É possível amamentar depois da cirurgia plástica?
Implante de silicone não influencia amamentação, mas influenciadora Maíra Cardi diz ter dúvida se vai conseguir amamentar após correção de bico do peito

A cirurgia plástica nas mamas pode comprometer a amamentação? Este é um tema que desperta dúvida recorrente em pacientes que fizeram ou que desejam fazer mamoplastia ou implante de silicone antes de engravidar. Em primeiro lugar, é importante esclarecer que realizar procedimentos na região antes de engravidar não é um impeditivo para a lactação. Ou seja, sim, é possível amamentar após o procedimento. Tudo depende da técnica utilizada e de como a cirurgia foi realizada. A maioria das mulheres que passaram por cirurgia plástica de mama amamenta normalmente.
Este mês, a influenciadora e nutricionista Maíra Cardi conversou com seus seguidores no TikTok sobre as dores que tem sentido nos seios em função de sua terceira gravidez. Ela falou também sobre o medo de não conseguir amamentar o terceiro filho. Maíra contou que após a segunda gravidez, quando teve uma queda considerável de mama e acreditando que não engravidaria mais, optou por trocar a prótese de 180 ml por uma de 400ml e por fazer uma areoloplastia e uma papiloplastia, nomes das cirurgias de correção de aréola e de bico do peito. “Ficou uma gracinha meu peito”, conta para em seguida dividir seu receio: “Não sei se vou conseguir amamentar”.
Há uma boa notícia. O corpo humano é tão perfeito que, embora a cirurgia de mama possa muito eventualmente trazer algum risco quanto à lactação, o próprio corpo é capaz de reconstruir ductos lactíferos e nervos necessários para a lactação que possam ter sido danificados. Este processo é conhecido como recanalização e reinervação, que fazem com que a produção do leite seja possível durante a amamentação pós-cirúrgica. A gravidez, o parto e o nascimento estimulam todo o sistema mamário a reconstruir, se for o caso, as estruturas para amamentar. É isso que faz com que a maioria das mães que fizeram algum procedimento cirúrgico estético de mama possa produzir leite suficiente para as necessidades do bebê.
As técnicas cirúrgicas hoje são muito avançadas. Na maioria dos casos de implante de silicone não há interferência direta na amamentação. A própria Maíra conta no vídeo que amamentou sua segunda filha, Sofia, normalmente após ter botado um implante de 180 mil. Já no caso de mamoplastia redutora, as técnicas estão cada vez mais avançadas para preservar a conexão entre o mamilo e tecido mamário para minimizar os riscos. No caso de uma retirada muito grande mamas, provavelmente haverá uma menor produção de leite.
De imediato, talvez seja importante pensar em planejamento. Quanto mais tempo se passar da cirurgia, mais chances o corpo tem de reverter eventuais danos ao tecido mamário. Isso porque, passados dois ou três anos em diante, a cicatrização é mais relevante e o processo de recanalização dos ductos lactíferos e nervos consegue ser mais extenso, aumentando a probabilidade de produzir mais leite. Se a paciente faz a cirurgia e quer amamentar daqui a um ano vai ter menor cicatrização do tecido glandular e menor recanalização dos ductos, mas ainda assim vai conseguir amamentar – a depender da proporção da cirurgia.
No vídeo da rede social, Maíra explica que, além da a mamoplastia de aumento, ela fez também a correção da aréola e bico do peito. Quanto menos se aprofundar a incisão na cirurgia de areoloplastia menos canais lactíferos poderão ser afetados e normalmente não interfere tanto a amamentação. Mas, no caso de uma cirurgia no bico do peito, a papiloplastia, há um corte no ducto principal. Neste caso, é provável que se tenha uma dificuldade de amamentar.
Após o parto, também é importante que a amamentação seja em livre demanda desde o primeiro momento, especialmente se houver algum risco de ter danificado o tecido de lactação. É possível perceber se houve danos, inclusive, pela aparência, pois a mãe que fez cirurgia pode perceber uma diferença no ingurgitamento, quando um seio fica mais cheio e duro que o outro. Este ingurgitamento desigual pode indicar que há uma quantidade desigual de tecido de lactação saudável. Amamentar mais ou até fazer uso da bomba de lactação pode aliviar o desconforto e, principalmente, deve-se procurar a ajuda de um consultor de amamentação ou profissional de saúde treinado para tirar as dúvidas.
Mulheres que ainda podem vir a engravidar ou até mesmo as adolescentes devem conversar com o médico sobre técnicas que preservem a função mamária. Lembre-se: toda mulher é diferente e pode enfrentar resultados e desafios diferentes ao amamentar tendo ou não feito cirurgia nas mamas.
Guilherme Ferretti é médico e cirurgião plástico no Rio de Janeiro. Membro especialista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Atua na cirurgia de contorno corporal, estética, reparadora e lesões de pele e tem mais de uma década de experiência na especialidade da cirurgia plástica reparadora pós-bariátrica. Siga: Instagram e Canal Youtube