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Por Fabio Szwarcwald, colecionador de arte e gestor cultural
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Retrospectiva 2023 das artes visuais

A cena artística pulsou forte ao longo do ano, com excelentes exposições no eixo Rio-São Paulo. Faço aqui uma seleção das dez que mais me tocaram

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Atualizado em 22 dez 2023, 10h32 - Publicado em 22 dez 2023, 10h13

Esse foi um ano de retomada. A cena artística pulsou forte ao longo de 2023, com excelentes exposições apresentadas no eixo Rio-São Paulo. Entre as inúmeras que visitei, faço aqui uma retrospectiva com os destaques:

Em março, o Instituto Inhotim inaugurou a exposição Terceiro Ato: Sortilégio, título homônimo à primeira peça teatral escrita por Abdias Nascimento, em 1951, que marca o princípio de sua produção artística ligada às tradições​ ​afro-diaspóricas. A mostra abordou o período de exílio dele, entre 1968 e 1981, evidenciando a difusão da arte negra brasileira no exterior. Com mais de 180 obras de Abdias e de outros artistas como Mestre Didi, Rubem Valentim, Hélio Oiticica, Anna Bella Geiger e Anna Maiolino, a coletiva reuniu também documentos de pesquisa sobre o candomblé e os orixás. E incluiu, ainda, um núcleo dedicado a Exu, o orixá da comunicação, o “guardião dos caminhos”, presente em muitas obras de Abdias.

No mesmo mês, visitei O retrato do Brasil é preto, primeira individual institucional do artista carioca O Bastardo, montada no Museu de Arte do Rio. Com curadoria de Marcelo Campos e Lilia Schwarcz, a mostra reuniu as personagens negras, célebres ou anônimas, que compõem o repertório visual do artista de 25 anos, nascido na periferia do Rio. São retratos realizados com a técnica do grafite com forte carga cromática. A mostra, que integrou as celebrações de 10 anos do MAR, cumpriu a vocação do museu de identificar o potencial de novos artistas.

No final de abril, o MASP inaugurou uma das exposições mais aguardadas do ano: Paul Gauguin: o outro e eu. O pintor é considerado um dos mais importantes artistas modernos surgidos na França no século 19. Sua modernidade reside na negação de um estilo único na pintura e na diversidade de formas e elementos que utilizava, incorporando referências de imagens do “outro” fora do panorama cultural europeu. Com curadoria de Adriano Pedrosa, Fernando Oliva e Laura Cosendey, a exposição apresentou 40 obras, entre pinturas e gravuras, e discutiu a relação de Gauguin com a ideia de alteridade e da exotização do “outro”. A exposição integrou a programação anual do MASP dedicada às Histórias indígenas.

Em junho, o MAR apresentou Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros. Com mais de 400 itens — entre publicações, manuscritos e fotos, além de trabalhos de artistas que dialogam com a vida e a obra da escritora consagrada pelo livro “Quarto de despejo” (1960) — a mostra destacou as incursões de Carolina como compositora, cantora e artista circense. A historiadora Raquel Barreto, uma das curadoras da exposição realizada em parceria com o Instituto Moreira Salles, a definiu como uma “multiartista” que lutou por um Brasil mais justo.

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Também em junho, o CCBB abriu Heitor dos Prazeres é meu nome, retrospectiva espetacular em torno da vida e da obra do pintor autodidata, sambista, compositor e instrumentista.  Além das pinturas, a mostra exibiu instrumentos musicais, roupas e fotografias. Os trabalhos de Heitor refletem a realidade pós-escravagista da população negra: os fluxos migratórios de africanos, a mudança do campo para a cidade, a religiosidade, a repressão policial, a capoeira e o samba. O artista carioca desempenhou papel fundamental na fundação das primeiras escolas de samba do Rio: Mangueira, Portela e Estácio de Sá. Curadoria de Pablo León de la Barra, Raquel Barreto e Haroldo Costa.

Banksy, o provocador artista britânico, ganhou exposição com mais de 150 obras no Village Mall, aqui no Rio, em junho. The Art of Banksy: ‘Without Limits’ cumpriu temporadas bem-sucedidas ao redor do mundo e em São Paulo. Entre originais certificados, fotos, esculturas, murais e instalações de vídeo mapping feitas especialmente para esta edição, a mostra apresentou algumas das principais obras, como “Gangsta Rat”, “Flower Thrower” e “Ballon Girl”. Uma sala dedicada à Ucrânia, com as intervenções mais recentes realizadas em área bombardeada na guerra com a Rússia, completou a individual.

Em agosto, a Casa Roberto Marinho nos propôs um mergulho na obra de um dos nomes mais importantes da arte contemporânea brasileira. A mostra panorâmica Angelo Venosa, escultor ocupou toda a área expositiva do instituto no Cosme Velho, reunindo 85 trabalhos do início da década de 1970 às últimas obras realizadas em 2021. Sem obedecer a uma cronologia linear, o curador Paulo Venancio Filho selecionou esculturas suspensas, de parede ou de chão, provenientes de acervos institucionais e coleções particulares. Beleza de projeto!

No início de setembro, com curadoria de Jochen Volz, a Pinacoteca de São Paulo abriu a exposição Sonia Gomes: sinfonia das cores, que segue em exibição até 28 de janeiro. Trata-se de uma instalação inédita, que inclui 34 fios suspensos em várias alturas, compondo uma sinfonia de formas a ser apreciada por diferentes pontos de vista, a partir da movimentação pelo espaço. Para enriquecer a experiência, o violonista Plínio Fernandes performa o Prelúdio Nº 4 para violão, composto por Villa-Lobos. A produção da artista mineira se desenvolve a partir de tecidos, linhas e fios que se fundem a técnicas de tecelagem e a objetos de memórias: vestidos, cortinas ou toalhas que pessoas, conhecidas ou não, enviam para o seu ateliê.

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Franz Weissmann: ritmo e movimento ocupou a Casa França-Brasil a partir de setembro. A exposição ofereceu a oportunidade de contemplação de um conjunto de obras que ilustram diversos aspectos da trajetória do artista multifacetado que atuou como escultor, desenhista, pintor e professor que fundamentou as bases de um pensamento escultórico brasileiro. Com curadoria de Marcus de Lontra e Rafael Fortes Peixoto, a mostra explorou as íntimas relações entre as obras de Weissmann e a paisagem, através de diálogos de formas e cores no espaço.

O ano culminou com a 35ª Bienal de São Paulo, que apresentou mais de 1 mil obras de 121 artistas de diversas partes do mundo, com o tema “Coreografias do Impossível”. A curadoria coletiva de Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel se dedicou a pensar a relação com a linguagem, os modos como a linguagem artística é impactada pelo cotidiano e pelas mazelas sociais. Entre os artistas selecionados, Bispo do Rosário, Denilson Baniwa, Diego Araúja e Laís Machado, Ibrahim Mahama, Igshaan Adams, Rosana Paulino, Sonia Gomes, Rubem Valentim e Coletivo Mahku. Destaque para a instalação comissionada “Killing us softly… with their S.P.A.M.S.”, do multiartista filipino Kidlat Tahimik, com cerca de 300 metros quadrados e até 7 metros de altura. Impressionante, a obra ocupou o térreo do Pavilhão, transformado em espaço de experimentação aberto às danças do impossível. Foi bem bonito!

Que a efervescência artística e cultural se mantenha firme ao longo desse 2024 que nos espera. E que os museus e espaços culturais do país fomentem novos públicos.

Até a próxima coluna e pé direito na virada!

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