Volta às aulas: pais devem prestar atenção no comportamento dos filhos
Mais do que provas e notas, pais e responsáveis precisam estar atentos também em como o filho se comporta entre os colegas na escola

Fevereiro é o mês que marca a volta das crianças e adolescentes às escolas. É a época da costumeira excitação de reencontrar os amigos, de compartilhar as experiências das férias e de descobrir novos conteúdos. Trata-se do momento ideal de incutir no pensamento dos pequenos que as escolhas que fizerem neste momento se refletirão ao final do ano: quem se dedicar e estudar agora, terá férias mais cedo quando dezembro chegar.
Se o começo de um ano letivo é cheio de lições e desafios para os filhos, também é uma grande oportunidade para os pais estarem mais perto deles. Apoiar e cobrar, na medida certa, garante o transcorrer de um ano mais tranquilo, além de viabilizar um contato intenso e honesto com os filhos.
O que os pais precisam entender é qual o papel das escolas na formação dos filhos. Claro que elas são balizadores, peças-chaves na educação das crianças. Porém, a responsabilidade das instituições de ensino vai até certo ponto. De um modo geral, as crianças passam muito mais tempo em casa do que na escola. Elas reproduzem em sala de aula o comportamento que presenciam e aprendem em casa.
Soube que houve uma grande comoção em um colégio do Rio de Janeiro diante de expressões machistas, homofóbicas e racistas de um jovem em um grupo de WhatsApp da turma. O próprio grupo de amigos, todos da mesma idade, tratou de repreender a postura do rapaz, claramente em discordância com a maioria do grupo. Ele não aceitou a reprimenda e insistiu no comportamento inadequado.
Fica a pergunta: onde esse menino aprendeu esse comportamento? Sim, sempre se pode alegar que ele tenha contato com conteúdos do gênero na internet ou no YouTube. Devolvo a pergunta: não cabe aos pais terem controle sobre o que os filhos consomem em uma rede sem filtro? É claro que sim!
É importante ressaltar que as novas gerações têm outras noções de valores. Pautas essenciais para a sociedade, como racismo e gênero já são plenamente aceitas e incorporadas à realidade deles. A máxima “a geração que sucede é melhor que a que passou” se confirma. Eles estão atentos e preocupados com as questões ambientais, raciais e de inclusão de gênero e orientação sexual. E é justamente por isso que quando alguém se comporta em discordância do grupo, destoa dos demais.
Portanto, antes que se culpe a escola, é preciso refletir seriamente a respeito do tipo de informação e influência que as crianças e jovens estão recebendo em casa. A escola é mais um – sim, fundamental, mas apenas mais um – agente na jornada de formação moral e ética de uma criança. A responsabilidade, porém, ainda é – e arrisco dizer que sempre será – dos pais.
Cabe a eles se esforçarem para entender quem é e como se comporta o seu filho em sociedade. O início de um ano letivo é um excelente convite para essa prática cidadã.
Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na pós-graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).