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Blog da atriz Fernanda Torres
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Gregório

 Domingos de Oliveira me pagou um grande elogio outro dia. Ele disse que a minha geração inventou um novo tipo de mulher, algo jamais visto nos 70 anos de vida dele: a cinquentona gostosérrima. Tenho 48, estou a caminho. Citei Dina Sfat, Norma Bengell e todas aquelas deusas da safra dele. Tentei argumentar, mas o […]

Por Daniela Pessoa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 fev 2017, 18h56 - Publicado em 4 out 2013, 22h20

 Domingos de Oliveira me pagou um grande elogio outro dia. Ele disse que a minha geração inventou um novo tipo de mulher, algo jamais visto nos 70 anos de vida dele: a cinquentona gostosérrima. Tenho 48, estou a caminho.

Citei Dina Sfat, Norma Bengell e todas aquelas deusas da safra dele. Tentei argumentar, mas o Domingos bateu o pé e garantiu que o fenômeno era recente. Aceitei o gabo sem concordar. Já cheguei à idade de querer ser reconhecida não pelo intelecto, mas pelas curvas.

A dieta balanceada, a falta de excessos, o pilates, a ioga, os cremes, os ácidos, o lifting e o laser, o arsenal de madame de que se pode dispor para adiar os efeitos devastadores do tempo, talvez expliquem a sobrevida das que nasceram na década de 60.

No seriado Tapas e Beijos, Andréa Beltrão e eu gozamos da companhia de dois atores dez anos mais jovens do que nós duas, os irresistíveis Vladimir Brichta e Fábio Assunção. Débora Bloch acaba de emplacar um par romântico com o vampiro de Gabriel Braga Nunes. Gabriel eu vi criança, na casa do pai dele, Celso Nunes, grande parceiro de teatro dos meus pais.

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Eu já estava satisfeita com a minha situação quando, em um comercial para a internet, me vi sentada em um sofá ao lado do Gregório Duvivier. Seríamos supostamente casados. Ri do par e perguntei, por curiosidade, o ano de seu nascimento. “Oitenta?”, arrisquei, já achando absurdo. “E seis”, ele respondeu. “Oitenta e seis.” Quando Gregório veio ao mundo, eu já estava na estrada havia 21 anos, estrelava Selva de Pedra e recebia a Palma de Ouro em Cannes.

O Gregório não tem idade, é difícil defini-la. Apesar do humor característico, neutro, sofisticado, ele é capaz de se adaptar aos mais diversos estilos, como o mais clássico dos atores. Eu me surpreendi ao vê-lo no musical Como Vencer na Vida sem Fazer Força, em que executava com rigor de Broadway sua rotina em cena, sem demonstrar suor ou afetação.

É muito raro divertir-se gravando comercial. Os roteiros são amarrados, deve-se enaltecer a funcionalidade do produto e o tamanho das falas raramente cabe nos segundos de exibição. Pois eu gostei de passar a tarde com o Gregório.

Compusemos cinco tipos, um casal de hippies, outro de mergulhadores, dois velhos, dois punks, duas crianças de escola, além de nós mesmos. O Gregório ficou com o pesado, coube a ele a explanação técnica e a mim, a mímica. No início do dia, vestido de septuagenário, avisou que não faria vozes. Não importava a fantasia, o tom era o mesmo, o que acentuava a comicidade da ação. Gregório é como Luiz Fernando Guimarães, um ator que sabe que não deve nunca dar 100%.

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No dia seguinte ao da gravação, recebi o link de uma propaganda que o Gregório fez para o livro do Paulo Leminski Vida, com as biografias de Cruz e Souza, Bashô (poeta japonês), Jesus e Trotsky. A peça é uma obra-prima sobre um divulgador que desconhece que o autor de Vida está morto há mais de vinte anos. Vale a pena conferir.

De quebra, o moço lança um livro de poesias pela Cia. das Letras até o fim do ano.

Enquanto você dormia peguei
Uma caneta e liguei os pontos
Sardentos das suas costas…

É que ele estudou no Lycée Français.

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