. (Bianca Smanio/Reprodução)
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Em 1986, Roland Schneider desembarcou no Brasil a convite do governo, numa missão que trouxe alemães para um programa de cooperação. A ideia era que eles ajudassem a achar formas de criar emprego e renda para pequenos produtores. O contrato de Roland era de dois anos, mas ele nunca mais voltou para o frio europeu. Há três décadas, adotou a Chapada dos Veadeiros como casa e conseguiu convencer os fazendeiros locais que mais importante que desmatar era preservar o ecossistema do cerrado. O alemão ensinou aos novos companheiros que cultivar abelhas também poderia ser lucrativo: Roland instalou caixas com colmeias nas fazendas e os donos se comprometeram a não queimar mais a vegetação e a não utilizar nenhum tipo de veneno nos plantios e nos pastos em troca de uma porcentagem da produção de mel.

Hoje, Roland e seus parceiros produzem alguns dos melhores méis do Brasil, a partir da abundante vegetação nacional, como cipó uva, angico e aroeira. Nem um metro quadrado foi devastado. O mel se mostrou um bom produto para o bolso e para a saúde, no tratamento de diversas doenças de estômago, fígado, pele e ossos. Não é papo de hippie: boa parte de sua produção não passa pelas prateleiras brasileiras e embarca direto para o país de Roland, tamanho o interesse na seriedade do seu trabalho. O produtor enviou uma amostra do própolis made in Brazil para a Alemanha e deixou seus conterrâneos de queixo caído com a riqueza brasileira: dos 125 flavonoides do líquido, apenas 83 já eram conhecidos e catalogados.

Toda a aventura de Roland é contada pelo próprio em um dos episódios da série “Lavando a alma”, que estreia nesta quarta-feira, no canal Mais Globosat, apresentada por Antonia Morais. Tive o privilégio de ser o roteirista do programa que, em 13 episódios, cruza 10 mil quilômetros de quatro estados do Brasil em busca do que o Brasil tem de melhor.

Não deixa de ser irônico que uma série que mostra as belezas naturais do Brasil e de seu povo chegue ao público no momento em que Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente (sic), aparece em um vídeo rifando as leis do país para “passar a boiada” e mudar as regras de proteção ambiental e de área de agricultura, enquanto a sociedade chora a morte de mais de 30 mil brasileiros pela Covid-19. É o mesmo governo que, nos últimos 18 meses, ficou inerte diante das manchas de óleo que tomaram conta do litoral do país, autorizou pescas esportivas em área de proteção ambiental, fechou postos do Projeto Tamar e se esforça para liberar a volta de cruzeiros à Fernando de Noronha.

A boa notícia é que há muito mais Rolands que Ricardos espalhados por esse Brasil, que trabalham aliando desenvolvimento e sustentabilidade. Mostraremos alguns a partir desta quarta-feira. No momento em que não se pode nem ir à esquina, que nossas andanças pelo Brasil matem a saudade de viajar e sirvam de orgulho do país que (ainda) temos.

Gustavo Pinheiro é dramaturgo e roteirista.

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