Novos fatores de risco para doenças cardiovasculares: testosterona
Impacto na saúde permanece mesmo depois que anabolizantes não são mais consumidos

No mês passado, realizamos na Med-Rio Check-up mais uma edição do “Encontro com a Prevenção 2025”. O tema em debate foi “Os novos fatores de risco para doenças cardiovasculares”. O terceiro participante a expor suas ideias foi Amélio Godoy, mestre em Endocrinologia e doutor em Fisiopatologia Clínica pela UERJ e professor de Endocrinologia na pós-graduação da PUC-Rio. Ele falou sobre uso abusivo de testosterona.
Godoy iniciou sua fala dizendo que muitos dos novos fatores para doenças cardiovasculares, como uso de vapes, consumo de energéticos e de testosterona, geralmente, acontecem simultaneamente, por parte da mesma pessoa. “Não é raro que adictos de energéticos se tornem também adictos de testosterona, ou fumam e assim por diante. Portanto, essa combinação é bastante grave para a saúde do indivíduo e se torna também um problema de saúde pública”, apontou Godoy.
De acordo com o especialista, o uso de testosterona de forma abusiva, segundo análise publicada recentemente, mostra que de 2,9 a 4 milhões de pessoas nos Estados Unidos, de maioria homens, usam ou usaram em algum momento da sua vida anabolizantes hormonais, também conhecidos como esteroides hormonais. Godoy ressaltou que o numero de prescrições de testosterona só tem feito crescer. “Desde 1993, o número de prescrições cresce de 25 a 30% ao ano, somando mais de 500% de 1993 a 2002, ano de publicação do artigo sobre o tema”, afirmou. Ainda segundo ele, este consumo elevado, por si só, já seria estranho, mas o grave é imaginar o número de pessoas que tomam o anabolizante sem qualquer tipo de prescrição médica. Quanto ao Brasil, segundo dados de 2024, o aumento de prescrição é superior a 600%, em cinco anos.
Segundo Godoy, o perigo do uso desses anabolizantes a longo prazo são as consequências clínica, física e psíquica (agressividade, depressão ou euforia, mania, dependência psíquica, psicose e suicídio). Entre os danos cardiovasculares estão: hipertrofia do miocárdio, hipertensão, trombose, infarte e até morte súbita. Godoy também destacou os danos endócrinos: dependência física, infertilidade e ginecomastia (aumento das glândulas mamárias em homens).
O especialista compartilhou uma pesquisa dinamarquesa que acompanhou, por onze anos, 1.189 usuários de esteroides anabolizantes, do gênero masculino com idade média de 27 anos, e os comparou com grupo de não-usuários. Concluiu-se um risco de nove vezes maior de cardiomiopatia, doença grave que traz arritmias e também pode levar a morte súbita. A pesquisa também identificou o aumento do risco de ataques cardíacos, insuficiências cardíacas e embolias.
Outro estudo, feito com atletas levantadores de peso, comparando usuários e não usuários, apontou que a grande maioria que fazia uso de testosterona, tinha impacto na saúde do coração, mesmo depois de abandonar os esteroides.
A fórmula da vida saudável é bastante conhecida: prática de exercícios físicos regulares, alimentação saudável (rica em frutas, vegetais e fibras), gerenciamento estresse e do bem-estar, sono reparador e distância do uso de substâncias, como tabaco ou álcool, e a realização de check-ups preventivos e regulares.
Saúde é prevenção!
Gilberto Ururahy é médico há mais de 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, inaugurou a Med-Rio Check-up, líder brasileira em check-up médico e medicina preventiva. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França, é membro honorário da Academia Brasileira de Medicina de Reabilitação e coautor de livros: Como tornar-se um bom estressado (editora Salamandra), O cérebro emocional (Rocco), Emoções e saúde (Rocco) e Saúde é prevenção (Rocco, com o médico Galileu Assis). Ururahy é diretor da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Rio) e Chairman do Comitê de Saúde e diretor da Câmara de Comércio França-Brasil e Coordenador do Comitê de Saúde.