Número de homens que recorrem à cirurgia plástica aumenta
Os procedimentos saltaram de 72 mil para 276 mil entre os homens. Os mais procurados são lipo, redução de mamas, rinoplastia e implantes de cabelo

Houve um aumento significativo no número de homens que buscam cirurgias plásticas nos últimos anos, especialmente no período pós-pandemia. Nós, médicos, pudemos observar isso, mas os dados oficiais também comprovam. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBPC), em estudo divulgado em 2023, aproximadamente 30% dos procedimentos realizados no país foram feitos em homens no ano anterior. Cinco anos antes, esta parcela era de apenas 5%, subindo de 72 mil para 276 mil procedimentos anualmente.
De acordo com um estudo da farmacêutica Allergan feito em parceria com a (SBCP) e com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), 82,5% dos brasileiros admitem ter o interesse de realizar algum procedimento estético. Embora ainda sejam minoria, os homens estão falando mais abertamente sobre o tema e consumindo mais informação, o que faz com que o estigma e os preconceitos deixem de existir. O panorama é otimista a ponto de o jornal americano Washington Post ter publicado uma reportagem extensa sobre os cariocas que recorrem à abdominoplastia e lipoaspiração para conseguir um abdômen popularmente conhecido como tanquinho.
Pela minha experiência, em consultório, um em cada seis pacientes é homem. Entre as cirurgias plásticas mais procuradas pelo público masculino, destacam-se a lipoescultura, a rinoplastia, a ginecomastia (redução das mamas masculinas) e os implantes de cabelo. Outro grupo importante é o de homens que fizeram bariátrica e, por emagrecerem drasticamente, precisam recorrer a cirurgias reparadoras de retirada de excesso de pele – uma consequência natural da perda de peso.
A mudança nos números reflete não somente uma transformação no conceito da estética entre os homens, mas também é uma transformação comportamental e social. E a tendência não é passageira. Desde o início dos anos 2000, quando surgiu o termo metrossexual no mundo, tendo o jogador de futebol David Beckham como um de seus expoentes, o conceito de masculinidade vem sendo desconstruído e ampliado, no sentido de tratar a vaidade e os cuidados com a beleza algo até rotineiro. Desde então, os homens estão se permitindo ter uma expressão mais individual de sua imagem pessoal, percebendo a cirurgia plástica como uma alternativa para melhorar sua autoestima.
Esse salto no número de cirurgias plásticas entre o público masculino pode estar atrelado também ao aumento da exposição da imagem e a influência das redes sociais, que exibem diariamente na palma da sua mão padrões de beleza que incentivam a busca pela perfeição estética. Com uma maior presença de homens tanto de usuários quanto de produtores de conteúdo em plataformas como Instagram e TikTok, deparar-se a todo momento com esses ideais de beleza se torna mais comum e acessível, estimulando a ideia de que é possível melhorar e investir na própria imagem. Afinal, hoje até a paquera ocorre por meio de aplicativos como o Tinder, onde a primeira impressão com a imagem é a que fica.
Vale considerar também o país em que vivemos, tropical e quente, onde o corpo está exposto em boa parte do ano. No Brasil é um hábito comum entre os homens ficar sem camisa em momentos de lazer, como na praia, piscina e até churrascos. É natural que queiram eliminar a barriga e exibir um torso mais definido e que aqui os números sejam bastante expressivos.
Apesar do aumento na aceitação das cirurgias plásticas entre homens, os preconceitos ainda persistem e precisam continuar a ser combatidos. Muitos homens podem hesitar em buscar esses procedimentos devido ao medo da estigmatização ou à crença de que cuidar da aparência é uma preocupação exclusiva do sexo feminino. Embora seja uma visão antiga, ela ainda persiste entre uma boa parcela da população. Por isso, é fundamental que tanto nós, profissionais da saúde, quanto a sociedade como um todo ofereçamos um ambiente sem julgamento para que os homens se sintam à vontade para expressar suas preocupações estéticas. A aceitação do cuidado com a aparência e a discussão aberta sobre cirurgia plástica podem contribuir para desmistificar os tabus.
Guilherme Ferretti é médico e cirurgião plástico no Rio de Janeiro. Membro especialista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Atua na cirurgia de contorno corporal, estética, reparadora e lesões de pele e tem mais de uma década de experiência na especialidade da cirurgia plástica reparadora pós-bariátrica. Siga: Instagram e Canal Youtube