Novos comportamentos, novos fatores de risco para o coração
Vape, energéticos, anabolizantes, ultraprocessados e exercícios em excesso sem avaliação prévia são novos inimigos da saúde

É notório o quanto os hábitos do cotidiano influenciam diretamente na qualidade de vida e na saúde dos indivíduos. O fato é que mudam os hábitos e seus impactos também. É o que estamos começando a acompanhar em nossas clínicas.
Especificamente no que se refere à saúde coronariana, há diversos novos fatores que fazem parte do comportamento social, independente da idade. É o caso, por exemplo, do uso de vape. Apesar de proibido pela Anvisa, tem enorme aderência entre os brasileiros. Criado e divulgado, inicialmente sob o pretexto de ajudar dependentes de cigarro a abandonarem o vício, hoje sabe-se que seu efeito é contrário. Vapes e cigarros eletrônicos aumentam ainda mais a adição de fumantes, acarretando danos seríssimos à saúde. Ainda pouco se sabe sobre esse tipo de produto, muitas de suas substâncias tóxicas são desconhecidas, no entanto, seu potencial nocivo já pode ser notado: jovens apresentam exames pulmonares equivalentes a fumantes por décadas. Ou seja: os vapes causam mais dependência, maior e mais veloz dano ao coração, ao sistema respiratório e ao corpo.
Outro comportamento bastante disseminado é o consumo de bebidas energéticas. Sob a alegação de que auxiliam na concentração, no foco e na capacidade de oferecer energia e disposição, os energéticos também implicam em uma série de prejuízos à saúde do coração: arritmias e infartos do miocárdio em jovens. Vale a pena registrar que cada lata de energético equivale a três xícaras de café. Portanto, a pessoa que bebe cinco latas em uma noite, por exemplo, terá consumido o equivalente a 15 xícaras de café, volume significativo para o organismo metabolizar.
Também é importante destacar o excesso de consumo de alimentos ultraprocessados, como sorvetes, biscoitos, refrigerantes, doces, cereal matinal, macarrão instantâneo e outros industrializados. São alimentos ricos em sódio, açúcar e gorduras e, por isso, desequilibrados nutricionalmente. É comprovado que a ingestão de ultraprocessados está associado a risco de diversas doenças, como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e digestivas, e até depressão.
Anabolizantes também podem ser considerados um perigo à saúde. Os esteroides podem ter efeitos físicos, incluindo a promoção da hipertrofia muscular e o aumento da força e da energia. No entanto, podem gerar hipertrofia do músculo cardíaco, o que leva a quadros de arritmias, alteração da coagulação sanguínea, aumento de chances de formação de trombos, embolias e infartos do miocárdio.
A atividade física é um excelente aliado na busca por qualidade de vida e saúde. Quando experimentada de maneira regular, produz endorfina, que gera bem-estar e é um verdadeiro antídoto para o estresse do cotidiano. Porém, os iniciantes que buscam correr maratonas devem começar lentamente, ganhar condicionamento físico e fazer uma avaliação médica abrangente. E, assim, evitar acarretar danos, impactando no sistema músculo-esquelético, gerando um estresse grande para o indivíduo quando ele compete consigo próprio e o prazer da atividade é substituído por obrigação.
Novos tempos, novas doenças. A palavra-chave, como sempre, deve ser equilíbrio.
Gilberto Ururahy é médico há mais de 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, desenvolveu a Med Rio Check-up, líder brasileira em check-up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França, Conselheiro estratégico da ABRH-Brasil e autor de quatro livros: Como se tornar um bom estressado (editora Salamandra), O cérebro emocional (editora Rocco), Emoções e saúde (editora Rocco) e Saúde é Prevenção (editora Rocco), com o médico Galileu Assis, diretor da Med Rio Check-up.