Hipertensão arterial e prevenção
Genética e maus hábitos são fatores de risco para a doença
A MedRio Check Up está comemorando 30 anos de funcionamento. Para marcar efeméride tão importante, criamos uma agenda de “Encontros Científicos com a Prevenção”, que acontecem uma vez por mês, abordando diferentes especialidades médicas. Para este mês de fevereiro, convidei os renomados colegas Claudio Benchimol e João Mansur para falarem sobre a saúde do coração. Hoje, divido com vocês o papo com Claudio Benchimol. Ainda nesta compartilharei a conversa com João Mansur. Boa leitura! – Gilberto Ururahy
O estilo de vida saudável é o melhor aliado para se evitar a hipertensão arterial. Quem faz o alerta é um dos profissionais mais experientes da área: o cardiologista Claudio Benchimol. Membro titular da ANM, professor adjunto de Cardiologia da UFRJ e da UERJ, Fellow do American College of Cardiology (FACC) e Fellow do Cardiothoracic Institute (London University), Benchimol ressalta que o consumo de sal e o sedentarismo podem agravar quadros de pressão alta.
Conversamos com Claudio Benchimol sobre este e outros assuntos:
O que determina se uma pessoa terá hipertensão?
Essencialmente, é o estilo de vida que ela tem. Embora o consumo de bebida alcoólica em quantidades pequenas (até duas doses por dia) possa até fazer bem à saúde, o uso de mais de três drinques por dia pode aumentar a pressão arterial. O ser humano tem consumido 12 gramas de sal por dia, quando a necessidade diária é de 4 a 6 gramas. Existem substâncias usadas cotidianamente, que retém o sódio e podem aumentar a pressão arterial, como alcaçuz, remédios como Afrin, por ser um vaso constritor, e os anti-inflamatórios. Refrigerantes que não contém açucares, porém tem uma quantidade absurda de sódio. O consumo desses produtos podem elevar as cifras tensionais.
A genética também é um fator de risco?
Sem dúvida o fator genético deve ser considerado. Inclusive crianças que nascem com baixo peso, em que o rim não teve tempo de amadurecer o suficiente, tem tendência a se tornarem hipertensas na idade adulta. É importante ressaltar que há pacientes que não apresentam ocorrências familiares anteriores e tem hipertensão arterial. Eles ficam surpresos na consulta e eu digo: “Em toda família alguém foi o primeiro caso”.
Por que identificamos cada vez mais mulheres com pressão alta?
As mulheres hoje tem hábitos de consumo e estresse equivalentes ao dos homens: fumam, bebem álcool e, ainda por cima, tomam pílulas anticoncepcionais. A associação do fumo com as pílulas anticoncepcionais aumenta o risco de ter acidentes coronarianos em mais de três vezes.
Na sua opinião, como a pandemia impactou no tratamento de outras doenças e na saúde das pessoas de um modo geral?
A pandemia levou à quarentena, que por sua vez fez as pessoas ficarem em pânico e trancadas em casa, sem atividade física, acarretando perda do tônus muscular, quedas, agravamento das obstruções coronarianas e quadros de infarto do miocárdio. A verdade é que pessoas de todas as idades foram atingidas por uma piora da qualidade de vida.
Qual a melhor forma de identificar a hipertensão arterial?
A medida da pressão arterial é de fácil verificação, porem é uma variável fisiológica e tem influência de muitos fatores. Se a pressão for medida após um um esforço físico ou psíquico, por exemplo, pode estar aumentada. O ideal é que a pressão seja tirada num ambiente tranquilo, com a pessoa sentada ou deitada, relaxada.
O que deve ser considerada a pressão ideal?
O número de referência para o público leigo é de máxima de 140 e a mínima abaixo de 90 mmHg. Existem pressões para se reduzir esses números para aumentar o uso de medicações anti-hipertensivas.
O brasileiro cuida mal do coração?
Não só no Brasil, mas também em todo o mundo. Há a tendência de se negligenciar as recomendações médicas.
Como o check up pode auxiliar na prevenção?
O check up é um ótimo aliado para minimizar problemas futuros, já que muitos pacientes são assintomáticos. Em um check up há a possibilidade de se avaliar ao mesmo tempo coração, cérebro e rim, órgãos diretamente impactados pela hipertensão arterial.
Para encerrar: quem é o maior inimigo do coração?
São vários. Sedentarismo, abuso de álcool e dieta com excesso de sal e gordura são grandes inimigos.