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Psiquiatra infantil
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Simone Biles: o que é o transtorno mental da medalhista olímpica?

Diferentes práticas esportivas oferecem lições educativas para adolescentes e crianças

Por Fabio Barbirato
9 ago 2024, 13h44
Foto de Simone Biles
Simone Biles: ginasta ajuda a quebrar preconceitos contra transtorno mental. (Freepik/Reprodução)
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Uma das maiores atletas do mundo, a ginasta Simone Biles veio a público comunicar que sofre de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). A informação é de fundamental importância porque ajuda a diminuir preconceitos e trazer uma nova visão para os transtornos mentais. “Tenho TDAH e não é vergonha me medicar para isso, não temo que as pessoas saibam. Eu tenho TDAH desde que era criança”, afirmou a medalhista americana, comprovando, mais uma vez, o quanto o transtorno não necessariamente prejudica a funcionalidade do paciente, inclusive para atividades de alta performance.

Entre os principais sinais de TDAH está a desatenção, distrair-se facilmente, parecer não escutar, ter dificuldade em se organizar e seguir instruções, perder objetos, esquecer atividades diárias com frequência. Outro sinal do TDAH é a hiperatividade/ impulsividade, ou seja: agitar mãos e pés e mexer-se na cadeira, dificuldade de ficar em silêncio, falar demais, inquietação, sentir-se sempre muito ocupado ou elétrico, dificuldade para aguardar a vez, por exemplo.

O TDAH não cursa com graves dificuldades escolares. Quando este sintoma também é aparente, precisa necessariamente avaliar outra patologia. E muitos jovens ansiosos podem apresentar todos os sintomas de TDAH, mas, no entanto, tais sintomas não serem causados por esta patologia, mas sim pela ansiedade – o tratamento para TDAH pode piorar e muito o quadro de ansiedade. Este é um dos diagnósticos diferenciais mais importantes.

A prevalência do transtorno é de 2 a 4% de adolescentes entre 12 e 14 anos e de 3 a 7% de todas as crianças em idade escolar. O número maior de casos acontece entre pessoas do sexo masculino: média de dois meninos para uma menina. Entre os adultos, a prevalência chega a 4%.

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Testes neuropsicológicos são úteis para avaliar déficits específicos, mas não servem para diagnóstico, a ponto de serem realizados rotineiramente. Apesar dos estudos sobre o tema, ainda não há dados suficientes que indiquem a utilidade de exames de neuroimagem como ferramentas clínicas, embora tais exames sejam promissores em termos de pesquisa. O eletroencefalograma (EEG), por exemplo, não é necessário para o diagnóstico de TDAH, embora tenha utilidade em casos de diagnósticos diferenciais específicos.

Dentre muitas coisas equivocadas que se diz para justificar o TDAH estão razões alimentares (aditivos, alergias, açúcar, leite), excesso de cafeína, ausência dos pais, estresse familiar, lar caótico, televisão e/ou videogame em excesso, bem como transtornos mentais como depressão, ansiedade e transtornos de estresse pós-traumático ou de aprendizagem. É importante repetir que estes pontos não fazem qualquer sentido ou tem respaldo científico.

Portanto, é fundamental estar atento ao que não tem evidência científica quanto a eficiência como tratamento: acupuntura, meditação, homeopatia, exercícios físicos, hypericum perforatum, musicoterapia, Florais de Bach, dietas alimentares restritivas. Não há aqui qualquer juízo de valor quanto a estes procedimentos. Eles podem ser úteis para outras questões, mas não se aplicam no tratamento do TDAH.

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Novidades no tratamento surgem a todo tempo, como as substâncias atomoxetina, liberada pela Anvisa desde 2023, e viloxezina, já à venda no mercado americano e recém-aprovada para tratamento de TDAH, com previsão de chegada ao mercado brasileiro em 2025. Outra novidade que chega no segundo semestre é a lisodextroanfetamina em gotas, que facilitará para titular a dose mais devagar, evitando muitos dos efeitos adversos desta substância e potencializando o tratamento mais personalizado dos pacientes, com doses específicas para cada um. Já os estudos com centanafadina indicaram bons resultados e devem seguir no mesmo caminho.

Cada paciente demanda um tipo de tratamento, de acordo com o seu diagnóstico. Alguns podem requerer apenas tratamento terapêutico comportamental, outros exigem combinação com medicamentos – e mesmo entre esses, oscila muito a dosagem necessária. É fundamental procurar um médico especializado para fechar diagnóstico e, se confirmado o TDAH, fazer acompanhamento do caso.

Fabio Barbirato é médico psiquiatra pela UFRJ, membro da Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência e responsável pelo setor de Psiquiatria Infantil da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na PUC-Rio. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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