Pandemia e envelhecimento
Restrições severas impuseram degeneração acelerada e precoce à população
De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, a expectativa de vida do povo americano caiu em 12 meses em 2020. O tombo é o maior desde a Segunda Guerra Mundial. Segundo a instituição, a média de expectativa de vida de um americano agora é de 77,8 anos, nível mais baixo desde 2006.
Não temos dados oficiais sobre o assunto no Brasil, mas é fácil prever que o mesmo se passará aqui – assim como no resto do mundo. A pandemia impôs restrições severas e duradouras demais ao corpo e à psique humanas. O resultado foi uma degeneração acelerada e precoce da nossa saúde.
Da noite para o dia, vimos os lares se transformando em filiais improvidas de escritórios e os filhos tendo aulas pelo computador. Fomos cercados por medos, dúvidas, noites mal dormidas, adoecimento ou perda de entes queridos, doenças crônicas adquiridas, desemprego, incertezas financeiras, enfim, tudo isso foi decisivo para que a população envelhecesse com mais celeridade que o normal.
Hábitos do cotidiano se transformaram em estilos de vida inapropriados. Insônia, alimentação inadequada, excesso de consumo de remédios e bebidas alcoólicas e sedentarismo, que também contribuem diretamente para o envelhecimento da população.
Ao estilo de vida prejudicial, soma-se o abandono dos exames preventivos e das consultas regulares, por medo do vírus. Várias doenças crônicas, incluindo o câncer, não foram diagnosticadas e em consequência, não foram tratadas. Segundo a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, 74% dos oncologistas revelaram que tiveram um ou mais pacientes que interromperam ou adiaram o tratamento por mais de um mês durante a pandemia.
Levantamento feito pelo Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) mostrou que, entre 1º de janeiro e 17 de abril deste ano, houve 211.847 mortes a mais do que o esperado, principalmente entre homens (64% de excesso de mortalidade no geral). Entre as principais causas estão abandono de tratamentos, dificuldade de acesso aos serviços de saúde e maus hábitos.
Envelhecer com saúde deve ser entendido pela sociedade como uma conquista, uma nova etapa no ciclo natural da vida. Permitir que fatores alheios à nossa vontade aceleram o processo de fragilização do corpo e da mente é mais que injusto, é cruel. Um estilo de vida saudável permite que se viva mais e melhor, com autonomia. Portanto, adote hábitos saudáveis: alimentação equilibrada, prática de exercícios físicos regulares, noites de sono reparador, consumo moderado de álcool e check-up periódico. Saúde é prevenção!
Gilberto Ururahy é médico há 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, criou a MedRio Check-up, líder brasileira em check up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França e autor de três livros: “Como se tornar um bom estressado” (Editora Salamandra), “O cérebro emocional” (Editora Rocco) e “Emoções e saúde” (Editora Rocco).