Radar ligado
Coluna indica sete artistas em ascensão pra você ficar de olho vivo ao longo de 2024
A abertura da 20ª edição da SP-Arte, na semana que vem (de 3 a 7 de abril), marca o início do circuito 2024 das feiras de arte no país. Flanar pelos estandes que ocupam o Pavilhão da Bienal é sempre boa oportunidade de pesquisar a cena e se informar sobre os artistas, obras e temáticas que mais se destacam.
Na coluna desse mês, reúno alguns nomes (em ordem alfabética) para ficarmos de olho ao longo desse ano. Selecionei artistas emergentes, com trajetórias mais recentes, e outros já consolidados no sistema. A diversidade de técnicas e linguagens que atravessam suas práticas e a relevância de suas pesquisas configuram um panorama atualizado dos rumos da arte contemporânea brasileira.
Ana Clara Tito
Ana Clara Tito (Bom Jardim/RJ, 1993) desenvolve sua prática artística a partir do corpo, seus estados emocionais e mentais, e as relações que estabelece com os espaços que habita. Revela em sua produção o interesse pelos campos da arqueologia e arquitetura, transformando materiais da construção civil em trabalhos escultóricos, instalativos e fotográficos. Matérias como destroços de concreto, cacos de barro e metais oxidados, são usadas no desenvolvimento de um universo que reflete sobre limites, tanto carnais quanto de paridade, propondo exercícios de permissão. Em 2021, foi a primeira artista apresentada pelo Supernova, programa de exposições individuais do MAM Rio, com a mostra “O que se degrada segue em frente”, curada por Beatriz Lemos. Graduada em Desenho Industrial pela UERJ, com parte dos estudos na York University, em Toronto, Canadá, Ana Clara realizou exposições individuais no Centro Cultural São Paulo, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, na Fundação de Artes de Niterói, na Galeria Cavalo, aqui no Rio, e no Auroras, em São Paulo. Participou das residências FAAP, Pivô e MAM Rio. É co-fundadora e integrante do movimento Nacional Trovoa.
Con Silva
Conceição Aparecida da Silva (Batatais/SP, 1966), conhecida como Con Silva, é uma artista autodidata há pouco mais de uma década. Desde então, já realizou exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. A relação com as artes plásticas se inicia a partir de episódios de ruptura e dor que marcaram a história pessoal da artista: as perdas do irmão e de seus pais. Desde então, a imersão na pintura tornou-se parte de um processo de sublimação e cura. Sincretismo religioso, o carnaval e outras de nossas tradições são temáticas recorrentes na produção de Con Silva, revelando sua intimidade com o vasto universo da cultura popular brasileira. Ela nos conta que seu primeiro suporte artístico foi uma colher de pau confeccionada pelo pai, para que a mãe mexesse os tachos de doce. Em seguida, ela pintou a moringa de água da mãe e depois as pedras que seu irmão ofertava aos orixás. Daí para as telas, foi um pulo. O universo imaginário de Con, que se autodefine como uma artista naïf, é retratado em cores vibrantes e pinceladas cheias de movimento, que preenchem toda a tela investindo sempre na riqueza do detalhe.
Érica Magalhães
Érica Magalhães (Muriaé/MG, 1983) vive e trabalha em São Paulo/SP. Elabora esculturas que discutem conceitos como ruína, colapso, corpo, arqueologia, subjetividade e gênero. De seu ateliê, saem criações que promovem acesso a um estado sensorial de estesia. Érica provoca um pinçamento das coisas ordinárias da vida e do mundo, pois no instante primeiro que o olho repousa sobre o trabalho algo é acionado com tal força que a sensação domina e embaralha os sentidos. É impossível sair incólume depois de ver um trabalho da artista. Suas esculturas são erguidas em estruturas arquitetônicas construídas com elementos divergentes na sua materialidade, como blocos de concreto armado suspensos por delicadas porcelanas que subvertam e tensionam a lógica do equilíbrio. Servindo de bases e prolongamentos das peças, vergalhões de ferro adensam a dramaticidade das suas obras. Érica atinge um grau de complexidade ao elaborar esculturas que convidam a pensar nas fragilidades que marcam a construção de subjetividades dissidentes em um mundo pouco hábil em tolerar as diferenças.
Iah Bahia
Iah Bahia (São Gonçalo/RJ, 1993) vive e trabalha no Rio. Iniciou sua formação em cursos livres na Escola de Artes Spectaculu e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. É graduada em Escultura na Escola de Belas Artes da UFRJ. Participou da residência formativa Elã, no Galpão Bela Maré, e do programa de residência do MAM Rio. Conduz uma rica investigação de materialidades em sua expressão artística. Desenvolve sua prática-pesquisa a partir de observações e experimentações interdisciplinares relacionais com a matéria-tecido, matéria-lixo, matéria-papel e outros elementos transitórios, com os quais cria esculturas que ultrapassam o tangível. Sua abordagem escultórica preenche o espaço com uma ligação entre pontos e linhas abstratas, delineando silhuetas e demarcando lugares. Destacam-se, nos seus gestos, as tensões do espaço habitado a partir de proposições imaginativas e processuais da sua relação com essas matérias, convocando o rearranjo das matrizes polinizadoras em poéticas.
Joelington Rios
Joelington Rios (Turiaçu/MA, 1997) vive e trabalha entre o Maranhão e o Rio de Janeiro. Nascido no quilombo Jamary dos Pretos, em Turiaçu, estudou na Escola sem Sitio e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Combina diferentes técnicas e práticas artísticas que misturam fotografia, videoarte, performance, arte sonora, escultura e instalação. Sua pesquisa tem como objetivo revelar outras corporalidades, ressignificar memórias e elaborar outras formas de existência. Na sua produção, destaca-se a série “O que sustenta o Rio”, que surge da montagem de fotografias em que o artista encaixa o topo da cabeça de personagens anônimos a ícones da paisagem carioca. Sobre a mesma, o crítico Paulo Herkenhoff escreveu, em 2019: “Por fotomontagem em preto e branco, Rios sobrepõe e ajusta graficamente a imagem do Redentor à cabeça de pessoas retratadas em situações ordinárias, como emblema de pertencimento à cidade do amor e das fricções. Para Joelington Rios, viver o Rio foi a experiência radical de descoberta transformadora de seu olhar sobre o centro, os subúrbios, as favelas, as praias como contrastes, asperezas, embates, exclusão. Para o dito ‘fotógrafo quilombola’ o Rio ideal, a Cidade Maravilhosa, colide com a crise estrutural de grandes segmentos da população, o apartheid social gritante, a vida nua, a realidade frictiva da marginalidade social.”
Renan Teles
Renan Teles (São Paulo/SP, 1986), é artista visual afro-indígena e vive em São Paulo. Apesar da multidisciplinaridade, seu trabalho tem a fotografia como ponto de partida. Suas obras convergem em questões identitárias sobre periferia, negritude, afrofuturismo e sua ascendência Xacriabá; sexualidade, erotismo e masculinidade. Atualmente tem criado retratos em cenas monumentais de membros de sua família. Elabora também séries que se debruçam sobre a masculinidade preta, imagens afrofuturistas, e fotografias que misturam realidade e ficção em territórios periféricos. A partir dessa investigação singular da imagem e da representação de pessoas pretas, o artista transita entre diferentes linguagens nas suas pinturas robustas e vibrantes, e nos retratos dos moradores do condomínio Esmeralda, no bairro de Itaquera (SP). Ao estudar e experimentar a criação de imagens narrativas, explora a fotografia fragmentada enquanto possibilidade de amplificação relacional e reflete sobre a falsa neutralidade da imagem digital com vista às mediações pelas quais é atravessada.
Siwaju Lima
Siwaju Lima (São Paulo/SP, 1997) vive e trabalha no Rio, capital. Graduanda em Artes Visuais pela UERJ, é também artista da Escola Livre de Artes do Galpão Bela Maré e do ateliê de escultura da EAV Parque Lage, onde participou do programa Formação e Deformação. Sua produção se baseia em esculturas de ferro realizadas com materiais doados ou encontrados (com maior interesse por discos cortantes, correntes, pregos, brocas, cantoneiras e metalon), em que ela incita processos de oxidação. A incorporação das transformações nos elementos, bem como a implicação entre as vibrações corporais durante o ato de esculpir e fundir, colocam o tempo e a memória como centralidades importantes em sua prática. “Entendo minhas esculturas como dispositivos mnemônicos capazes de instaurar novos locais de memória e criar uma rede de ideias em disputa com a realidade. Meu ponto de partida se dá através de uma ação prática, mas só é possível por uma série de agenciamentos, caminhos e energias que confluem nesse encontro. Alimentada pela ideia de não reprodução da violência implicada no todo, mobilizo minhas investigações tensionando a memória e angulações materiais, de forma a sugerir, através desses objetos, outras narrativas pautadas por noções de história social e território”, afirma a artista.