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Por Fabio Szwarcwald, colecionador de arte e gestor cultural
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Arte nas Estações

Projeto itinerante chama atenção para a importância da permanência do acervo do Museu Internacional de Arte Naïf em solo brasileiro

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Atualizado em 30 jan 2023, 13h06 - Publicado em 30 jan 2023, 10h34

Nesse mês de janeiro, assistimos perplexos aos atos terroristas em Brasília que, além do ataque intolerável à democracia, deixaram um rastro sem precedentes de destruição do patrimônio público. Que a punição seja inegociável e severa, porque os prejuízos materiais e simbólicos são incalculáveis.

Esse episódio nos leva a uma reflexão urgente no Brasil: a valorização de nosso patrimônio artístico e cultural, sua preservação e conservação.

O Museu Internacional de Arte Naïf (Mian), que abrigou no Rio a maior coleção de artistas autodidatas do mundo, fechou as portas em dezembro de 2016 por falta de apoio e patrocínio. Desde então, a museóloga Jaqueline Finkelstein busca locais que possam receber o acervo.

“A coleção foi formada por meu pai, o francês radicado no Rio, Lucien Finkelstein (1931-2008), que percorreu o mundo em busca de pintores do gênero. Quando as obras já não cabiam dentro de casa, ele decidiu retribuir à cidade do Rio de Janeiro, que tão bem o acolheu quando aqui desembarcou vindo de Paris aos 16 anos, e criou a Fundação Lucien Finkelstein, em 1985. Após comprar o belo casarão tombado no Cosme Velho (que em outros tempos serviu de ateliê para o pintor Eliseu Visconti), inaugurou o MIAN em 1995, com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura. Aberto ao público, o museu realizou mostras na sede, bem como em diversas cidades e fora do país”, relembra Jaqueline.

O acervo composto por cerca de 6 mil peças, reúne obras de artistas de quase todos os estados brasileiros e de aproximadamente cem outros países, num arco temporal que vai do século 15 aos dias de hoje. “Permitia que realizássemos até cinco exposições simultâneas”, comenta a filha do colecionador.

Como destaque da coleção, Jaqueline aponta um painel de 25m de comprimento, encomendado por Lucien a Aparecida Azêdo, que reinterpreta os fatos históricos e econômicos mais relevantes do Brasil. Atualmente, a pintura está em exibição no Museu Histórico Nacional, no centro do Rio.

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Entre os artistas, Jaqueline cita o mineiro descoberto por Lucien, Odeteres Ricardo de Ozias, que pintou sobre a escravidão, as religiões afro, as festas folclóricas, a fauna e a flora brasileiras, descrevendo de forma pictórica nossa cultura e nossa história.

“O desinteresse e a falta de apoio aqui me fizeram buscar no exterior organizações e empresas que valorizam e querem esse patrimônio em exibição nos seus museus”, lamenta ela, que já recebeu ofertas de países do Leste Europeu e dos EUA. “Será um grande prejuízo cultural ao País, em especial ao Rio de Janeiro, deixar essa coleção aportar no estrangeiro”, avalia a museóloga.

Em 2019, enquanto eu dirigia a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, realizamos a exposição-manifesto Arte Naïf – Nenhum museu a menos, curada por Ulisses Carrilho. Reunindo mais de 300 obras da coleção Finkenlstein, a mostra marcou a posição da EAV em favor da manutenção das instituições culturais brasileiras e chamou a atenção para a relevância desse acervo.

Quatro anos mais tarde, diante da iminência de efetivamente perdermos esse patrimônio para países que reconhecem a sua qualidade, realizamos mais um projeto que busca sensibilizar autoridades, colecionadores e a iniciativa privada acerca da importância deste conjunto para o Brasil.

O Arte nas Estações será inaugurado nos dias 2, 3 e 4 de fevereiro, com a abertura de três exposições temáticas a serem realizadas simultaneamente em três cidades mineiras, onde faremos a edição piloto: Ouro Preto, Congonhas e Conselheiro Lafaiete. A ideia é posteriormente seguir para outros estados, como Espírito Santo e Bahia.

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Com patrocínio do Instituto Cultural Vale e realização da RKFCom, o Arte nas Estações tem curadoria assinada por Ulisses Carrilho. A iniciativa levará cerca de 270 obras do acervo do Mian para espaços fora do eixo Rio-São Paulo, com o objetivo de disseminar sua potência e atrair patrocinadores ou colecionadores dispostos a comprá-lo e a doá-lo a uma instituição carioca (muito provavelmente o Museu do Pontal, na Barra da Tijuca, zona oeste).

Essas exposições podem ser o último suspiro de uma movimentação importante para trazer luz à situação da venda da coleção naïf.

Pedro Mastrobuono, ex-presidente do IBRAM e sócio fundador do Instituto Alfredo Volpi de Arte Moderna, afirma que “a sensibilidade do joalheiro francês Lucien Finkelstein é internacionalmente reconhecida. Sua vasta coleção converteu-se em grife que agrega valor a obras já cobiçadas por suas próprias qualidades. A seleção reveste-se de um corte curatorial competente e apurado. Seria necessário um alto grau de miopia para não ver a relevância desse acervo e, aí sim ingenuamente, deixá-lo ser pulverizado para alegria e lucro das casas de leilão mundo afora”.

“É fundamental que seja preservado e apresentado ao público. O projeto me parece inteligente e factível; e a parceria com o Museu do Pontal, que foi recentemente reformado e ampliado, o fortalece muito. Torço para que se realize ainda em 2023”, defende Sergio Sá Leitão, ex-ministro da Cultura e ex-secretário de Cultura do Estado de São Paulo.

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